Em 1º de março de 1896, 100 mil etíopes respondem ao chamado de seu imperador – ou negus – Menelik II. Bem armados e dotados de uma artilharia graças à benevolência dos britânicos, esmagam um exército italiano de 18 mil homens – entre os quais 10 mil europeus – , perto da localidade de Adua. Seis mil europeus morrem no desastre, 1500 são feridos e 1.800 feitos prisioneiros. A Itália sai humilhada dessa aventura colonial iniciada quinze anos antes.
Em 5 de julho de 1882, o governo italiano adquiriu uma companhia de comércio genovesa no golfo de Assab, um pequeno território às margens do Mar Vermelho. Sua principal vantagem era estar na rota marítima que ligava as Índias à Europa através do Canal de Suez. Esse território, incorporado sem obstáculos, à Eritreia atual, tornou-se a primeira colônia italiana.
Em 1887, a Itália obtém do sultão de Zanzibar um protetorado sobre o Chifre da África, que se transformou na segunda colônia, a Somália. Certos dirigentes italianos sonharam desde então na conquista da Etiópia, cujos altos platôs férteis cercavam essas duas colônias semidesérticas. A Etiópia – “país de homens queimados” em grego – também chamado de Abissínia, entrou para a história com o reinado de Axum, nome de uma cidade do norte do país, no Chifre Nordeste do continente africano.
Desde logo convertidos ao cristianismo, os etíopes prestam fidelidade a uma Igreja autocéfala, ou autônoma, de rito monofisista, nascida no século 4. Constituía uma das mais antigas igrejas da cristandade.Refugiados em seus altos platôs, iriam forjar sua identidade nacional na resistência ao Islã que os assediava por todos os lados durante um milênio.
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Ilustração de Batalha de Adua, em 1o de março de 1896
No final do século 19, a Etiópia era o único estado mais ou menos organizado ao sul do Saara. Não era demasiadamente pobre nem se lançava amiúde às guerras intestinas. Em 1887, o Estado é empalmado por um jovem e enérgico soberano, Menelik II, herdeiro dos príncipes salomonides de Choa, uma província desse império. Dentro do império da Etiópia, a dinastia nascida com Menelik vangloriava-se de descender de uma criança nascida dos amores do rei Salomão e da legendária rainha de Sabá. Por esta razão, figura em seus brasões e escudos de armas um leão dito “de Judá”.
Note-se que a Bíblia evoca a rainha de Sabá sem que se soubesse onde se localizava seu reino – talvez no Iêmen ou ainda na atual Somália :“A rainha de Sabá soube da fama que Salomão tinha alcançado, graças ao nome do Senhor e foi a Jerusalém para pô-lo à prova com perguntas difíceis ” … ” o rei Salomão deu à rainha de Sabá tudo o que ela desejou e pediu, além do que já lhe tinha dado por sua generosidade real. Então ela e seus servos voltaram para o seu país” (1 Reis 10).
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Sob pressão de Francesco Crispi, primeiro ministro da Itália de julho de 1887 a fevereiro de 1891, depois de novembro de 1893 a março de 1896, um apaixonado pela aventura colonial, a Itália decide instaurar seu protetorado sobre esse país que a península acreditava estar a seu alcance.Em 2 de maio de 1889, o imperador etíope assina em Wuchalé – Ucciali para os italianos – um tratado de amizade com a Itália. A versão amárico, língua oficial da Etiópia, indicava que Menelik poderia, se o desejasse, solicitar os serviços da Itália em matéria diplomática. A versão italiana o obrigava. Quando se deu conta do engano, Menelik se rebelou.
Os italianos não viam outra solução que não a conquista militar. O comando da operação foi entregue ao governador da Eritreia, general Baratieri. Consciente da superioridade do inimigo em armamento e em homens, resolveu manter suas tropas ao abrigo de sólidas fortificações. Mas não era isto o que o primeiro ministro queria. Tinha necessidade de uma vitória rápida. Exigiu que o general atacasse o inimigo em campo aberto. Foi assim que sobreveio o desastre de Adua. O herói do dia foi um príncipe etíope, o ras Makonen, cujo filho viria a ser bem mais tarde imperador sob o nomem de Haïlé-Sélassié.
Em Roma, o governo de Francesco Crispi não tarda em ser derrubado. A Itália abandona o território da Etiópia e em 26 de outubro de 1896, pelo Tratado de Addis-Abéba, reconhece formalmente a independência da Etiópia.Roma traslada suas ambições coloniais para o Mediterrâneo. Toma do Império Otomano algumas ilhas do Mediterrâneo Oriental, entre elas Rhodes, assim como a Tripolitania e a Cirenaica no norte do continente africano.
Somente 40 anos depois é que o Duce Benito Mussolini se lançaria novamente à conquista da Etiópia com o objetivo de apagar a humilhação de Adua. O imperador Mnelik II, por força de sua vitória, obtém o reconhecimento de sua independência pela Itália e por outras potências ocidentais. Moderniza seu império com a ajuda interessada da França, que constrói uma ferrovia ligando o porto francês de Djibuti à capital etíope de Addis-Abeba (“Nova Flor”). Repele também com sucesso os ataques dos muçulmanos e preserva a Igreja da Etiópia.
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