Combinando questões gerais e outras bastante pessoais, Opera Mundi traz o especial A Pandemia no Mundo. O objetivo é verificar o impacto da covid-19 em diferentes países. Trata-se de uma enquete: as mesmas 27 perguntas são repetidas para moradores deles, de modo que as respostas possam ser acompanhadas e comparadas.
Quando a pandemia começou, dizia-se muito que o coronavírus era “democrático”, atacando igualmente pobres e ricos, brancos, asiáticos e negros, homens e mulheres.
O que a realidade mostrou é que os pobres são mais vítimas da covid-19, como a condução das políticas de saúde por governos de todo o mundo resultou em radicais diferenças no número de contaminados e de mortos.
Quem responde as perguntas hoje é a pedagoga Cris Tas, de Viena.
1. Descreva o grau máximo de isolamento social praticado onde você está.
O grau máximo significou, aqui em Viena, quando pediram para não sairmos de casa. Somente uma pessoa da residência poderia sair para fazer compras. Ficaram abertos farmácias, supermercados, médicos e hospitais.
2. Quando começou sua quarentena?
Começou em 14 março e terminou por volta do dia 15 de maio, quando começaram a reabrir aos poucos. Nesta semana, precisamos de máscara no transporte público, cabeleireira, médicos e farmácias. Desobrigaram nos supermercados, shopping centers e nas escolas (à qual as crianças vão de duas a três vezes por semana, já que dividiram a classe pela metade).
3. Quem está com você?
Meu marido, minhas duas filhas e minha sogra, recém-vinda do Brasil.
4. É fácil conviver assim?
Sim, não foi difícil. O que mais me preocupou foi haveria um supermercado aberto. Quando vimos que o abastecimento de comida estava normalizado, ficamos despreocupados.
A divisão dos trabalhos domésticos com todos os moradores da casa foi feita no decorrer da quarentena.
5. Quando você sai de casa?
A única pessoa que saia de casa uma vez por semana para fazer compras era meu marido. Nós ficamos em casa.
Leia as outras entrevistas da série A Pandemia no Mundo
6. Teve ou conhece alguém no país em que está que teve covid-19?
Pessoalmente, não conheço ninguém. Só agora que as crianças foram para a escola, uma professora da instituição, mas que não dava aula para as crianças, estava com covid-19.
7. Como viu a ação do governo do país em que está em relação ao coronavírus?
Muito boa, foram bem responsáveis.
8. Ela mudou muito com o tempo?
Uma coisa que não ficou muito clara é que o governo nos obrigou, no início, não se encontrar com ninguém, e a maioria não se encontrou. Depois que passou esta fase, disseram que tinham feito um “pedido”, e que não era obrigação…Isto ficou um pouco confuso. “Pedido” ou “obrigação” de ficar em casa, de qualquer jeito, foi bom, pois muitos aderiram. Isto fez efeito o índice de contagio em Viena agora ser de 0.96.
9. Você está neste país por que motivo?
Por que meu marido veio trabalhar aqui.
10. Acompanhou a situação brasileira?
Sim. Agora parei de seguir como antes. Assistia TV do Brasil todos os dias, comecei a ficar deprimida com o que estava acontecendo no país. Agora, tento ver algo a cada três dias para não deprimir tanto. É uma mistura de muita raiva e impotência. E, em vez de a situação melhorar, piorou, é muito triste. Tenho esperança de que vai melhorar.
Estou muito esperançosa com a organização dos times de futebol e dos movimentos sociais a favor da democracia!!! Por torcer para o Palmeiras, fiquei muito contente quando vi a Mancha Verde nas ruas!! Dá- lhe porco!!!!
Quem diria, né?! Gaviões e Mancha juntas!!!
11. A embaixada brasileira se comunicou com você ou com pessoas que você conheça?
Não. O que eu vi foi que alguém postou alguma informação da embaixada no Facebook sobre a covid-19 e algo sobre os brasileiros que estavam aqui e queriam voltar.
12. O governo brasileiro ofereceu algum tipo de ajuda?
Não sei informar, pois não precisamos e ninguém que eu conheça também precisou.
13. Como você acompanha as notícias do Brasil?
Acompanho por TV, YouTube, Facebook, Instagram. Tenho acompanhado pela Mídia Ninja, Brasil 247, Opera Mundi. O que me dá muita esperança é um pessoal jovem fazendo jornalismo crítico.
14. Gostaria de voltar ao Brasil? Por quê?
Neste momento não, mas, como eu também nunca imaginei morar aqui, e aqui estou, então não vou dizer que não voltaria. Agora o Brasil está desgovernado, a covid-19 está matando muitas pessoas por incompetência principalmente do governo e do desmonte da infraestrutura.
15. Sua vida profissional mudou durante a pandemia? Como?
Minha vida profissional mudou muito, pois não pude ir trabalhar, principalmente porque sou do grupo de risco e trabalho em escola.
16. Sua vida afetiva (inclusive sexual, se quiser tratar disso) mudou durante a pandemia? Como?
Sim, foi melhor. Podemos conviver mais um com o outro.
17. Você engordou, emagreceu ou manteve o peso?
Engordei, pois cozinhei mais e fiz menos atividades físicas.
18. Você bebe mais ou menos durante a pandemia?
Como normalmente não bebo, pois não gosto, então continuei sem beber. Aumentei o consumo de café.
19. O que tem feito para ocupar o tempo durante a quarentena?
No caso, o que eu tinha feito, pois agora todas as lojas, restaurantes, serviços em geral estão abertos, e as crianças vão duas ou três vezes por semana à escola.
Este negócio de ocupar e engraçado, né?! O dia passava muito rápido, pois acordava, tomava café da manhã, fazia um pouco de ginástica, depois disso começava a rotina, lavava roupa, fazia almoço, lavava a louça, tinha ideia de fazer bolo, depois já chegava a hora da jantar e assim ia. Não tinha fim. E todo mundo em casa, nada parava organizado. À noite, assistia notícias, seriados e filmes. No meio tempo, ligava para a família e amigos.
Quando alguém escrevia que precisava se ocupar, eu pensava: Eu quero me desocupar!
20. Desenvolveu, voltou a praticar ou abandonou algum hobby durante a pandemia?
O que eu fazia era uma rotina de ginástica, todos os dias. Também cozinhei alimentos mais saudáveis.
21. Desenvolveu, voltou a praticar ou abandonou algum vício durante a pandemia?
Meu vício… se tenho um, é café.
22. Tem realizado atividades para cuidar da saúde mental durante a pandemia?
Sim, meditação. Muitas vezes, procurei ficar só. Ter privacidade foi importante, pois éramos 5 pessoas o dia inteiro em casa com gostos musicais diferentes. Ouvi muita musica brasileira! Como faz tempo que estou fora do Brasil, ouvi música do Criolo e gostei muito. A pandemia fez eu me atualizar um pouco.(O Criolo tem quase a minha idade e o não conhecia!) Comecei a seguir o Movimento Corpo Livre da Mídia Ninja também. Tem muita coisa boa!!
23. A pandemia fez com que você mudasse seu posicionamento político?
Não, apesar de achar que o primeiro-ministro da Áustria fez um bom trabalho em relação à covid-19.
24. Se pudesse dar um conselho a você mesmo antes de entrar em quarentena, qual seria?
Tranquilidade, pois vai passar.
25. Você tem lido mais ou menos notícias durante a pandemia? Como é sua relação com o noticiário?
Tenho lido mais notícias, principalmente as da Áustria e as do Brasil. A minha relação com noticiário é que é difícil achar coisa boa, pois é muita informação. Quando acho alguém confiável para dar informação, aí eu sigo. Tem muito veículo que faz notícia sem pé e cabeça: falam e não dizem nada.
26. Como está a questão do abastecimento de insumos no país em que você está?
Para o meu uso diário está tudo bem. Não sentimos falta de nada.
27. Como está o relacionamento com sua família? Melhorou? Piorou?
Acho que melhorou, principalmente com as crianças, estivemos mais juntas e conversamos mais, brincamos mais em família.