“Está fazendo agora um século que o heroismo farroupilha escreveu nas cochilas (sic) do sul, a epopeia refulgente do seu incomparável denodo, em um decênio de lutas tremendas em que os anseios de liberdade de um povo não mediam sacrifícios, nem poupavam abnegações”, enfatizou o Jornal do Brasil em editorial de 20 de setembro de 1935, cem anos depois do início da Guerra dos Farrapos – também conhecida como Revolução Farroupilha.
Deflagrada nos campos do sul, a Revolução Farroupilha foi uma guerra regional travada pela província de São Pedro do Rio Grande contra o governo imperial brasileiro. Maior embate civil já travado no país, traduziu-se em uma das páginas mais dramáticas da história do Brasil.
A frágil situação econômica da região com a desvalorização do charque nacional, a condição desprestigiada dos militares gaúchos diante das forças imperiais, o desejo de liberdade e democracia aguçado pela disseminação de ideais separatistas inspirados na Guerra Cisplatina foram alguns dos aspectos que, reunidos, motivaram o levante.
A carta que Bento Gonçalves escreveu ao Regente do Império, Diogo Feijó, dá detalhes sobre o episódio da tomada de Porto Alegre e sobre a deposição do governador da província, Fernandes Braga, no dia 20 de setembro de 1835:
“Senhor. Em nome do povo do Rio Grande, depus o governador Braga e entreguei o governo ao seu substituto legal, Marciano Ribeiro. E, em nome do Rio Grande, eu lhe digo que, nesta província extrema, afastada dos corrilhos e conveniências da Corte, dos rapapés e salamaleques, não toleramos imposições humilhantes, nem insultos de qualquer espécie. O pampeiro destas paragens tempera o sangue riograndense de modo diferente de certa gente que por aí.
“Nós, riograndenses, preferimos a morte, no campo áspero da batalha, às humilhações nas saias blandiciosas do Paço do Rio de Janeiro. O Rio Grande é a sentinela do Brasil, que olha vigilante para o Rio da Prata. Merece, pois, mais consideração e respeito. Não pode nem deve ser oprimido por déspotas de fancaria.
“Exigimos que o governo imperial nos dê um governador de nossa confiança, que olhe pelos nossos interesses, pelo nosso progresso, pela nossa dignidade, ou nos separaremos do centro e, com a espada na mão, saberemos morrer com honra ou viver com liberdade.
“É preciso que V.S. saiba, Sr. Regente, que é obra difícil, senão impossível, escravizar o Rio Grande, impondo-lhe governadores despóticos e tirânicos. Em nome do Rio Grande, como brasileiro, eu lhe digo, Sr. Regente, reflita bem, antes de responder, porque da sua resposta depende talvez o sossego do Brasil. Dela resultará a satisfação dos justos desejos de um punhado de brasileiros que defendeu, contra a verocidade espanhola, uma nesga fecunda da pátria, e dela também poderá resultar uma província ou a formação de um Estado novo dentro do Brasil”.
Embora Araujo Ribeiro tenha sido nomeado por Diogo Feijó, em resposta à solicitação de Bento Gonçalves, a revolução se estendeu por dez anos, período em que o Rio Grande manteve-se uma república independente do país, até que as condições dos rebeldes fossem aceitas na chamada Ata de Pacificação, assinada em 25 de fevereiro de 1845.
Assim, o Rio Grande do Sul voltou a fazer parte do Brasil.
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