O plenário do Senado rejeitou na noite desta terça-feira (16/12) a indicação do diplomata Fabio Mendes Marzano para o cargo de representante do Brasil na delegação permanente para as Nações Unidas em Genebra (MSF 81/2020). Foram 37 votos contrários e apenas nove a favor, além de uma abstenção.
A rejeição representa uma derrota para o chanceler Ernesto Araújo e para o presidente Jair Bolsonaro. Marzano é considerado um aliado do ministro dentro do Itamaraty e foi um dos enviados à Hungria para um evento organizado pelo governo ultraconservador de Viktor Orbán sobre “proteção a cristãos”.
Marzano substituiria a embaixadora Maria Nazareth Farani, que vai para o Consulado do Brasil em Nova York. Farani ficou conhecida pela defesa do governo Bolsonaro em Genebra, em especial durante o episódio em que enfrentou o ex-deputado Jean Wyllis.
Além disso, é muito raro que o Senado rejeite a indicação de um embaixador – até ontem, só havia acontecido duas vezes: a primeira, em 1961, no governo Jânio Quadros (1917-1992), contra o nome do empresário José Ermírio de Moraes para a Embaixada do Brasil em Bonn, na então Alemanha Ocidental; e a segunda, em 2015, na gestão Dilma Rousseff, quando a Casa rejeitou a indicação de Guilherme Patriota para a OEA (Organização dos Estados Americanos).
Pouco antes da votação dessa indicação, o senador Major Olimpio (PSL-SP), antigo aliado do presidente Bolsonaro, pediu a rejeição do nome de Marzano. O senador declarou que, durante a sabatina na Comissão de Relações Exteriores da Casa, o diplomata respondeu de maneira “grotesca e irresponsável” a um questionamento da senadora Kátia Abreu (PP-TO) sobre uma possível contribuição do Senado ao Acordo Mercosul-União Europeia.
Arthur Max/MRE
Aliado de Araújo no MRE foi rejeitado pelo Senado para assumir posto em Genebra
Ao responder, Marzano disse que o assunto não era da sua alçada e não poderia responder à senadora. Olimpio considerou a resposta inadequada e pediu a rejeição do indicado.
“Se o Senado votar nesse cara, nós estaremos negando nosso respeito. Vamos votar contra [a indicação], o Senado todo!”, pediu o senador.
Abreu agradeceu a votação dos colegas e o apelo do senador Olimpio. Ela disse que ficou bastante claro que o Senado tem um papel muito importante na política externa brasileira. Para a senadora, a decisão de rejeitar o indicado não demonstra arrogância nem busca pelo poder, mas a posição de quem respeita o próprio Parlamento.
“Queremos que nosso país avance. Queremos participar dos acordos bilaterais. Essa casa se posiciona hoje com respeito ao povo brasileiro”, afirmou a senadora.
Na mesma sessão, outros dois nomes indicados pelo governo foram aprovados. O primeiro foi o da diplomata Maria-Theresa Lazaro, para o cargo de embaixadora do Brasil na Tunísia, com 45 votos a favor e apenas um contrário, além de cinco abstenções. Além dela, Ligia Maria Scherer recebeu sinal verde para ocupar a embaixada brasileira em Mascate, Omã, com 44 votos a favor, um contra e três abstenções.
(*) Com Agência Senado