No último dia do cessar-fogo de 72 horas, que se encerra nesta quarta-feira (13/08), proposto e utilizado pelo Egito para negociar um acordo de paz mais durável, o gabinete para assuntos de segurança do governo de Israel está dividido sobre se deve ou não aceitar uma trégua longeva com o movimento islamita Hamas, grupo que controla a Faixa de Gaza.
Segundo uma fonte governamental israelense citada pelo jornal local Yedioth Ahronoth, o acordo “não contempla nada de bom para Israel”, deixando a situação “mais ou menos como estava” do ponto de vista da segurança. O principal motivo da insatisfação de Tel Aviv está no fato de que o documento não contemplará uma cláusula estipulando o desarmamento dos grupos palestinos.
Agência Efe
Ausência de cláusula que estipula desarmamento de grupos palestinos é principal entrave para avanço do acordo de paz em Tel Aviv
A exigência de se desarmar foi apresentada por Israel como contrapartida para a retirada progressiva do bloqueio à Faixa de Gaza, imposto em 2006 e amenizado em 2010 após as críticas internacionais ao ataque à pequena Flotilha da Liberdade — grupo humanitário que tem intenção de fazer nova incusão ainda neste ano.
Segundo o jornal, pelo menos três ministros votarão contra o acordo: Avigdor Lieberman (Relações Exteriores), Itzhak Aharonovich (Segurança Interior) e Naftali Bennett (Economia). Trata-se da ala dura do governo de Netanyahu, que exige a destruição pela força do regime do Hamas se o desarmamento não for aceito.
Outros quatro ministros, entre eles Netanyahu (premiê) e Moshe Yaalon (Defesa), mostram-se a favor do acordo, por isso será crucial o voto do oitavo e último membro do gabinete: o ministro do Meio Ambiente, Gilad Erdan. Conhecido membro da ala mais conservadora do Likud, Erdan não sabe se segue suas crenças políticas ou acata as “ordens” de Netanyahu, o líder de seu partido, para votar a favor do acordo.
A divisão foi descoberta ontem após o premiê ter realizado uma rodada de consultas individuais com cada integrante do conselho para explicar as condições do acordo em construção, que deixará a situação mais ou menos como antes de 8 de julho, dia em que Israel lançou a ofensiva militar.
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Fontes palestinas disseram ontem que foi alcançado “a metade das demandas” e que o Egito, que também tem fronteira com Gaza, aceitou parte das exigências para pôr fim ao bloqueio.
Por sua parte, Israel se nega a levantá-lo enquanto não se produza o desarmamento, embora aliviaria o embargo com algumas medidas de caráter econômico e humanitário, segundo a imprensa local noticiou.
Entre elas está a ampliação para 12 milhas do limite de pesca, a autorização para que cinco mil palestinos entrem em Israel para trabalhar, a autorização para o pagamento de cerca de 40 mil funcionários do governo do Hamas com doações do Qatar e promessas de que o bloqueio será amenizado de forma progressiva.
Outra disputa não resolvida é a devolução dos corpos de dois soldados israelenses mortos no mês passado em Gaza e em poder da milícia do Hamas, que exige separar essa negociação das conversas sobre a trégua e o bloqueio.
Se as partes não chegarem a um acordo, a região poderia entrar novamente em uma escalada de violência a partir de meia-noite, a não ser que o Egito consiga arrancar uma nova trégua de 72 horas.
Explosão em Gaza mata jornalista da AP
Nos últimos instantes do cessar-fogo de 72 horas acordado entre Israel e Hamas, pelo menos seis pessoas morreram nesta quarta-feira (13/08) quando um projétil que não havia sido detonado explodiu acidentalmente na Faixa de Gaza. Especialistas tentavam desativar o artefato no momento do incidente. Segundo fontes médicas em Gaza, cinco palestinos morreram e outros seis ficaram feridos na explosão que também vitimou o jornalista italiano Simone Camilli, da agência AP (Associated Press).
Os técnicos em explosivos palestinos não resistiram ao impacto da explosão do míssil israelense na cidade palestina de Beit Lahiya. O repórter de vídeo da AP Simone Camilli, 35, é o primeiro jornalista estrangeiro morto no conflito em Gaza deflagrado com o lançamento da Operação Margem Protetora, que já dura mais de um mês e cujo saldo já supera os 1.900 mortos no lado palestino (maioria civil) e 67 do lado israelense (maioria militar). Além de Camilli, seu tradutor palestino, Ali Shehda Abu Afash, também morreu na explosão; o fotógrafo da AP Hatem Moussa ficou gravemente ferido.
Comissão da ONU
Israel decidirá nos próximos dias se colaborará com a comissão designada pela ONU (Organização das Nações Unidas), e liderada pelo canadense William Schabas, para investigar a operação Margem Protetora em Gaza ou se a boicotará, publicou nesta quarta-feira (13/08) o jornal Yedioth Ahronoth.
“A cúpula política e judicial se reunirá nos próximos dias. A decisão será tomada pelo governo após verificar qual é o mandato da comissão e como a investigação evolui”, relatou o jornal, que mencionou a ministra da Justiça, Tzipi Livni.
Agência Efe
Comissão da ONU foi criada para investigar violações aos direitos humanos em eventuais crimes de guerra cometidos por Israel
A comissão, designada pelo Conselho de Direitos Humanos na semana passada, também contará com o jurista senegalês Doudou Diene, professor de direito público e que foi analista da ONU sobre as formas contemporâneas de racismo e xenofobia, e uma terceira pessoa, depois de a jurista britânico-libanesa Amal Alamuddin recusar o convite.
O objetivo é investigar violações do direito humanitário e decidir se Israel cometeu crimes de guerra nos primeiros 33 dias da ofensiva, em que morreram quase dois mil palestinos, a maioria civis e entre eles mais de 400 crianças e 230 mulheres, segundo dados da ONU recusados por Israel.
Israel lançou a operação Margem Protetora em 8 de julho em resposta ao lançamento de foguetes contra seu território a partir de Gaza, e apelando ao direito da defesa própria. No entanto, por causa do alto número de vítimas civis, organismos internacionais e governos estrangeiros acreditam que não se respeitou o princípio da “proporcionalidade” e que o Exército israelense atacou “indiscriminadamente” a população.
“Os relatórios sobre atividades de militantes não justificam colocar em perigo as vidas e a segurança de muitos milhares de civis inocentes”, apontou ontem o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, que criticou as duas partes do conflito pela falta de vontade para evitar a violência.
Em várias entrevistas divulgadas na imprensa israelense nas últimas horas, Schabas pede que Israel não boicote a comissão para que ela possa “refletir sobre a postura das duas partes”. Os principais meios locais questionaram a capacidade do presidente da comissão de realizar uma investigação objetiva porque há vários anos manifestou em público seu desejo de levar o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, à Corte Internacional de Justiça.
Israel já foi investigado em 2009 e 2010 por outra comissão do Conselho de Direitos Humanos da ONU, a Comissão Goldstone, em relação à Operação Chumbo Fundido, com a qual não colaborou e que levou a severas condenações internacionais de sua política na Faixa e sua atuação militar. Nesse sentido, vários meios assinalaram que “Israel aprendeu a lição” e que de uma forma ou outra “fará chegar material” à nova comissão, mesmo que não colabore com ela oficialmente.
(*) Com informações da Agência Efe