O ministro da Saúde do Chile, Jaime Mañalich, deixou o governo neste sábado (13/06) em plena crise de coronavírus, após mais de uma semana de polêmicas sobre confusão nos dados da pandemia. Oficialmente, a covid-19 deixou mais de três mil mortos no país, mas um relatório independente revelou que a quantidade de vítimas fatais é superior a cinco mil.
“Agradeço Jaime Mañalich por seu engajamento”, declarou neste sábado o presidente chileno, Sebastián Piñera, ao indicar a saída do ministro. “Todos sabemos que a melhor maneira de enfrentar a pandemia é com unidade, com diálogos e acordos”, reiterou. No seu lugar foi designado o ex-presidente da Faculdade de Medicina, Enrique Paris.
Sites de notícia chilenos afirmam que foi Piñera quem resolveu demitir o ministro, depois da má repercussão sobre nova metodologia para contabilizar as mortes por coronavírus no país, inexplicável para muitos epidemiologistas. O governo mudou ao menos três vezes a forma de identificar as infecções e os óbitos. Atualmente, o balanço se baseia no cruzamento entre as informações do registro civil e os resultados positivos dos testes de coronavírus.
Há dois dias os novos casos somam mais de 6.500 e o número de mortos ultrapassa os 200 nas últimas 24 horas, para um total de 167.355 infectados e 3.101 mortos desde 3 de março, quando foi registrado o primeiro caso de coronavírus no país.
Vazamento de dados
No entanto, recentemente, o Ministério da Saúde do Chile indicou à Organização Mundial da Saúde (OMS) que os óbitos por coronavírus no país ultrapassam os cinco mil, muito acima do número do último registro oficial. A informação foi divulgada pelo Centro de Pesquisa e Informação Jornalística chileno (Ciper).
O documento ao qual o grupo teve acesso revela que o Departamento de Estatísticas (Deis) do Ministério da Saúde do Chile relatou à OMS uma quantidade 60% maior do que o último registro.
Rodrigo Balladares M. / Minsal
Governo mudou ao menos três vezes a forma de identificar as infecções e os óbitos em decorrência do coronavírus
Neste sábado, a subsecretária da Saúde, Paula Daza, justficou que a diferença nos números ocorre porque o Ministério não contabiliza apenas as mortes de pessoas testadas positivas, mas também os óbitos registrados como suspeitos de contaminação por covid-19.
Diante da polêmica, presidentes dos principais partidos de oposição pediram em uma carta aberta uma mudança urgente na estratégia para enfrentar a pandemia
“A situação em nosso país continua a se agravar, sobretudo na região metropolitana”, declarou na sexta-feira (12/06) Arturo Zunida, membro da equipe do Ministério da Saúde.
As infecções continuam aumentando no país de 18 milhões de habitantes, apesar do confinamento imposto aos sete milhões de moradores de Santiago há cerca de um mês. As cidades de Valparaíso e Viña del Mar, 150 quilômetros a oeste da capital, além de várias outras cidades, também entraram em quarentena ontem.
Segundo país a demitir ministro da Saúde
Ao lado do Brasil, o Chile se torna o segundo país a trocar o ministro da Saúde em plena pandemia. Luiz Henrique Mandetta foi exonerado em abril por desagradar o presidente Jair Bolsonaro ao insistir na importância do confinamento para barrar a propagação do coronavírus. Menos de um mês depois foi a vez de Nelson Teich renunciar por discordar da insistência do chefe de Estado em utilizar a cloroquina para tratar até os casos mais leves da covid-19 nos hospitais brasileiros.
O cargo é atualmente ocupado de forma interina pelo general Eduardo Pazuello. Ele virou tema de brincadeiras e piadas nas redes sociais depois de afirmar nesta semana que o Norte e Nordeste do Brasil já passaram por sua pior fase da pandemia do coronavírus, pois as regiões representam o Hemisfério Norte na posição geográfica e, segundo ele, sofreram mais com o “inverno”.