“O Mercosul não existe”. Lino Oviedo não demonstra preocupação com a reação dos vizinhos ao golpe parlamentar que derrubou Fernando Lugo da Presidência do Paraguai. Para ex-comandante das Forças Armadas e pré-candidato a presidente, a importância do bloco regional para o Paraguai é mínima. Apesar de afirmar que poderia mediar as negociações entre o Brasil e o Paraguai, Oviedo acredita que, no caso de uma ruptura nas relações comerciais, quem perderia não seria seu país.
“[A presidente Dilma Rousseff] jamais vai fazer isso”, disse Oviedo ao Opera Mundi no último sábado (23/06), sobre a suspensão do Paraguai no Mercosul, que viria a ser confirmada no dia seguinte. Segundo ele, há muitas razões pelas quais o Brasil seria mais prejudicado no caso de mudanças na relação bilateral, entre elas os cerca de 500 mil eleitores brasileiros que residem no Paraguai.
Luciana TaddeoOviedo: “Nem mil, nem 100 mil Dilmas podem levar o Paraguai para a Suíça e trazer Suíça para cá. Seremos sempre vizinhos”
Por outro lado, o alto consumo brasileiro de produtos agropecuários do país vizinho. “O que a Perdigão vai dizer? A Sadia? Vão deixar que [os produtos] vão para a China? O que acontecerá com o Porto de Paranaguá? Nós temos nossos rios para desembocar nossa produção”, citou, mencionando também possíveis dificuldades financeiras e temporais para o acesso brasileiro ao oceano Pacífico para exportar à Ásia.
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Acusado de tramar um golpe de Estado em 1996, contra o então presidente paraguiaio Juan Carlos Wasmosy, Oviedo fugiu para o Brasil, onde passou quatro anos exilado. De volta ao Paraguai, fundou uma nova legenda a partir de uma dissidência do conservador Partido Colorado. Seu sobrinho homônimo foi um dos 39 senadores que votaram pela cassação de Fernando Lugo. Hoje, Oviedo mantém um tom de desafio contra a líder do país que o abrigou.
“Seremos sempre vizinhos. Nem mil, nem cem mil Dilmas podem levar o Paraguai para a Suíça e trazer Suíça para cá. Nascemos vizinhos, crescemos vizinhos e acho que vamos morrer como vizinhos”, diz o ex-general. “E como fica Itaipu? Estamos unidos”, menciona, sobre a hidrelétrica binacional localizada na fronteira entre os países.
Mercosul
Para Oviedo, o Mercosul “não deu certo” para o Paraguai: “Perdemos no Mercosul. Se nos liberamos do bloco, podemos negociar com qualquer país do mundo. Por que o Chile não entra no Mercosul? Porque não quer ficar com os pés e as mãos amarrados. E pergunto se Chile não é um dos países que melhor estão?”, questionou.
Quanto à suspensão do envio de petróleo venezuelano ao país, anunciada pelo presidente Hugo Chávez neste domingo (24/06), Oviedo não demonstrou preocupação e disse que o país “não quer” o insumo deste país: “É o pior combustível e num preço muito alto”, afirmou, mencionando a possibilidade de estabelecer negociações com países do Oriente Médio para suprir o fornecimento do produto venezuelano, que representa 40% do consumo paraguaio.
Oviedo contestou as afirmações de que o presidente deposto Fernando Lugo tenha iniciado uma reforma agrária no país. “Pelo contrário”, disse, “ele gerou uma xenofobia de agricultores contra brasiguaios, com ocupação de terras, enfrentamentos”.
O julgamento político do ex-bispo teve início após um confronto entre policiais e camponeses, que resultou em 17 mortes. Segundo ex-general, a tensão se deve às promessas não cumpridas de devolução de terras. “Ele mentiu aos camponeses, que mal sabem ler e escrever e têm uma capacidade intelectual ínfima, para ganhar votos”, provocou.
Oviedo, que disse ter sido o primeiro político a reconhecer o triunfo de Lugo nas últimas eleições presidenciais e de tê-lo assessorado de fora do palácio, alegou ter mudado de opinião em relação ao presidente deposto: “[Federico] Franco é mais legítimo que Lugo”, afirmou, sobre o vice-presidente que tomou posse após a destituição sentenciada na última sexta-feira (22/06) pelo parlamento paraguaio.
Entre as críticas a Lugo, o ex-general mencionou os rumores de que o ex-bispo tenha 17 filhos. “Aqui as pessoas acreditam muito no bispo. Essa era a primeira promessa”, disse, complementando que a população “acreditava que um bispo não seria corrupto”.
Obsessão com a Presidência
Após períodos de prisão e exílio por acusações de liderar tentativas de golpe de Estado, de assassinar o vice-presidente Luis María Argaña, em março de 1999, e de massacrar civis, Oviedo não esconde sua determinação em chegar ao Palácio [presidencial] de los López. Ele chegou a ganhar as eleições em 1998, mas depois foi condenado pela Suprema Corte e fugiu para o Brasil. Em seu cartão de visitas, o cargo aspirado é o que figura abaixo de seu nome e a música “se sente, se sente, Lino presidente” é o ringtone de seu celular.
Quando questionado sobre as expectativas de que seja eleito no pleito de abril de 2013, o ex-general expressou: “Se Deus e o povo me permitirem, sim. Já ganhei e a oligarquia corrupta não me permitiu assumir. Aqui é comum, quem ganha, perde, quem perde, ganha”.