O vídeo deliberadamente vazado pelo marqueteiro do prestidigitador Michel Temer foi uma das alegrias dos comentaristas e das redes nos últimos dias.
Se destacou, com razão, a pacífica, alegre e divertida comensalidade entre “empresários” com capivaras quilométricas como o anfitrião Naji Nahas; inegáveis farejadores de bons negócios como Gilberto Kassab; comediantes filhos de ex-bolsonaristas como André Marinho, filho do suplente de Flávio Bolsonaro, e ilustres representantes da grande mídia que desembarcou do palmito, como Johnny Saad, dono da Bandeirantes, e o sempre elegante representante dos Marinho, Roberto D´Ávila.
A coisa pegou tão mal que até o notório Eduardo Cunha reclamou nas redes da “deselegância” do ex-presidente. Afinal, não fica bem, entre companheiros de tantos anos de cumplicidades, fazer chacota de quem, no momento, está por baixo.
Já se lembrou que Temer, presidindo a Câmara, livrou a cara do deputado Jair Bolsonaro que, em entrevista à Bandeirantes (veja só) pregou o fuzilamento de Fernando Henrique Cardoso e o fechamento do Congresso. A evidente, sob qualquer critério, quebra de decoro parlamentar deixou o deputado temeroso (ops) de perder o mandato, mas as mãozinhas hábeis resolveram o problema com uma carta de admoestação.
Como parêntesis, valeria o lembrete para algum jornalista, se ainda os há na grande mídia, perguntar ao ex-presidente se de fato era uma opção difícil a que se colocava em 2018 entre o obscuro deputado que o havia ameaçado de fuzilamento e o professor da mesma Universidade São Paulo na qual FHC um dia pontificou.
Enquanto isso o objeto da (boa) imitação tinha que resolver se vai abrir a Assembleia da Organização das Nações Unidas (ONU) defendendo a queima da Amazônia e atacando o uso da vacina ou como dividir sua atenção entre a temperatura crescente do escândalo da Precisa e a denúncia do morticínio promovido pela empresa de saúde supostamente dedicada ao público “sênior”.
Marcos Corrêa/PR
Ex-presidente Michel Temer aparece em vídeo ‘deliberadamente vazado’ ao redor de empresários brasileiros
No primeiro caso, a busca e apreensão da Polícia Federal na sede da empresa pretende responder às perguntas banais: quanto a empresa pretendia ganhar por sua intermediação na compra escandalosamente superfaturada de vacinas não testadas e qual parcela dos R$ 1,6 bilhão do montante do negócio iria para os militares do Ministério da Saúde (sic), para o grupo do líder do governo no Congresso e, eventualmente, para o entorno familiar do presidente.
No segundo, com mais potencial para afetar a classe média – afinal os planos da Prevent Senior não são os mais populares do mercado – cabe saber se havia mais do que afinidade ideológica entre o negacionismo presidencial e a atitude de médicos empresários que realizaram, sem o conhecimento e anuência dos seus pacientes, experimentos com drogas não recomendadas pela Organização Mundial da Saúde (OMS) ou pela Anvisa, levando alguns a óbitos não declarados.
O departamento de ilusionismo está à toda, com o “desministro” Marcelo Queiroga inventando a história da vacina para adolescentes para ver se distrai alguém e a grande mídia alertando em manchetes a inevitável vitória de Lula se o adversário for Bolsonaro.
Sem ilusões: o que a grande mídia, meio limpinha e não exatamente cheirosa, está alertando é para a urgência de inventar uma candidatura viável que torne desnecessárias as alternativas recém cogitadas de achar uma maneira, jurídica ou física, de impedir a candidatura Lula.