O atirador que matou três crianças e um rabino em uma escola judaica na cidade de Toulouse (sudoeste da França) pode ter sido inspirado, em parte, pelo manifesto publicado pelo terrorista Anders Behring Breivik que, em julho de 2011, realizou dois atentados que culminaram na morte de 77 pessoas na Noruega.
O Ministério do Interior francês, que encabeça as investigações, tem fortes suspeitas de que o autor do ataque teria filmado a matança com uma pequena câmera presa ao seu pescoço, de acordo com vídeos de segurança da escola.
“Isso adiciona um outro elemento ao perfil do assassino. É alguém que cruel o suficiente para gravar”, disse o ministro do Interior, Claude Guéant, em uma escola primária na cidade. “Mostra um perfil do assassino como alguém que é muito frio, muito determinado, com gestos precisos e, portanto, muito cruel. Temo que ele realize outros ataques”, acrescentou o ministro.
A ideia, no entanto, já havia sido sugerida por Breivik em seu manifesto “2083 – Uma Declaração Europeia de Independência”, divulgada na internet pouco antes das explosões em Oslo e do massacre na ilha de Utoeya.
Nele, o fundamentalista cristão e ultradireitista incitava seus admiradores ao uso da violência como única alternativa possível para atingir sua visão de mundo. O compêndio de mais de 1.500 páginas os conclama a atacar e matar alvos políticos, de preferência, em ações chocantes, que busquem chamar atenção.
Em um dos trechos, Breivik aconselha qualquer um que pretenda copiar seus atos a filmá-los usando artefatos portáteis com lentes grande angulares e boa profundidade de campo, que permitem um bom foco. “Essa pequena e leve câmera pode ser usada para documentar sua operação (…) Quatro gigabytes equivalem a duas horas de filmagem contínua. Eu as testei pessoalmente e funcionaram muito bem”, afirma o terrorista em um trecho. “Alguns governos poderão se aproveitar das imagens (após você ser neutralizado) e divulgá-lo. Enquanto outros poderão queimá-lo ou destruí-lo para proteger a cultura do multiculturalismo”, complementou.
Breivik também mostrava,com riqueza de detalhes, maneiras de se fundar milícias e elaborar táticas de guerrilha, operações de sabotagem, ações clandestinas e golpes. Ele propõe essas ações contra governos e pessoas que, direta ou indiretamente, apoiem o que ele chama de “aliança cultural entre o Islã e o marxismo/multiculturalismo”. Mais especificamente, quem facilite ou acredite na convivência pacífica e tolerante entre europeus ocidentais brancos e cristãos com muçulmanos em solo europeu.
Em seu texto, no entanto, Breivik defende a existência do povo judeu e a criação do Estado de Israel – desde que concentrados, em sua maioria, na região da Palestina histórica (ou e quantidade suficiente na Europa para não se tornarem o que ele chama de “problema”). O assassino norueguês concentra todo seu ódio aos seguidores do Islã e aos adeptos a ideologias e partidos de centro-esquerda e esquerda. Ele os acusa de forjar uma aliança para destruir “os valores da Europa cristã”.
A polícia ainda não encontrou o responsável pelas mortes, mas disse que a arma usada no atentado desta segunda-feira (19/03) seria a mesma de um ataque a três soldados (de origem magrebina e antilhesa) na semana passada na cidade de Montauban, próxima à Toulouse: um revólver Colt 45. Nos dois casos, o atirador cometeu os crimes de moto.
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