Wikimedia Commons – por Hans Asper, cerca de 1531
Em 11 de dezembro de 1518, o cantão de Zurique elege o pregador Ulrico Zuínglio (ou Ulrich Zwingli), 34 anos, ao vicariato da catedral. Seria o começo de uma reforma religiosa original, concorrente daquela de Martinho Lutero.
Jovem humanista, apaixonado pelas letras gregas e latinas, familiaridade com a filosofia e à pessoa de Erasmo de Roterdã, Zuínglio foi antes pároco de Glaris e posteriormente capelão dos soldados suíços, o que lhe permitiu estar presente na Batalha de Marignan.
Indicado para servir em Zurique, denunciou os abusos da Igreja Católica Romana, defendendo uma religião bastante depurada com uma estrutura democrática inclusive sem qualquer estrutura como nos primeiros tempos do cristianismo.
Em suas obras como “Da Justiça Divina”, o pregador desenvolveu uma teologia fundada sobre a gratuidade da Graça numa época em que as indulgências eram vendidas. Costumava dizer que “Deus perdoa a quem ele quer”.
Suas teses eram em seu conjunto próximas das de Lutero, seu contemporâneo, mas não tardaria a ele se opor a propósito do sacramento da Eucaristia, a comunhão no corpo de Cristo pela absorção de uma hóstia consagrada. Queria ver na hóstia apenas um símbolo e não o corpo de Cristo realmente presente.
Em seguida às pregações de Zuínglio, os habitantes de Zurique expurgaram as igrejas de toda a decoração, despojando as representações dos santos e da Virgem. Em 1525, chegaram a abolir a própria missa. Em 6 dos 13 cantões suíços, os habitantes votaram pela adesão à Reforma.
Os cantões rurais permaneceram católicos e apelaram à Áustria para que atacasse Zurique. Desse modo, em 11 de outubro de 1531 Zuínglio encontrou a morte à frente de seus concidadãos na Batalha de Kappel.
Malgrado a derrota, os cantões de Berna, Basileia, Zurique e Schaffhausen permaneceram fieis à Reforma, enquanto em Genebra logo subiria a estrela de outro reformador, João Calvino.
NULL
NULL
Zuínglio foi o líder da reforma suíça e fundador das igrejas reformadas suíças. Independentemente de Martinho Lutero, que era doctor biblicus, Zuínglio chegou a conclusões semelhantes pelo estudo das escrituras do ponto de vista de um erudito humanista. Zuínglio não deixou uma igreja organizada, mas as suas doutrinas influenciaram as confissões calvinistas.
Lutero atacava amiúde algumas afirmações de Zuínglio. Muitas tentativas foram feitas para a aproximação dos dois reformistas, em vão. Quanto à visão teológica, a de Zuínglio tem muitos elementos em comum com a de Lutero nas negações, mas é muito diferente dela nas afirmações. De fato, o motivo que levou Zuínglio à Reforma é precisamente o contrário ao de Lutero. Este último era movido por razões fideístas: a incapacidade do homem, em virtude das quais o homem e Deus estão separados por um abismo tão grande que nenhuma série de intermediários jamais poderá transpor.
Zuínglio, ao contrário, apoiava-se em motivos racionalistas e humanísticos: a bondade essencial do homem, que faz com que ele não precise de nenhuma série de impulsos para subir até Deus, porque está em condições de fazê-lo sozinho. A tendência racionalista da reforma zuingliana pode ser notada imediatamente nas seguintes doutrinas: redução do pecado original a um simples vício hereditário não merecedor de condenação eterna e sem diminuição das forças éticas do homem; valor positivo da Lei e não meramente negativo; felicidade eterna acessível também aos sábios pagãos que tivessem praticado a lei moral natural.
Lutero e Zuínglio estão muito longe um do outro tanto pelos motivos teológicos quanto pelos motivos que se propuseram com a Reforma: enquanto Lutero queria responder à questão “como serei salvo?”, Zuínglio propunha outra: “como será salvo o meu povo?”.
A grande preocupação de Lutero, tanto em Erfurt quanto em Wittenberg, era a salvação de sua alma. Não era certamente uma angústia egoísta porque pode-se dizer que ele tomou sobre si a angústia de toda a sua época. Mas o que constituía o tormento de Zuínglio era a salvação de seu povo.
Com a morte de Zuínglio, assumiu a liderança de sua corrente Heinrich Bullinger, que embora fosse um líder muito capaz, parecia que o movimento estaria condenado a ficar restrito a algumas regiões da Suíça e da Alemanha, não causando qualquer impacto ao restante da Europa e ao mundo.
Eis que entra em cena Calvino, um intelectual brilhante, todavia rígido e dogmático, que iria dar profundidade teológica à fé reformada, sistematizando-a em suas Institutas da Religião Cristã, conduzindo-a a um alcance e impacto por toda a Europa, e daí ao resto do mundo, transpondo fronteiras temporais e territoriais.
Também nesta data:
1936 – Eduardo VIII abdica do trono da Inglaterra
1946 – Unicef é criada pela Assembleia Geral da ONU
1964 – Morre Sam Cooke, cantor norte-americano de soul e gospel
1992 – Países assinam o Protocolo de Quioto
1931 – Parlamento britânico aprova criação do Commonwealth