O venezuelano Magglio Ordoñez fez carreira de sucesso como defesa-direito de beisebol nas equipes norte-americanas do Chicago White Sox e do Detroit Tigers. Antonio “El Potro” Álvarez também marcou sua carreira nesse esporte pela equipe do Leones del Caracas, e nos últimos anos se consagrou como cantor. Winston Vallenilla é um famoso locutor, ator de novelas venezuelanas, além de apresentador de programas de TV. Miguel Ángel Pérez Pirela lidera um programa chavista de análise dos acontecimentos políticos, transmitido aos fins de tarde pela emissora estatal VTV (Venezuelana de Televisão).
Wikimedia Commons – “Potro” Álvarez
Na última semana, todos estas personalidades venezuelanas foram nomeadas pelo presidente Nicolás Maduro como candidatos pelo PSUV (Partido Socialista Unido da Venezuela), legenda governista. Eles participarão das próximas eleições municipais marcadas para o dia 8 de dezembro.
A inscrição de “estrelas” como candidatos frente ao órgão eleitoral do país foi uma surpresa e gerou reações diversas, até mesmo entre chavistas e aliados, já que essas decisões não foram definidas em pleitos primários internos ou sequer discutidas, como afirmou o secretário-geral do Partido Comunista.
Com exceção de Ordoñez, candidato à Prefeitura de Sotillo, no estado de Anzoátegui, as demais personalidades disputarão territórios liderados por opositores e considerados estratégicos: Vallenilla e Álvarez competem por Baruta e Sucre, respectivamente, que fazem parte da capital Caracas; já Pérez Pirela compete por Maracaibo, capital do importante estado petrolífero de Zulia. Entre os designados também está o ex-ministro de Comunicação do país, Ernesto Villegas, que disputará a administração do Distrito Metropolitano de Caracas com o atual prefeito e histórico opositor do chavismo, Antonio Ledezma.
Para o analista político Alberto Aranguibel, a oposição “historicamente encontrou suas únicas possibilidades” no âmbito municipal, colocando entraves ao avanço do chavismo, e a seleção destes nomes se deve à necessidade de “conquistar espaços”. “Em um período muito curto, tivemos a morte do presidente Hugo Chávez, a eleição presidencial [de abril, que deu vitória a Maduro] e agora as municipais. Então se optou por consolidar candidaturas de figuras com amplo apoio popular, para as quais há consenso, apesar de diferenças pontuais”, explicou Aranguibel a Opera Mundi.
“Nesta oportunidade não estamos elegendo quadros dirigentes do partido ou pensadores da política”, disse, afirmando que a exigência para o cargo disputado é o “contato mais estreito com as comunidades, que seja uma pessoa que responda a aspirações”. De acordo com ele, na medida em que o chavismo “propõe um novo modelo de sociedade e de país”, os candidatos devem ter procedências diversas. “Isso inclui gente que veio de outros partidos, de novas gerações que vão se formando. Estes artistas e esportistas aparecendo como candidatos mostram democracia”.
Com análise mais crítica sobre as designações, o cientista político Nicmer Evans escreveu que a estratégia “não é boa nem má”, mas sim “arriscada quando se faz a partir da busca de aprofundar um legado político como o de Chávez”. Segundo ele, a escolha de “personagens originalmente alheios ao mundo político, fazendo da política um show ou parte do mesmo, sem consultar as bases” contrasta com a defesa do falecido presidente à participação ativa da população para tomar decisões.
NULL
NULL
Já o analista e presidente do instituto de pesquisa Datanálisis, Luis Vicente León, escreveu que o governo formou uma espécie de time de “rock stars” para competir em “zonas mais pantanosas para o chavismo”. Em artigo, ele avalia que estas personalidades podem gerar “estremecimento” em terrenos opositores por serem conhecidas e, em alguns casos, queridas por massas independentes.
“Pode-se inferir que os candidatos que decidiram participar nesta experiência do PSUV terão mais votos que qualquer líder político do chavismo nestas zonas”, escreveu, considerando o impacto na soma total dos votos, fator que será observado para medir forças entre o chavismo e a oposição após a eleição apertada de abril, na qual Maduro ganhou do governador do estado de Miranda, Henrique Capriles, com apenas 1,49% de diferença.
Para Aranguibel, no entanto, o cenário não será fácil para a coalizão opositora, que já disse considerar o pleito de dezembro como um “plebiscito”. “Na eleição presidencial, a oposição conseguiu captar boa parte do voto porque era um confronto entre dois modelos. Mas com governadores, a situação foi muito diferente”, disse, em referência às eleições de dezembro, quando o chavismo ganhou em 20 dos 23 estados. “A oposição não conseguiu construir forças políticas ou lideranças. Para esta eleição, estarão em piores condições. Se não conseguiram sequer governos em que tinham figuras emblemáticas, não vão ter figuras para as 335 prefeituras”, analisa.
Programa de TV de Winston Vallenilla
A aliança opositora MUD (Mesa de Unidade Democrática) também terá que lidar com dissidências que apresentaram candidaturas paralelas que podem debilitar o potencial de votos da coalizão. Um dos casos mais emblemáticos dessa fragmentação é o de Antonio Ecarri, que inscreveu sua candidatura paralelamente à de Ismael García, escolhido pela aliança opositora para disputar o município caraquenho de Libertador contra o atual prefeito chavista, Jorge Rodríguez.
Ecarri acusa a MUD se recusou a reconhecer a derrota para García nas primárias realizadas em fevereiro do ano passado, e acusa a coligação de ter manipulado o resultado. “Não aceitei a fraude eleitoral, impugnei (…) não me deixaram revisar os cadernos de votação nem as atas”, disse ao anunciar sua candidatura por fora da coalizão, com argumentos similares aos utilizados pelo líder opositor Henrique Capriles quando este não reconheceu os resultados do pleito presidencial de abril.
“A unidade se constrói de baixo para cima e não em acordos de cúpulas que repartem candidaturas”, expressou, afirmando que a candidatura de García é “artificial e imoral”. O opositor Carlos Correa, por sua vez, renunciou à MUD e se apresentou como candidato para prefeito do Distrito Metropolitano de Caracas. Durante a semana, o partido MAS (Movimento ao Socialismo) também anunciou que inscreveria candidatos de forma independente, devido “à exclusão de setores sociais e políticos por parte da MUD”.