Pela primeira vez em 15 anos, o SPD (Partido Social-democrata da Alemanha) aparece numericamente à frente em uma pesquisa eleitoral no país. Os alemães vão às urnas no próximo dia 26 de setembro para escolher os novos membros do Bundestag (o Parlamento) e, por consequência, o sucessor da chanceler Angela Merkel (CDU), cujo partido tem desabado nas intenções de voto.
Segundo pesquisa divulgada nesta terça-feira (24/08) pelo Instituto Forsa e pela emissora RTL, o SPD aparece com 23% das intenções de voto, contra 22% da União (coligação de centro-direita entre os Democratas Cristãos da CDU e os Sociais-Cristãos da CSU), 18% dos Verdes, 12% dos liberais (cuja sigla é FDP – em alemão a sigla não é um xingamento), 10% para a AfD (Alternativa para a Alemanha, de extrema direita) e 6% para A Esquerda (partido herdeiro do SED, que governava a Alemanha Oriental até 1989).
Se os sociais-democratas obtiverem mais cadeiras no Bundestag que a União, eles terão preferência para tentar formar governo – que seria liderado por Olaf Scholz, atual vice-chanceler e ministro das Finanças. Levantamentos mostram que Scholz vem se tornando um dos políticos mais populares da Alemanha nos últimos meses.
Coalizão
Pelo resultado da pesquisa, nenhum partido, no entanto, conseguiria maioria absoluta no Parlamento, tendo que fazer alguma coligação para governar.
Atualmente, a Alemanha é liderada por Merkel em uma coalizão União-SPD. Na última eleição, em 2017, a União obteve 32,9% dos votos, contra 20,5% dos social-democratas, tendo preferência, assim, para liderar o gabinete.
Os números mostram uma perda de força significativa para os conservadores (União) em relação às últimas eleições, muito por efeito de repetidas gafes cometidas pelo candidato do grupo, o governador do estado federado da Renânia do Norte-Vestfália, Armin Laschet, além do desgaste natural de 16 anos de CDU no poder.
Em julho, a União aparecia com mais de dez pontos de vantagem para o SPD, mas a diferença evaporou. Vale lembrar que, em 2005, Merkel assumiu o governo das mãos de um social-democrata, o então chanceler Gerhard Schröder.
Bundesministerium der Finanzen
Olaf Scholz, candidato social-democrata, tem se tornado cada vez mais popular; partido aparece na frente da CDU em pesquisas
Verdes, Esquerda e extrema-direita
Até meados deste ano, a grande sensação da política alemã eram os Verdes, que haviam obtido resultados significativos em pleitos regionais, reelegendo governadores e aumentando seu total de votos. A impressão de que um bom resultado estava por vir só aumentou quando a deputada Annalena Baerbock foi escolhida para ser a candidata do partido à chancelaria, já que os ambientalistas chegaram a liderar as pesquisas.
No entanto, uma série de ataques (e escândalos) abalaram a candidatura de Baerbock. Seus adversários a acusam de ser inexperiente, já que nunca ocupou um cargo no Executivo. Além disso, ela precisou responder por “imprecisões” no currículo e por acusações de plágio em um livro, levando os Verdes a uma queda nas pesquisas. Na Alemanha, acusações de plágio em trabalhos acadêmicos já levaram à derrubada de um ministro (Karl-Theodor zu Guttenberg, da Defesa, em 2011).
Já na extrema-direita, a AfD parece fadada a repetir o desempenho de quatro anos atrás, quando obteve 12% dos votos. Naquela época, isso foi o suficiente para que o partido virasse a principal força de oposição no Bundestag. Hoje, porém, com o crescimento na intenção de votos de outros partidos, é possível que a posição não se repita. A AfD é mais forte no leste do que no oeste alemão.
Por sua vez, A Esquerda (Die Linke) aparece com 6% nesta pesquisa da Forsa. Se confirmado, o resultado seria inferior ao obtido em 2017 (9,2%) e ficaria muito próximo da cláusula de barreira de 5% necessária para entrar no Parlamento.
O sistema eleitoral alemão é diferente do brasileiro e cada eleitor tem direito a dois votos: um, chamado de mandato direto, escolhe um candidato do distrito onde esse eleitor mora. O outro voto é dado a um partido, que apresenta uma lista de candidatos. Metade do Bundestag (que deve chegar a 775 cadeiras neste ano) é escolhido pelo mandato direto; a outra, pelos votos nas listas.
A cláusula de barreira conta no segundo voto. O partido precisa ou conquistar 5% desses votos, ou obter ao menos três mandatos diretos no primeiro voto para entrar no Bundestag.
Por isso, é improvável que A Esquerda fique de fora do Parlamento, já que o partido ainda retém força em algumas áreas da antiga Alemanha Oriental (em especial em Berlim) e tem boas chances de conseguir mandatos diretos. Em 2017, a agremiação obteve cinco.