No auge da “guerra suja” em Buenos Aires, em 1976, o artista conceitual León Ferrari (1920-2013) fugiu da Argentina e foi para o Brasil, que também estava sob um governo autoritário. A experiência de 15 anos de exílio lhe proporcionou inspiração para uma série de obras críticas, compiladas na mostra “Entre Ditaduras”, que estreia nesta sexta-feira (23/10) no Masp, no centro de São Paulo.
Divulgação/Acervo Masp
León Ferrari, 'Autopista del Sur', 1981, matriz para heliografia, 107,3 x 101,5 cm
“A gente reforça a ideia que o Ferrari trocou seis por meia dúzia”, brinca o curador da exposição, o brasileiro Tomás Toledo, em entrevista a Opera Mundi. “Por isso que, nesse sentido, o trabalho que ele fez no seu exílio não perdeu conexão com o contexto político da Argentina e do resto da América do Sul”, comenta.
“Nós estamos conscientes do fato de que ele fugiu de uma ditadura e caiu em outra. Não dá pra dizer que exílio no Brasil era liberdade, né? Mas era um momento de contestar o auge da ditadura na América Latina”, acrescenta a curadora-adjunta da mostra, a venezuelana Julieta González, em entrevista por telefone.
A exibição reúne mais de noventa obras que foram doadas pelo próprio artista ao acervo do Masp, em 1991, e as compila de forma inédita no museu. De todo o repertório — que inclui impressões em xerox, gravuras, desenhos, além de duas pinturas e uma escultura — apenas duas foram produzidas antes de sua vinda a São Paulo.
Divulgação/Acervo Masp
León Ferrari, Projeto, 1981, matriz para heliografia, 77,1 x 77,6 cm
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Na exposição, os trabalhos de León Ferrari partem de uma dicotomia crítica entre os governos autoritários e o papel da igreja durante o período.
“A ideia da seleção de obras partiu da nossa vontade de mostrar as obras de Ferrari pelo exilio em SP. Esse recorte acabou gerando dois grandes núcleos: um focado na crítica à Igreja e outro que problematiza os regimes ditatoriais latino-americanos”, explica Toledo.
Contudo, para González, essa crítica é manifestada de forma sutil, metafórica e simbólica. Nesse sentido, a linguagem arquitetônica é uma das principais aliadas de Ferrari, que chegou a ter um filho assassinado na ditadura argentina.
“Ele faz uso de desenhos para mostrar a regulação do espaço política da vida dos homens. A arquitetura é um espaço para a crítica da repressão que jamais é literal. Não é uma referência geral aos regimes ditatoriais, mas é uma crítica à biopolítica”, argumenta a venezuelana.
Serviço
Mostra ‘León Ferrari: Entre ditaduras’
Data: 23 de outubro de 2015 a 21 de fevereiro de 2016
Endereço: Masp – Avenida Paulista, 1578, São Paulo, SP
Horários: terça a domingo: das 10h às 18h; quinta, das 10h às 20h
Telefone: (11) 3149-5959
Ingressos: R$25,00 (entrada); R$12,00 (meia-entrada); grátis às terças