No programa 20 MINUTOS ENTREVISTA desta quarta-feira (09/02), o diretor de redação de Opera Mundi, Haroldo Ceravolo Sereza, conversou com a deputada federal do Partido dos Trabalhadores (PT) pelo Rio Grande do Norte Natália Bonavides sobre estratégias eleitorais e a possibilidade de um novo governo Lula.
Ela começou discordando da chamada frente ampla, tática defendida como sendo a única forma de garantir a eleição e a governabilidade do líder petista, e que passaria pela nomeação do ex-tucano Geraldo Alckmin como candidato à vice-presidência.
“Não é uma matemática exata que com Alckmin vamos conseguir a reeleição e vamos poder governar. Aliás, acho que ele na chapa dificulta a comunicação com o nosso eleitorado. Precisamos de um programa que desfaça os crimes que foram cometidos contra o povo desde o golpe contra Dilma Rousseff, precisamos de desenvolvimento econômico aliado a crescimento social. Acho que com Alckmin fica difícil passar essa mensagem porque ele continua defendendo o neoliberalismo, mesmo mudando de legenda”, defendeu Bonavides.
A deputada reforçou que a estratégia confundiria os eleitores sobre a proposta que o PT tem para o Brasil e possivelmente tornaria a reeleição mais difícil, já que uma frente ampla, na opinião dela, representaria abrir mão de reivindicações da população.
“A gente também precisa pensar sobre o que é governabilidade. Porque, para mim, governabilidade é conseguir a aplicação do nosso programa. Se a gente precisar fazer concessões, não vamos passar o nosso programa. Isso é contraditório. Acho que precisamos de um vice que, caso aconteça qualquer coisa, aplique o projeto que a gente está defendendo”, argumentou.
Como alternativa à frente ampla, ela relembrou que “a história nos mostrou que governabilidade não acontece só nas alianças institucionais” e discorreu sobre a importância de fomentar a mobilização de massas.
“Primeiro, precisamos usar o potencial e a força de Lula para aumentar nossas bancadas, sem se resignar que o centrão vai ter o tamanho que tem hoje e pronto. Em segundo lugar, precisamos ter consciência das limitações do Parlamento no capitalismo. Sem mobilização do lado de fora, não adianta que não vai passar nada. No último ano aprovamos auxílio emergencial, a lei Aldir Blanc e o Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (Fundeb) permanente por pressão popular apesar da aliança do centrão com Bolsonaro”, destacou.
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Bonavides apontou a importância da mobilização popular e do trabalho de base; veja vídeo na íntegra
Alianças institucionais e trabalho de base
Bonavides se aprofundou na estratégia que ela considera mais permanente para o PT. A nível institucional, apontou para a construção de uma unidade eleitoral de esquerda focada na candidatura de Lula, com partidos como o PCdoB, o Psol e o PSB.
Já fora da esfera institucional, ela destacou a criação dos comitês populares que serão montados pelo PT, não só para se aproximar e educar a população, mas para “analisar e refletir sobre o período em que estivemos no governo federal”.
“O que fizemos lá atrás que poderíamos alterar se voltarmos ao poder Executivo? Houve um entendimento de que era melhor priorizar a luta institucional, mas se resumir a isso não é sustentável. Faltou uma conexão mais forte com a própria disputa política, ideológica, de ocupação de espaços de debate e com a necessidade de um trabalho de base permanente para que as nossas conquistas fossem perenes”, ponderou.
Além do PT, ela enfatizou outros atores importantes para o trabalho de formação política, como os sindicatos, “que precisam ser fortalecidos”, e os movimentos sociais. Com relação à participação do presidente nesse processo, como acontece em países como a Bolívia, ela explicou que o próprio projeto de governo tem um papel educador, que o Estado não é neutro e, no caso da esquerda, fazer o enfrentamento ao neoliberalismo de forma aberta e transparente já cumpre uma função pedagógica.
“A gente só não pode achar que ganhando o governo não precisa mais fazer trabalho político. A gente viu que não é só projeto de lei que muda o país e resumir as mudanças a isso acabam tornando-as efêmeras”, reforçou.