Criador do Meteoro Brasil, um dos canais progressistas mais populares no YouTube, o jornalista paranaense Álvaro Borba critica a sociedade, a política e a mídia por tratar como “pauta de costumes” o pânico moral de matriz fascista proposto pelo bolsonarismo como estratégia para desgastar mentalmente qualquer um que lhe faça oposição.
“O único objetivo é meter medo em todo mundo e controlar as pessoas a partir desse medo”, afirmou ele no programa SUB40 desta quinta-feira (13/10), com o diretor de redação de Opera Mundi, Haroldo Ceravolo Sereza.
Para Borba, um dos pilares do fascismo é a “destruição da realidade”, na qual, segundo ele, “não se sabe o que é real, o que é fake news, por que aquela fake news foi colocada na mesa hoje”. O jornalista exemplifica a criação de pânico moral com falas recentes da ex-ministra bolsonarista Damares Alves sobre abuso sexual infantil.
“É uma senadora eleita contando uma mentira hedionda surgida dos cantos mais abjetos da internet, em público, para uma plateia onde estavam crianças. É o uso deliberado de uma das piores experiências que um ser humano pode ter ao chegar nesta Terra, o abuso infantil”, denuncia a exploração do trauma com propósitos eleitoreiros.
Borba aponta que o episódio “não é de hoje”, mas sim “uma instrumentalização dessa dor profunda que não cicatriza nunca” e que esse núcleo ultradireitista “está brincando com isso, ninguém está nem aí com as criancinhas”. “Gente decente precisa se apropriar dessa pauta, que está na mão de gente muito perversa”, disse.
Borba cogita uma forma de começar a desmontar o ideário fascista, o que soa como mais uma advertência: “um bom começo é parar de chamar de pauta de costumes. Não tem pauta, objetivo ou ideia nisso, tem pânico em cima da moralidade. Precisamos popularizar essa expressão”.
Reprodução
Criador do Meteoro Brasil disse que objetivo bolsonarista é ‘meter medo em todo mundo’
A crítica se estende aos medalhões do jornalismo que apelidam práticas fascistas de pauta de costumes: “é muito importante chamar as coisas pelos nomes que elas têm, e não pelos nomes que elas não tem. Primeiro a gente abre um buraco na linguagem, e depois isso se transporta para o campo das ações”.
No cargo de âncora da Rádio CBN de Curitiba, em 2013, Borba se demitiu porque denunciou casos de assédio sexual contra funcionárias por parte do comentarista e ex-deputado federal Airton Cordeiro e o veículo tentou abafar.
Boicotado na mídia local a partir daí, o jornalista integrou o departamento de internet e mídias sociais na gestão do prefeito curitibano Gustavo Fruet (PDT), de onde popularizou com humor a figura da capivara como símbolo da cidade. Em 2017, a princípio anonimamente, criou o canal de cultura pop e política Meteoro Brasil com sua companheira, Ana Lesnovski.
Ataques ao bolsonarismo
Em sua opinião, existe legitimidade em denúncias como aquela que aponta a atração de Jair Bolsonaro pelo canibalismo, já que, para o jornalista, o presidente “fala aquilo propagando virilidade”.
“Demonstrando essa história, você demonstra a crueldade desse hipermasculino, muito visível para qualquer um que tenha um coração batendo dentro do peito. Não me sinto moralmente agredido em disparar isso num grupo de igreja. Foi dito”, afirmou.
De parentesco evidente com o negacionismo do presidente em exercício frente à pandemia, tal negação funciona como uma prisão, que Borba compara à defesa interna feita por alguém que comprou um carro velho para justificar a má escolha: “enquanto não aceito isso, não consigo me livrar do meu problema. Muitas pessoas vivem na situação de ter que negar a escolha que fizeram para não admitir o erro. A humildade é uma virtude muito rara”.