Efe
Ghassan Hitto é eleito primeiro-ministro da Coalizão Nacional Síria, principal força opositora do regime de Bashar al Assad
A opositora CNFROS (Coalizão Nacional Síria) elegeu nesta terça-feira (19/03) Ghassan Hitto como primeiro-ministro do governo interino em uma votação em Istambul, informou a principal aliança contrária ao regime de Bashar al Assad, em seu perfil no Facebook.
“Nenhum poder nesse mundo dita termos inaceitáveis para nosso povo”, disse Hitto em seu discurso inaugural, em Istambul, acrescentando que o regime de Assad está “no lado errado da História”. Ele ressaltou que sua principal prioridade será “utilizar todos os meios de imprensa para conseguir a queda do regime de Bashar al Assad”.
“Povo sírio: prometo trabalhar para libertar vocês da escravidão” e assim “trabalhar desde as regiões liberadas e, assim que o regime cair, realizar eleições transparentes e livres”, afirmou, além de “retornar os refugiados sírios às províncias libertadas”. Os maiores desafios de Hitto serão unificar os grupos rebeldes sob um comando único, administrar os territórios sob controle da oposição e fazer chegar ajuda humanitária à população civil.
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Os mais de 60 presentes na reunião debaterão nesta semana a relação que o governo provisório terá com a própria coalizão e que postura adotará em relação à atividade do ELS (Exército Livre Sírio), que reúne diversos grupos armados contrários ao regime de Assad.
Hito pediu à comunidade internacional apoio financeiro e militar para o ELS, assim como a instauração de uma zona de exclusão aérea e a distribuição de ajuda humanitária nas zonas sob controle rebelde. Além disso, exigiu acesso aos fundos do governo sírio que estejam congelados em bancos estrangeiros, já que se trata de “riquezas que pertencem ao povo e devem ser devolvidas”.
Liga Árabe e terrorismo
A CNFROS deve também analisar em Istambul estratégias para conseguir que a Liga Árabe reconheça o Executivo interino como representante oficial da Síria. A Liga concordou em 6 de março em outorgar o assento correspondente à Síria à CNFROS quando essa conseguisse formar um governo interino.
A organização pan-árabe suspendeu em novembro de 2011 a participação do regime de Assad em protesto contra o derramamento de sangue no país e o descumprimento sírio do roteiro árabe para sair da crise.
O organismo tinha a intenção de convidar o líder da CNFROS, Ahmed Moaz Khatib, para a cúpula árabe que deve acontecer no final de março no Catar, à espera de que os opositores sírios constituíssem um Executivo provisório.
No discurso inaugural do ato, Khatib afirmou que “entre o povo sírio não há terroristas” – os quais não seriam aceitos -, no que parece um gesto de aceitação da milícia extremista islamita Yabhat al Nusra, declarada terrorista pelos Estados Unidos.
Em fevereiro, George Sabra, presidente do CNS (Conselho Nacional Sírio), um dos grupos que compõem a Coalizão, já tinha feito um gesto similar, ao descrever a milícia como “parte da revolução e a resistência contra Assad”.
Como outros destacados membros da oposição nas últimas semanas, Hitto se nega a manter conversas com o regime de Bashar al Assad e declarou que os responsáveis dos crimes atuais devem ser julgados nos tribunais, uma vez que seja estabelecida a nova Síria.
Hitto e seu gabinete
Na votação, Hitto venceu os outros 11 candidatos a dirigir o gabinete, dois deles do interior da Síria, com 35 de 48 votos. Segundo analistas, Hitto apareceu como um candidato que agradou tanto a opositores islamitas quanto liberais. Apesar disso, o CNS permanece dividido e alguns membros da coalizão se retiraram antes da votação.
Espera-se que o próximo passo seja a eleição dos membros do Executivo provisório, que deve acontecer nos próximos dias. As reuniões para essa escolha recomeçaram após terem sido atrasadas diversas vezes nos últimos meses.
Nascido em 1963, em Damasco, Hitto vive há anos nos Estados Unidos, onde trabalhou em várias empresas do setor tecnológico. Foi um dos fundadores da opositora Coalizão Síria Livre nos EUA e, desde 2011, é vice-presidente do grupo. Por outro lado, sua eleição surpreendeu, dado que o executivo de telecomunicações de 50 anos, que viveu três décadas no Texas e possui um passaporte norte-americano. Segundo The Guardian, ele desempenhou um importante papel em entregar ajudas humanitárias no norte da Síria.
Uma das principais críticas dos revolucionários de base contra os organismos antecessores da Coalizão, como o Conselho Nacional Sírio, é que são compostos por exilados que ficam muito tempo fora do país, algo que seria válido também para Hitto.
Hefiz Abdulrahman, ativista curdo-sírio e membro do CNS, não acredita que sua nomeação vá ter um peso específico, já que o cargo de primeiro-ministro da oposição também não diz que ele tem um poder absoluto. “A pessoa concretamente não importa tanto, mas o fato de que haverá um gabinete que começará a trabalhar”, opinou Hefiz em uma conversa telefônica com a Agência Efe.
Segundo o ativista, agora é o momento adequado, pois existem já grandes regiões que arrebataram o controle de Assad, onde é preciso estabelecer urgentemente uma administração civil, melhorar a segurança cidadã e o império da lei. O ativista disse esperar, além disso, que o próprio trabalho de Hitto e seu futuro gabinete sirva para unificar todos os bandos da oposição síria.
Por outro lado, Hefiz lamentou o fato de que o Conselho Nacional Curdo não tenha participado da reunião de Istambul, já que “parece se preocupar mais com os direitos dos curdos do que com os cidadãos em geral”. No entanto, disse que as relações entre os grupos curdos e o gabinete sírio opositor serão boas, porque “há contatos”.
* Com informações de Efe, Al Jazeera e The Guardian