No programa 20 MINUTOS desta segunda-feira de carnaval (20/02), Breno Altman entrevistou o escritor, historiador compositor Luiz Antonio Simas, mestre em História Social pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e autor de dezenas de livros sobre o carnaval e outras expressões da cultura popular brasileira.
Estudioso da origem e evolução dos movimentos culturais de rua, Simas conta que o carnaval brasileiro foi tomando a forma que conhecemos hoje a partir do impacto da cultura dos africanos trazidos como escravos ao Brasil sobre o chamado “carnaval do entrudo”, introduzido no país pelos portugueses.
“Nós temos documentos dos Séculos XVII e XVIII mostrando que aquele carnaval de entrudo português estava sendo afetado pela musicalidade africana, pelos batuques bantos do Congo, de Angola, então isso vai se transformando de uma forma muito rápida”, explicou.
Perguntado sobre a confrontação entre um carnaval “elitista e branco” e um carnaval “popular e plebeu”, Simas enfatizou que “o carnaval nunca foi um consenso no Brasil, ele sempre foi disputado, e essa disputa passou por vários momentos, no Século XIX chegou a haver uma proibição do carnaval de rua, e essa disputa se aguça muito no pós abolição, porque ele passa a ser um campo muito propício para as sociabilidades negras”.
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Simas reivindica o carnaval como o primeiro espaço onde se desenvolveram as sociabilidades negras no Brasil pós abolição
“Depois da abolição e do golpe da proclamação da república, tivemos uma primeira constituição republicana que não tinha um caráter inclusivo, que não incluía aquela massa de homens pobres descendentes de escravizados no exercício da cidadania formal (…) então aquele país foi construindo as suas sociabilidades, no sentido comunitário de vida, às margens de um projeto de exclusão, e o carnaval está inserido nesse processo”, relembra Simas.
“Daí você tem uma disputa entre uma elite que pretende transformar o carnaval em uma festa com elementos do carnaval de máscaras de Veneza, ou os carnavais de salão franceses, essa ideia de uma festa mais elitista, e do outro lado você tem o carnaval de rua, que vai se construindo em torno dos cordões carnavalescos, dos blocos, dos clubes de frevo, afoxés… e essa disputa é muito intensa”, acrescenta o historiador.
Simas também reivindica como o carnaval brasileiro sempre teve um caráter politizado, verificado ao longo dos séculos. “Isso pode ser observado nos carnavais da Década de 1880, quando “houve uma impressionante articulação entre sociedades carnavalescas e a campanha abolicionista [pelo fim da escravidão no Brasil], inclusive com os carnavais e os desfiles se articulando para arrecadar dinheiro para fundo de alforria”.