Movimentos sociais e organizações hondurenhas reagiram com consternação à notícia do assassinato da ativista e líder indígena Berta Cáceres, morta por homens não identificados em sua casa na madrugada desta quinta-feira (03/03) em La Esperanza, oeste do país.
Cáceres relatava há anos as ameaças de morte que recebia e na última semana havia denunciado os recentes assassinatos de dirigentes indígenas das comunidades em que atuava. Para diversos setores sociais hondurenhos, o governo do presidente Juan Orlando Hernández tem reprimido e criminalizado os movimentos sociais no país e é responsável pela falta de segurança em que vivem os ativistas.
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Goldman Environmental Prize / Divulgação
A líder indígena Berta Cáceres em foto do início de 2015; ela foi assassinada nesta madrugada em sua casa em Honduras
A coordenadora do Comitê de Familiares de Detidos Desaparecidos em Honduras (Cofadeh), Bertha Olivo, declarou à teleSUR que o governo de Honduras tem grande responsabilidade pela morte de Cáceres, devido à indiferença com que tratou as reiteradas denúncias de ameaças contra a ativista.
Uma solicitação de proteção à ativista foi levada pela Cofadeh à Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH), que ordenou uma série de medidas cautelares em favor de Cáceres. Segundo Olivo, como a solicitação da CIDH estava vigente no momento do assassinato da ativista, o governo hondurenho deve responder diante da Comissão.
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Para a coordenadora do Cofadeh, os movimentos sociais devem exigir justiça aos tribunais hondurenhos para que os responsáveis pela morte de Cáceres sejam penalizados e também levar a denúncia a organismos internacionais.
“Não é hora de nos lamentar, mas de nos trincheirar, de criar coesão entre todos os movimentos sociais e os defensores de direitos humanos. Não é hora de chorar, porque a morte de Berta Cáceres não é uma mensagem, mas um ataque que subiu de nível”, afirmou à teleSUR.
O Conselho Cívico de Organizações Populares e Indígenas de Honduras (Copinh), de que Cáceres era líder, denunciou que o assassinato da ativista se deu por interesses políticos e econômicos, devido à luta de Cáceres contra projetos hidrelétricos e de mineração em terras indígenas.
Ministro: Cáceres estava sob “segurança permanente”
O ministro de Segurança de Honduras, Julian Pacheco, declarou esta manhã após o assassinato de Cáceres que a ativista “gozava de segurança permanente”. Ele afirmou que Cáceres se reuniu com a equipe que monitorava sua segurança na semana passada para coordenar estratégias para protegê-la.
“Ela mudava de endereço constantemente em Intibucá [província em que vivia] e estava sempre sob guarda, mas a residência onde ela perdeu a vida não foi informada aos seguranças”, declarou o ministro.
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Em foto do início de 2015, Berta Cáceres e membros da comunidade de Rio Blanco prestam homenagem a ativistas assassinados na região
Pacheco informou que foram enviadas equipes de Tegucigalpa, capital do país, para investigar o assassinato. “É importante ressaltar que já temos uma pessoa detida, que é o guarda que fazia a segurança da casa onde foi assassinada a hondurenha”, afirmou.
Segundo o jornal hondurenho El Heraldo, Gustavo Cáceres, irmão da ativista, declarou por sua vez que é mentira que os seguranças não conheciam a casa onde a ativista estava em sua última noite. Austra Flores, mãe de Berta e Gustavo, culpou o governo hondurenho pela morte da filha e disse esperar que ela não se torne somente mais um dado na estatística sobre mortes de ativistas no país.
Ativismo ambiental e em prol de direitos humanos