Combinando questões gerais e outras bastante pessoais, Opera Mundi traz o especial A Pandemia no Mundo. O objetivo é verificar o impacto da covid-19 em diferentes países. Trata-se de uma enquete: as mesmas 27 perguntas são repetidas para moradores deles, de modo que as respostas possam ser acompanhadas e comparadas.
Quando a pandemia começou, dizia-se muito que o coronavírus era “democrático”, atacando igualmente pobres e ricos, brancos, asiáticos e negros, homens e mulheres.
O que a realidade mostrou é que os pobres são mais vítimas da covid-19, como a condução das políticas de saúde por governos de todo o mundo resultou em radicais diferenças no número de contaminados e de mortos.
Quem responde as perguntas hoje é Carlo Carrenho, de Estocolmo.
1. Descreva o grau máximo de isolamento social praticado onde você está.
Na Suécia, o isolamento acontece de forma voluntária. O governo pede que as pessoas circulem o menos possível e não usem transporte público. Comércio e restaurantes abertos, mas com poucos clientes. Escolas fundamentais abertas. A população aceita as sugestões e confia no governo.
2. Quando começou sua quarentena?
16 de março, quando o governo pediu para que se trabalhasse de casa.
3. Quem está com você?
Minha esposa e meus dois filhos, de 10 e 11 anos.
4. É fácil conviver assim?
Conviver com a família não é difícil. Mas a sensação de falta de liberdade por não poder exercer o direito de ir e vir ou cruzar fronteiras me incomoda muito.
5. Quando você sai de casa?
Para ir ao mercado e lojas, às vezes encontrar amigos. Também para reuniões na escola, levar filho no psicólogo. E também para dar uma volta no lago. A vida continua, graças ao isolamento social natural que um país com baixa densidade demográfica e costumes diferentes permite.
6. Teve ou conhece alguém no país em que está que teve covid-19?
Sim, mas apenas casos leves.
7. Como viu a ação do governo do país em que está em relação ao coronavírus?
O governo sueco tem sido exemplar. Decisões de estratégia são tomadas por técnicos, não políticos. Governantes focados na saúde pública e na ajuda econômica para a população e empresas afetadas. Tem sobrado hospital e os programas sociais de apoio ao trabalhador foram ampliados.
8. Ela mudou muito com o tempo?
Não. O país adotou a postura de se fechar na medida que fosse necessário preservar a capacidade hospitalar e por isso, ela mudou pouco.
9. Você está neste país por que motivo?
Por que amo a sociedade sueca. Amo a liberdade, a democracia, a igualdade em todos os sentidos. Adoro o sentimento de sociedade e solidariedade que existe aqui. Acho que é um ótimo país para meus filhos. E a internet é absolutamente veloz. 😉
10. Acompanhou a situação brasileira?
Sim, mais do que gostaria. Mas meus pais estão trancados em casa em São Paulo.
11. A embaixada brasileira se comunicou com você ou com pessoas que você conheça?
Não, e nem seria necessário. O governo sueco trata qualquer residente da mesma forma que seus cidadãos. Assim, não há necessidade nenhuma de ajuda do Itamaraty.
12. O governo brasileiro ofereceu algum tipo de ajuda?
Não, mas não foi necessário e eu não pedi.
13. Como você acompanha as notícias do Brasil?
Lendo jornais e sites.
14. Gostaria de voltar ao Brasil? Por quê?
Nos dias mais frios e escuros do inverno, a ideia pode até passar pela minha cabeça. Mas basta ler as notícias e ela desaparece.
15. Sua vida profissional mudou durante a pandemia? Como?
Não muito. Eu passei a trabalhar de casa, mas minhas atividades sempre foram a distância com projetos na Espanha, Brasil e sul da Suécia. O que mudou foi que parei de viajar. Eu viajava ao exterior praticamente todo mês.
16. Sua vida afetiva (inclusive sexual, se quiser tratar disso) mudou durante a pandemia? Como?
Muito pouco. É claro que o momento é de apreensão e preocupação. Fica tudo meio estranho e sem graça. Mas a vida afetiva se alterou pouco dado o momento.
17. Você engordou, emagreceu ou manteve o peso?
Mantive o peso.
18. Você bebe mais ou menos durante a pandemia?
Bebo mais, mas apenas socialmente. Como parei de gastar dinheiro em lazer, é possível comprar vinhos e cervejas melhores, que na Suécia são bastante caros.
19. O que tem feito para ocupar o tempo durante a quarentena?
Tenho trabalhado normalmente. Nas horas vagas, tenho assistido bastantes filmes e séries.
20. Desenvolveu, voltou a praticar ou abandonou algum hobby durante a pandemia?
Não, mas cuidar do jardim gigante que tenho aqui ganhou um prazer a mais.
21. Desenvolveu, voltou a praticar ou abandonou algum vício durante a pandemia?
Só o vício de ler notícias do Brasil diariamente. Voltou.
22. Tem realizado atividades para cuidar da saúde mental durante a pandemia?
Tenho mantido contato com amigos nos mais diversos lugares do mundo, e também me preocupado com a saúde mental deles em lugares onde o lockdown é mais radical.
23. A pandemia fez com que você mudasse seu posicionamento político?
De forma alguma, apenas o fortaleceu.
24. Se pudesse dar um conselho a você mesmo antes de entrar em quarentena, qual seria?
Não comprar um machado nem gasolina extra. Afinal, o abastecimento está normal. Mas sempre quis ter um machado grande.
25. Você tem lido mais ou menos notícias durante a pandemia? Como é sua relação com o noticiário?
Tenho lido a mesma quantidade de notícias, mas menos notícias ligadas ao mercado em que trabalho, substituídas que foram pelas notícias da pandemia.
26. Como está a questão do abastecimento de insumos no país em que você está?
Absolutamente normal. Até produtos italianos chegam aqui normalmente.
27. Como está o relacionamento com sua família? Melhorou? Piorou?
Não se alterou. Acho até que a única coisa positiva desta pandemia tem sido estar mais perto da família.