Na época da guerrilha, os companheiros não apostavam nada em Gustavo Petro como um revolucionário. Era a antítese dos guerrilheiros mais famosos no continente: fortes, corajosos, carismáticos e simpáticos. Ele era tímido, dócil, usava óculos grandes e quase não tinha amigos. Mas, quando tomava a palavra, calava todos com seus argumentos.
“Petro gosta de lutar, mas mais com argumentos do que com os punhos”, comenta ao Opera Mundi um ex-companheiro do M-19, o grupo guerrilheiro do qual o hoje candidato à presidência da Colômbia pelo Pólo Democrático Alternativo participou na juventude. Outro um colaborador define o ex-guerrilheiro como “marxista, mas maoísta no tema da terra e é também um pós-estruturalista que foi influenciado por Negri, Gramsci e Foucault”.
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Mesmo na guerrilha, Petro nunca usou armas. Era um militante, vereador de Zipaquirá, quando o M-19 assinou um acordo de paz com o então presidente Belisario Betancur, em 1984. Decidiu sair a público e começaram os problemas. Foi preso e torturado, algo que o traumatizou: “Agradeço que não me deixou rancor nem sentimento de vingança, mas a tortura foi um episódio duro que ficou marcado em minha juventude”, diz Petro.
EFE
O candidato da esquerda colombiana Gustavo Petro
Na campanha eleitoral, Gustavo Petro começou como segundo em intenções de voto, atrás de Álvaro Uribe, quando ainda não se sabia se o presidente poderia concorrer a um terceiro mandato. Com Uribe fora do páreo, foi superado pelo governista Juan Manuel Santos, candidato uribista favorito, e depois pela conservadora Noemí Sanín. No final, acabou arrastado pela “onda verde” de Antanas Mockus.
Gustavo Petro paga o preço das divisões internas de seu partido, o Pólo Democrático Alternativo, que apenas um mês atrás conseguiu se recompor e apoiar um candidato único. Com isso, recuperou-se um pouco nas pesquisas, chegando perto da terceira posição, com possibilidade de superar a candidata conservadora no domingo (30/5). Paga também por ser o candidato mais à esquerda em um país fortemente voltado para a direita. E por ter atacado publicamente Álvaro Uribe, algo que, na Colômbia, ninguém se atreve a fazer por causa da popularidade do presidente.
Insultos
A opinião pública o conhece por sua eloquência, o que demostrou nos debates como senador, que marcaram seu mandato que está terminando. Sua principal vitória política foi ter sido o primeiro a denunciar publicamente os laços entre políticos e paramilitares – o chamado “escândalo da parapolítica” que abalou o segundo mandato de Uribe. Na ocasião, Petro expôs o ex-governador Salvador Arana e seu colega senador Álvaro García como cúmplices das atrocidades cometidas pelas AUC (Autodefesas Unidas da Colômbia, grupo paramilitar de direita). Ambos acabaram condenados a sentenças longas.
Durante o debate, Gustavo Petro foi insultado como “palhaço”, “guerrilheiro de butique” e o próprio presidente Uribe chegou a chamá-lo de “terrorista vestido de civil”. Em resposta, Petro o convidou a não remexer o passado de nenhum dos dois, porque o presidente teria “currículo pior que ele”. E, como Uribe insistiu, Petro levou ao senado o debate sobre o apoio de Uribe, quando governador, aos grupos “Convivir de Antioquia”, considerados pela ONU e ONGs como antecedentes legais dos paramilitares das AUC.
Além do tema do paramilitarismo, Petro propôs leis de reforma agrária e se opôs à lei de privatização dos servicios de saúde. Por seu trabalho no congresso, recebeu votações altas nas eleições de 2002 e 2006. Também foi nomeado o melhor parlamentar por seus próprios pares, inclusive os adversários.
Onda verde
Mas o que mais o afetou sua candidatura foi o fenômeno verde. Mockus rouba de Petro o voto ideológico, mesmo sendo o candidato do PDA mais forte nos estratos mais baixos da sociedade, justamente porque as pessoas identificam seu partido com políticas sociais.
As intenções de voto para Petro são melhores em Bogotá, onde seu partido tem a prefeitura, e na costa caribenha, um pouco porque o candidato é natural daquela região e muito porque as vítimas dos paramilitares reconhecem seus esforços contra os parapolíticos.
Como bom orador, Petro foi indicado pela imprensa e por observadores como o candidato de melhor desempenho em muitos dos debates na TV. A organização “Transparência pela Colômbia”, uma das ONGs que atuam no país, registra que “o candidato do Pólo Democrático Alternativo se destacou nos debates, não só pelo conteúdo de suas respostas, mas porque marcou uma diferença programática com relação aos outros candidatos. Além disso, Petro é o único candidato que tem a intenção de mudar as estruturas socioeconômicas do país, devolvendo ao povo da Colômbia o que lhe pertence, construindo o piso sólido para a paz, a segurança e a prosperidade para todos os habitantes da Colômbia”.
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