Pais dos 43 estudantes da escola de Ayotzinapa que desapareceram em Iguala, no estado de Guerrero, se reuniram com senadores nesta terça-feira (09/11) em uma reunião classificada pela imprensa mexicana como “tensa”. Durante o encontro, eles criticaram a indiferença dos legisladores com a busca dos jovens, a cumplicidade de partidos políticos com o crime organizado e entregaram uma carta com cinco exigências, entre elas, que o Exército e o ex-governador de Guerrero Ángel Aguirre Rivero sejam investigados por supostas relações com o caso.
Agência Efe
Pais pediram, em documento, desaparecimento dos três poderes em Guerrero pela infiltração do crime organizado
Como um dos porta-vozes dos pais, Vidulfo Rosales disse aos presentes que o grupo vê como “indiferença” a postura dos senadores. “Vemos que olham o problema de maneira cética, como se não representassem também vocês o Estado mexicano”.
Eles argumentaram ainda que o Senado, como parte do Estado mexicano, “também é responsável pelo crime de lesa humanidade”.
Durante a reunião, compareceram pais de 38 dos 43 estudantes. Eles chegaram ao Senado da República, apresentaram as demandas e foram embora sem esperar respostas dos presentes. Apenas deixaram o documento no qual apresentam cinco pontos para ajudar a acelerar a investigação.
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Agência Efe
[Porta-voz dos pais, Felipe de la Cruz disse que sente muita coragem e raiva porque aprovam reformas que só servem ao governo e aos grandes empresários]
No documento, pedem a apresentação, com vida, dos 42 estudantes desaparecidos – um deles foi identificado no último domingo (07/12) – e justiça para os quatro estudantes mortos, bem como atendimento médico aos feridos; declaração formal do desaparecimento dos poderes no estado de Guerrero; suspensão das eleições no estado; ratificação da competência do Comitê de Desaparecimentos Forçados da ONU para que conheça as petições individuais, conforme a Convenção Internacional para a proteção de todas as pessoas contra desaparecimento forçado e, por fim, que a Procuradoria Geral da República investigue outra hipótese além da defendida até o momento, de que os jovens foram mortos no lixão de Cocula, e que seja investigada a suposta participação do Exército, da polícia federal e do ex-governador Ángel Aguirre Rivero no crime.
A respeito das eleições no estado, previstas para junho de 2015, o advogado do Centro de Direitos Humanos da Montanha Tlachinollan Vidulfo Rosales Sierra esclareceu que o pedido para que o pleito seja suspenso se deve ao fato de que não há clima para que alguém se postule ao governo. “Não queremos que nos distraiamos com eleições nas quais vão nos apresentar qual cartel vai nos governar”.
Após a retirada dos pais da reunião, o presidente do Senado, Miguel Barbosa, disse entender que familiares estejam “fartos e desesperados” e afirmou que “responderão às exigências da Justiça”.
Estados Unidos
Em entrevista à rede de televisão norte-americana Telemundo, o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, afirmou que o crime contra os estudantes “não tem cabimento em uma sociedade civilizada” e disse que seu país ofereceu “assistência ao México para que se saiba exatamente o que ocorreu” com os jovens. Ele esclareceu que se colocou à disposição “para seguir a pista com as aptidões forenses de especialistas norte-americanos e nossa capacidade para chegar a fundo do que ocorreu”.
Carlos Latuff
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Questionado sobre a possibilidade de reconsiderar o apoio que dá a esse país com base no histórico de respeito aos direitos humanos, Obama afirmou que o mais importante é ajudar “o México a seguir construindo a partir do avanço que está conseguindo”.
De acordo com o mandatário, ele conversou com o presidente do México, Enrique Peña Nieto, durante a cúpula internacional realizada na Austrália e o mexicano “admite a indignante tragédia que isso representa” e acrescentou: “México é nosso vizinho e queremos que prosperem”.
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