O secretário de Defesa dos EUA, James Mattis, se reuniu
nesta segunda-feira (13/08) com os ministros brasileiros da Defesa e das Relações
Exteriores para debater assuntos de interesse bilateral e regional. Mas qual o
motivo desse interesse súbito do chefe do Pentágono pelo Brasil, um mês e meio
depois da visita do vice-presidente Mike Pence ao país?
“O secretário de Defesa James N. Mattis se encontrou
com o ministro das Relações Exteriores do Brasil, Aloysio Nunes, em 13 de
agosto, no Palácio do Itamaraty, para reafirmar a longa relação bilateral entre
os Estados Unidos e o Brasil”, disse a porta-voz do Pentágono, Dana W.
White, em uma das poucas declarações sobre os encontros de Mattis em Brasília.
“Eles concordaram que seus valores comuns de princípios interamericanos de
direitos humanos, Estado de direito e paz são uma fundação sólida para uma
parceria estratégica de longo prazo”.
Na agenda oficial de Mattis, estavam a discussão de
alternativas para avançar na cooperação nas áreas técnica, científica,
político-militar e de indústria de defesa, como no caso do uso, pelos EUA,
da base de lançamento de foguetes de Alcântara, no Maranhão. Mas, para
alguns especialistas, pode haver algo além.
De acordo com o professor de Relações Internacionais Thomas
Ferdinand Heye, da Universidade Federal Fluminense (UFF), enquanto há, nos EUA,
aqueles que acenam para a América Latina com a ideia de construir um muro ou de
impor sobretaxações nas commodities, há também aqueles atores que desejam
reforçar os laços de Washington com os países da região, em busca de alianças,
apoio ou de manter a tradição de “quintal norte-americano”. Para o
especialista, há, hoje, um interesse claro de parte desses atores em marcar
presença no Brasil e nos demais países sul-americanos para fazer frente
principalmente à influência da China.
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Mattis (esq.) na Escola Superior de Guerra, no Rio de Janeiro (Foto: Embaixada dos EUA/Fotos Públicas)
“A China está muito presente para alguns países da região. A gente não pode esquecer que, por exemplo, o relatório do Banco Interamericano de Desenvolvimento mostra que a China investiu em uma década em infraestrutura mais do que os Estados Unidos em meio século”, destacou Heye. “Então, a China está chegando muito forte na América Latina no momento, nos últimos anos. E isso é uma coisa nova na região”.
Segundo o professor, antes, os Estados Unidos costumavam ser o grande parceiro comercial e político da maioria dos países da região, mas com um distanciamento relativo desde o fim da Guerra Fria. Agora, ele vê o fortalecimento de uma pauta mais interessante, inclusive no caso do Brasil, com a discussão da venda da Embraer, da necessidade de o país ter acesso a insumos para a sua indústria bélica e a tecnologias controladas pelos EUA.
“Então, estariam também coisas interessantes do nosso lado a propor.”
Sobre a Venezuela, Heye não vê a atual crise do país como um dos motivos impulsionadores para a visita do secretário de Defesa dos EUA ao Brasil e a outros Estados sul-americanos, já que, para ele, a opção militar dos EUA contra Caracas teria caráter unilateral, dispensando o apoio de vizinhos.
“Os Estados Unidos não precisam do Grupo de Lima ou de qualquer conjunto de países se eles quiserem tomar uma decisão unilateral. Agora, não vão fazer isso porque tem um custo político absurdo para os americanos.”