O último debate presidencial antes do segundo turno na Argentina foi o tema mais repercutido no país nesta segunda-feira (13/11), especialmente pela polêmica declaração do candidato da extrema-direita, Javier Milei, que confessou sua idolatria pela falecida ex-primeira-ministra britânica Margaret Thatcher.
A chamada “Dama de Ferro” é ícone de um dos maiores traumas recentes da história argentina, já que era ela quem governava o Reino Unido quando o país venceu os sul-americanos na Guerra das Malvinas, em 1982.
Questionado por Sergio Massa, candidato da coalizão de centro-esquerda peronista Unión pela Pátria e seu adversário no segundo turno, Milei disse que via a Thatcher como um ídolo.
“Na história da humanidade existiram grandes líderes e a senhora Thatcher foi uma dessas pessoas, como Reagan, como Churchill, De Gaulle e outros”, comentou o candidato do partido ultraliberal A Liberdade Avança.
Sergio Massa respondeu dizendo que a declaração de Milei demonstra que ele possui uma “mente colonizada” e que “Thatcher é inimiga da Argentina, ontem, hoje e sempre”.
“Nossos heróis são absolutamente inegociáveis. Embora Thatcher seja uma figura para você, não é para mim e para a imensa maioria dos argentinos”, completou.
Reação dos ex-combatentes
As declarações de Milei sobre Thatcher no debate realizado na noite deste domingo (12/11) atingiram especialmente em setores militares e nacionalistas, cuja tendência era votar por Milei, mas que mostraram forte indignação.
Um desses grupos, o Centro de Ex-Combatentes das Ilhas Malvinas (CECIM) da cidade de La Plata, emitiu um comunicado nesta segunda-feira com um questionamento que intui e coloca em xeque essa possível preferência do mundo militar por Milei, a partir de suas palavras a favor de Thatcher no debate.
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Durante debate na Argentina, Milei confessou que Margareth Thatcher é uma das figuras que mais admira na política
“Nós, argentinos que habitamos este solo de imensos recursos, estamos dispostos a dar, através do voto universas, a possibilidade de que aqueles que defender velhos padrões de colonização política e cultural transformem a Argentina em um não país?”, indaga o documento do CECIM.
Outra reação de repúdio foi a do governador da província de Terra do Fogo, Gustavo Melella. Ele recordou que há documentos comprovando que ao menos um dos episódios decisivos da Guerra das Malvinas, a destruição do submarino argentino General Belgrano, foi causada por uma decisão direta de Thatcher, que orientou o ataque britânico contra a embarcação.
“Que infeliz a declaração de Milei. Como é possível um candidato presidencial se dizer admirador de Margaret Thatcher, que deu a ordem de atacar o submarino General Belgrano, acabando com a vida de 323 tripulantes argentinos. Não podemos permitir que não sejam respeitadas a honra e a memória dos caídos e dos veteranos da Guerra das Malvinas”, comentou o político em suas redes sociais.
Comparação com Mbappé e Cruijff
A polêmica opinião de Milei sobre Thatcher, ganhou tom de debate futebolístico no mesmo debate, minutos depois da primeira resposta, quando o candidato da extrema-direita tentou justificar seu ponto de vista comparando a ex-primeira-ministra britânica com duas figuras conhecidas do mundo do futebol.
Para dizer que sua admiração a Thatcher não é uma afronta à história da Argentina, o ultraliberal disse que seria o mesmo que odiar a Johan Cruijff e Kylian Mbappé por teremo feitos muitos gols contra a seleção do país em Copas do Mundo, mas cometeu uma gafe ao dizer que o holandês Cruyff era alemão.
“Com esse critério, em 1974, quando a Alemanha (sic) marcou quatro gols contra a Argentina, o Cruijff arrebentou, teríamos que dizer que o Cruijff é um mal jogador? Ou o dizer o mesmo do Mbappé pelo que ele fez contra nós na final da Copa do Mundo (de 2022)? Uma coisa não tem nada a ver com a outra”, refletiu Milei.
O jogo em 1974 ao qual se referiu o candidato foi contra a Holanda, pela segunda fase de grupos daquela Copa. A Argentina perdeu por 4×0, com dois gols de Cruijff, e não quatro.
O debate foi um dos últimos eventos da campanha presidencial da Argentina, cujo segundo turno será realizado no próximo domingo (19/11).