Se alguém ainda tinha dúvida de que os oligopólios da mídia operam em bloco na defesa dos interesses do grande capital, sugiro que busque alguma diferença entre as capas de Veja e Época com a imagem de Hugo Chávez.
As duas revistas estampam fotos idênticas, com o mesmo recurso de luz-e-sombra para dar às feições do herói bolivariano uma aparência sinistra (logo ele, famoso pela sua simpatia!). Quanto ao conteúdo, as mesmas mentiras sobre a Venezuela.
Agência Efe
Milhões de venezuelanos peregrinaram para Caracas para participar da cermônia fúnebre de Hugo Chávez
Em todo o papo-furado da mídia direitista, o que mais chama atenção é a insistência em chamar de “tirano” um líder vitorioso em todas as eleições de que participou, num país onde não existem presos políticos nem censura à imprensa. Lá os eleitores podem revogar o mandato dos governantes e o povo se organiza em conselhos comunitários para decidir sobre assuntos do interesse coletivo.
Por trás do discurso obtuso dos inimigos da revolução bolivariana, nota-se algo mais do que a evidente intenção de manipular a opinião pública. Simplesmente, os burgueses adotam uma visão de democracia que contradiz o sentido literal da palavra (“o poder do povo”, em grego).
Quem melhor definiu a democracia existente no capitalismo foi Joseph Schumpeter (1883-1950), um dos mais influentes pensadores liberais.
NULL
NULL
Para ele, a democracia da teoria clássica não passava de uma utopia. Na prática, deve ser apenas um método de escolha entre candidatos pertencentes às elites. Ao povo caberia apenas o papel de votar, de tempos em tempos, deixando aos figurões mais ilustrados das classes dominantes a participação política efetiva.
Nas palavras do próprio Schumpeter: “A democracia não significa e não pode significar que o povo realmente governa (…). A democracia significa apenas que o povo tem a oportunidade de aceitar ou recusar os homens que os governam”. Schumpeter via o cidadão comum com um fantoche nas mãos da imprensa e da máquina de propaganda dos partidos “razoáveis”, isto é, comprometidos com o capitalismo. A competição política, segundo ele, deve ocorrer dentro de um leque restrito de questões, de maneira a jamais colocar em jogo as estruturas da sociedade e os pontos de consenso entre as elites.
Relendo Schumpeter, fica fácil entender o ponto de vista de quem afirma que Chávez “abusou da democracia” (como disse um professor da FAAP, reduto universitário da elite paulistana, em debate na Globo News). Ao trazer para o primeiro plano da cena política a voz do povo venezuelano, silenciada em séculos de apartheid social, Chávez arrebentou os limites estreitos da “democracia” schumpeteriana e aproximou da realidade o ideal libertário do governo “do povo, para o povo e pelo povo”.
Igor Fuser é professor de relações internacionais na Universidade Federal do ABC (UFABC).