O governo canadense se viu obrigado a defender mais uma vez nesta quarta-feira (27/02) o Senado do país, acossado por escândalos financeiros e pelo comportamento de alguns legisladores, o que provocou uma crise sem precedentes até o ponto de muitos defenderem a abolição da câmara alta do Parlamento.
O primeiro-ministro canadense, Stephen Harper, foi questionado na câmara baixa do Parlamento sobre os escândalos que afetam o Senado canadense e especialmente um grupo de legisladores nomeados pelo governo nos últimos anos.
Harper respondeu às críticas com uma defesa da atuação de seu governo e aproveitou para solicitar a reforma do Senado.
“Todos os senadores cumprem os requisitos de residência, por isso são nomeados ao Senado, e esses requisitos foram claros há 150 anos. Reconhecemos que o Senado precisa ser reformado, inclusive a limitação do mandato dos senadores e a eleição democrática do Senado”, declarou Harper.
As críticas ao Senado começaram há várias semanas quando meios de comunicação locais revelaram que vários dos senadores nomeados por Harper nos últimos anos tinham recebido dezenas de milhares de dólares de ajuda de moradia e viagem quando não lhes correspondiam.
Os 105 senadores canadenses têm direito a ser compensados pelas viagens que realizam e pelas despesas de habitação em que incorrem se sua residência principal estiver situada a mais de 100 quilômetros de Ottawa, onde se encontra o Parlamento canadense.
O problema para Harper é que pelo menos três senadores conservadores, Mike Duffy, Pamela Wallin e Patrick Brazeau, disseram que não residem em Ottawa, e, portanto, receberam de forma conjunta centenas de milhares de dólares em conceito de reembolsos, quando tudo parece indicar que vivem na capital canadense.
Duffy e Wallin são dois antigos jornalistas de televisão que desenvolveram a maior parte de sua vida profissional em Ottawa, mas que foram nomeados senadores por suas duas províncias de origem, Nova Escócia e Saskatchewan, respectivamente.
NULL
NULL
Duffy, que protagonizou cenas quase cômicas, como utilizar as portas dos fundos de restaurantes para tentar evitar os jornalistas, assegurava que sua principal residência era um chalé em Nova Escócia.
Finalmente, na semana passada, Duffy disse que havia “errado” ao assinalar sua residência principal porque os formulários do Senado “são muito complicados” e se ofereceu para devolver o dinheiro recebido.
De forma paralela, Brazeau, o senador mais jovem com 38 anos e antigo líder indígena, foi detido pela polícia acusado de agressão e assédio sexual contra sua ex-mulher.
Após sua detenção, Brazeau foi expulso do Partido Conservador, embora tenha mantido seu posto como senador.
Além de todas essas polêmicas, Harper chegou ao poder prometendo reformar o Senado e não nomear nenhum senador que não fosse eleito democraticamente.
No sistema parlamentar canadense, os senadores, que representam as províncias e territórios do país, são nomeados a dedo pelo primeiro-ministro, o que foi utilizado pelo partido no poder para recompensar indivíduos que se destacaram por seu apoio partidário.
Enquanto estavam na oposição, Harper e os conservadores criticaram a nomeação de senadores por parte dos anteriores governos liberais e qualificaram a essência da câmara alta como “antidemocrática”.
Embora tenha garantido que não nomearia senadores, desde que chegou ao poder em 2006, Harper colocou no Senado 58 parlamentares, todos conservadores, mais do que nenhum outro governante na história do país.
Diante deste cenário, o social-democrata NPD (Novo Partido Democrático), o principal grupo da oposição, exigiu a abolição do Senado – uma ideia que está ganhando força a cada dia.
Segundo uma pesquisa publicada na semana passada, 36% dos canadenses estão de acordo com o NPD e querem a abolição do Senado. Apenas 22% estão contentes com o órgão, enquanto 42% prefeririam sua reforma, 15 pontos percentuais a menos que em 2007.