A defesa do técnico em informática Diego Lagomarsino, que entregou a arma que matou o fiscal Alberto Nisman, rechaçou as declarações proferidas pela mandatária argentina, Cristina Kirchner, que o vincula à morte do fiscal durante entrevista coletiva de imprensa concedida nesta quarta-feira (28/01) em Buenos Aires e pediu que a presidente prove as acusações que fez e se apresente para prestar depoimento.
Durante pronunciamento em cadeia nacional, nesta segunda-feira (26/01), a líder argentina sugeriu que Lagomarsino começou a tramitar seu passaporte para deixar o país exatamente no dia em que Nisman apresentou sua denúncia contra a mandatária e altos funcionários do governo, no dia 14 de janeiro.
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Lagomarsino foi a última pessoa que esteve com Nisman antes da morte
À afirmação, a defesa respondeu que o processo de tramitação do passaporte foi motivado por uma viagem da família de Lagomarsino à Disney, nos Estados Unidos, que seria realizada em março deste ano. E, como o processo de renovação do passaporte, vencido em dezembro, precisa de marcação prévia, o mesmo foi agendado para o dia 14 pela manhã, numa “coincidência”.
De acordo com a mandatária, “o passaporte foi retido” pela Justiça Federal e ele está proibido de deixar o país. Ela também o vinculou com o grupo Clarín, ao afirmar que seu irmão, Geraro H. Lagomarsino, trabalha em uma empresa que presta serviços à empresa historicamente crítica ao governo. O Clarín, por sua vez, negou que Geraro tenha qualquer relação com o grupo de comunicação.
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Diante de outras declarações de Kirchner, como a que o vincula com manifestações contrárias ao governo, o advogado de Lagomarsino garantiu que ele “nunca participou de nenhuma marcha”.
Contradições
Durante a coletiva de imprensa, Lagomarsino não respondeu às perguntas de jornalistas, apenas forneceu detalhes do ocorrido no sábado (17/01). Apresentando comoção e dizendo estar abalado pelo ocorrido por ser próximo à família e, inclusive conhecer as filhas de Nisman, o técnico afirmou que o fiscal lhe garantiu que não usaria a arma e que a queria apenas para colocá-la no carro, por motivos de segurança.
A preocupação de Nisman, de acordo com Lagomarsino, era com relação às filhas que estariam com medo de andar com ele. “A quero para o caso de vir um louquinho, então o paro”, teria dito o técnico. Ele também já não confiaria na equipe destacada para protegê-lo.
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Jornalistas, no entanto, apontaram a contradição da informação, uma vez que as filhas estavam na Europa, aparentemente também por motivos de segurança. Os profissionais de imprensa também questionaram as razões de um técnico de informática ter uma relação próxima com a família do fiscal, ao que o advogado mencionou questões da ordem do trabalho de Lagomarsino.
Não há acusação por morte
Com relação à investigação de supostas responsabilidades criminais do técnico, a fiscal Viviana Fein esclareceu, em declarações à imprensa na tarde desta quarta, que Diego será acusado, de forma genérica, por ter emprestado a arma de fogo a Nisman, o que pode implicar até seis anos de prisão.
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Manifestantes protestam diante do velório de Nisman, realizado nesta quarta
“Não há elemento algum no momento que o possa comprometer em um fato de gravidade dolosa”, disse Fein, antes de afirmar que não há nenhuma previsão de que ele seja citado no caso.
A fiscal afirmou ainda que é difícil precisar a hora exata em que Lagomarsino entrou e saiu do prédio de Nisman porque os dados fornecidos pela segurança do edifício são imprecisos e cheios de falhas.
Férias
Feinn também contestou a versão da presidente argentina, que questionou a interrupção das férias de Nisman com a família na Europa. A fiscal esclareceu que ele não trocou a passagem. A mesma teria sido comprada, a partir de Buenos Aires, no dia 31 de dezembro, com retorno previsto para 12 de janeiro.
Ela voltou a afirmar também que os estudos forenses apontaram que o orifício de entrada da bala “não permite estabelecer que o disparo foi a mais de um centímetro”, mas não precisou se se tratou ou não de um suicídio.