“Sim” e “sim”. Após cinco dias de consulta popular, o processo de votação no referendo para determinar a incorporação das autoproclamadas repúblicas populares de Donetsk e Lugansk e das regiões de Kherson e Zaporíjia à Rússia foi encerrado, com massivo voto favorável à adesão à República Russa.
Com 100% das urnas apuradas, 98,42% dos eleitores de Zaporíjia, famosa por sua usina nuclear, optaram por ser parte da federação russa. Em Kherson, onde agressões foram registradas durante todo o processo eleitoral, 87,05% expressaram o desejo de se unir à administração de Moscou.
Em Donetsk, o “sim” venceu com 99,23% dos eleitores, enquanto em Lugansk foi registrado 98,42% de adesão.
Com relação à participação no referendo, em Donetsk, 97,51% das pessoas aptas a votar — no território libertado e também na Rússia, na condição de refugiados —, compareceram. Em Lugansk, a resposta foi dada por 92,6%. Em Zaporíjia o comparecimento foi de 85,4% e, em Kherson, que foi atacada militarmente durante todo o período eleitoral, 76,86%.
Para ter validade internacional, um referendo deve ter participação de mais de 50% dos eleitores, mais um.
Transparência
Em São Petersburgo, a segunda maior cidade da Rússia, onde milhares de refugiados votaram, as urnas foram abertas pouco após às 16h (horário local).
A reportagem pode acompanhar o início das apurações na cidade portuária às margens do Mar Báltico em um centro de documentação internacional para estrangeiros.
Para iniciar o processo, a responsável pelo colégio eleitoral leu as regras acordadas para o referendo — quais cédula eram válidas, como seriam registrados os votos e qual o destino dos formulários com os resultados.
Diálogos do Sul
Montante de fichas contabilizadas
O primeiro processo foi a destruição de cédulas não utilizadas, conforme determina a regra da realização do referendo, para que não fossem adulteradas. Esse material foi selado em um envelope específico.
Na sequência, foi realizada a contagem dos eleitores que votaram para que, posteriormente, os números fossem checados com a quantidade de cédulas nas urnas. Lembrando que a contagem foi dividida por região. Foi possível acompanhar a contagem de votos de refugiados das regiões de Kherson e Zaporíjia que vivem em São Petersburgo e ao redor.
A contagem é manual e até o momento em que pudemos observar, houve um voto nulo (em que a pessoa riscou um X em toda a folha e marcou ambas as opções “sim” e “não”) e um voto com uma declaração política, agradecendo o presidente Putin pela realização da consulta. No mais, todos os votos foram “sim”.
A observadora internacional Libertad Velázquez, da Venezuela, que é especialista em eleições, avaliou o processo de contagem de votos que acompanhou como “limpo”.
“[Os voluntários do centro de votação] estavam bastante treinados, fizeram todo o processo de forma ágil”, contou à reportagem.
“O conteúdo das urnas foi checado duas vezes e comparado duas vezes com as listas de votantes antes [de os voluntários] selarem e entregarem os envelopes e fecharem o centro [de votação] com a nossa presença [observadores internacionais].
No centro acompanhado por Velázquez, cerca de 1.600 pessoas — das quatro regiões — votaram, sendo a maioria de Donetsk. Destas, sete optaram pelo “não” e três votaram em branco.