A Marche des sans-papier (Marcha dos sem documentos), intitulada Marche du Grand Paris (Marcha da Grande Paris), que desde o dia 7 de setembro caminhava pelos arredores de Paris, de onde partiu em direção aos municípios vizinhos, chegou de volta à capital francesa neste sábado (05/10). Eram 14h30 quando um grupo de aproximadamente cem pessoas cruzou a Avenue de la Grande Armée, com faixas, megafones, pandeiros, tambores e palavras de ordem, mobilizado em torno da aquisição do direito de viver na França.
São estrangeiros das mais variadas nacionalidades, mas, sobretudo, as vinculadas ao continente africano, principalmente da África Subsaariana, e que reivindicam o direito de regularizar sua permanência em solo francês, onde muitos estudam, trabalham, criam seus filhos, enfim, têm uma vida razoavelmente estabelecida, ainda que sem autorização formal para isso. Conforme dados da Cimade, associação que apoia os imigrantes sem documento, a França, em 2010, contabilizava entre 300 e 500 mil pessoas vivendo em condições de ilegalidade no que se refere ao direito de fixação em seu território.
Luciano Fogaça/Opera Mundi
Agrupados no que se chama UNSP (União Nacional dos Sem Papel), os manifestantes se opõem à última circular relativa à permanência de estrangeiros na França, publicada pelo ministro do Interior, Manuel Valls, em novembro do ano passado. A referida declaração, segundo o movimento, redimensiona os critérios de regularização, tornando-os mais distantes das reais necessidades. “Nós queremos uma verdadeira política de imigração, ou seja, uma política que respeite os direitos fundamentais das convenções nacionais e internacionais”, argumentam os porta-vozes da UNSP.
A andança
Foi quase um mês de caminhada, totalizando um percurso de 400 quilômetros, passando por mais de 50 municípios, nos quais a UNSP buscou ser recebida pelos representantes do poder público local e sensibilizar a população para uma causa, que, segundo Faouzi Dhaouadi, um dos tunisianos que integram o movimento, não é só dos estrangeiros. “A deseja que a vida melhore para todos que estão sem emprego e sem moradia na França”, diz.
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Ainda sobre os objetivos da Marcha, Faouzi explica: “Nós traçamos como estratégia a abertura de uma relação com as prefeituras, visando conquistar o apoio delas, tanto no que se refere à hospitalidade, pois durante a caminhada sabíamos da necessidade de alojamento e alimentação, como no que diz respeito ao fortalecimento da nossa luta, pois temos em mente que os prefeitos e os vereadores, de alguma maneira, podem influenciar os deputados”.
Luciano Fogaça/Opera Mundi
Ele diz também que uma das coisas que chamaram a sua atenção foi notar que houve uma variação muito grande no modo como as prefeituras reagiram. “Algumas mais alinhadas à esquerda nos receberam muito mal, nos deixando dormir no relento, por exemplo, e outras, ligadas à direita, nos acolheram muito bem e se mostraram mais simpáticas às nossas reivindicações”, analisa, lembrando que a Marcha teve como propósito mostrar uma posição bem demarcada conta a extrema direita, o racismo e a xenofobia.
Sede de visibilidade
Com frases como “Trabalhador sem papel não é perigoso” e “Nós somos engajados e não perigosos”, os manifestantes, uma vez de retorno a Paris, circularam por algumas avenidas da cidade, tendo como ponto de chegada o Palácio do Eliseu, residência oficial do presidente da República.
O desejo de ser vista e escutada é, sem dúvida, uma forte demanda da UNSP, e isso fica muito evidente na fala do malinês Fofana Vazoumana, um dos porta-vozes do movimento, quando indagado se estava cansado da caminhada longa: “a vontade de falar é muito maior do que qualquer cansaço”.