O enfrentamento das enchentes no Rio Grande do Sul pode ser uma oportunidade para o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva avançar com uma agenda de medidas positivas a respeito da crise climática e suas consequências.
Segundo a socióloga Flávia Braga Vieira, doutora Planejamento Urbano e professora da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ), o que ocorre no sul do Brasil permite ao governo federal utilizar esse parâmetro para a planejar uma estrutura capaz de agir preventivamente em eventos climáticos extremos no futuro, e também impulsionar parâmetros para reconstrução pós-tragédia com foco no combate às desigualdades.
“O Brasil tem produção de conhecimento para isso, tem especialistas, esses especialistas têm produzido propostas sobre como lidar com essas emergências, então não é difícil reunir os elementos necessários para algumas das leis capazes de criar essa estrutura, tanto para prevenção de casos futuros quanto para assistência dos afetados, otimizando a distribuição desses recursos”, analisou Flávia.
A especialista também considera que a comoção gerada nacionalmente a respeito da tragédia entrega ao governo a oportunidade de aprovar medidas no Congresso, inclusive com votos da direita e do chamado Centrão.
Ela usou inclusive o exemplo da famosa reunião realizada pelo governo do ex-presidente Jair Bolsonaro (2019-2022) durante a pandemia, quando o então ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, afirmou que era o momento de aproveitar o pânico pela pandemia para “passar a boiada”, em referência a um pacote de medidas impopulares defendidas pelo bolsonarismo.
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Reconstrução de cidades gaúchas como Porto Alegre, assim como a reparação das pessoas afetadas pelas enchentes, dependerão de ação do governo federal
“Naquela vez, se ‘passou a boiada’ com medidas a favor de interesses financeiros específicos, no caso deste governo, que é um governo progressista, podemos passar as leis de salvaguarda da população que foi atingida. Quem no Congresso atual vai ter coragem de votar contra leis de reparação às pessoas atingidas?”, ponderou a acadêmica.
Para Flávia Braga Vieira, “neste momento o governo vai ter que fazer uma opção, vai ter que decidir para quem vai repassar os recursos, e essa é uma opção política”.