O alemão Cornelius Gurlitt, filho de um importante marchand de arte durante o nazismo, afirma que não irá restituir “voluntariamente” a eventuais proprietários dos 1.406 quadros encontradas em sua casa na cidade de Munique, sul da Alemanha.
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O caso foi revelado no início do mês e supõe-se que muitas dessas obras tenham sido roubadas por nazistas de seus proprietários originais, além de outras terem sido compradas por seu pai, Hildebrand, em condições vantajosas, de proprietários judeus que as usavam como moeda de troca para fugir do III Reich. Calcula-se que cerca de 590 obras estão nessa situação.
“Voluntariamente não vou devolver nada”, afirma Gurlitt, de 80 anos, em declarações à revista Der Spiegel. Ele assegura que seu pai adquiriu todas as peças legalmente.
Agência Efe (07/11)
Casa de Cornelius Gurlitt em Munique, onde foram achadas 1.500 obras de arte
O octogenário explica na entrevista que tanto a Justiça como a opinião pública deram uma versão “literalmente falsa” da origem de sua coleção.
A história dos quadros, que incluem desde obras inéditas como de grandes mestres do século XX como Picasso, Otto Dix, Matisse, entre outros, foi revelada duas semanas atrás por reportagem da revista “Focus”. O grande mistério do caso é por que a justiça alemã, que descobriu o acervo e o confiscou em 2012, só se pronunciou agora sobre o caso.
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Gurlitt é descrito pela “Der Spiegel” como um idoso que aparentemente não entende o rebuliço criado a seu ao redor. De passado obscuro, nunca trabalhou – vivia da venda de algumas dessas obras ao mercado negro – e mal falava com os vizinhos. Ele afirma à revista que seu único propósito era “viver em casa” com suas obras de arte. “Poderiam ter esperado que eu estivesse morto”, argumenta, em relação à apreensão das obras que, segundo ele, “são o que mais amei em minha vida”.
As autoridades alemãs divulgaram até agora um lista de 25 peças da coleção na internet, mas espera-se que a próxima semana sejam publicados outros 590 quadros para acelerar sua restituição, se for comprovado que é arte depredada pelos nazistas.
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De acordo com um relatório da ZKA (sigla em alemão do departamento nacional de investigações alfândegárias) divulgado na semana passada pela revista Focus e o jornal Bild am Sonntag, Gurlitt é o proprietário legítimo de parte das obras apreendidas em seu apartamento em Munique. A regra se aplica a 315 peças modernistas classificadas como “arte degenerada” e confiscadas pelo regime de Hitler.
Capa da Focus revelando o achado
Todas elas se encontravam em museus nacionais e municipais, portanto “não são cabíveis quaisquer reivindicações de devolução ou ressarcimento por parte dos proprietários originais”.
Atualmente, a procuradoria-geral de Augsburg realiza inquérito contra Gurlitt por sonegação de impostos.
Segundo o Bild, em 1940 o pai do colecionador, o marchand Hildebrand Gurlitt, comprara do Ministério nazista da Propaganda mais de 200 objetos de “arte degenerada” por um total de 4 mil francos suíços.
Entre eles encontravam-se Família de fazendeiros de Pablo Picasso, Passeio de Marc Chagall e Porto de Hamburgo de Emil Nolde. No ano seguinte, o negociante morto em 1956 adquiriu do Estado nazista outras 115 peças, igualmente modernistas.
Em fevereiro de 2012, durantea batida no apartamento do herdeiro, os investigadores também apreenderam os livros-caixa de seu pai, informou a Focus. Deles constavam os nomes de colecionadores judeus de que Hildebrand adquirira os quadros, geralmente a preços módicos.
Foram também apreendidas 181 obras que “com grande probabilidade” pertenceram a um colecionador de Dresden, que as vendera antes de fugir do terror nazista, prossegue o semanário.
Segundo a avaliação das autoridades alfandegárias, os herdeiros desse colecionador teriam direito à devolução das peças. O mesmo se aplica a pelo menos 13 outros quadros, que foram ou obtidos por organizações nazistas recorrendo à coação dos proprietários, ou vendidos sob pressão.
(*) com notícias da Efe e da Deutsche Welle