Em 8 de outubro do ano de 451, enquanto o Ocidente Romano era saqueado pelos hunos, um grande concílio se abre em Calcedônia, localidade defronte a Constantinopla, sobre a margem asiática do estreito de Bósforo.
Várias centenas de bispos orientais e dois delegados do papa haviam sido convocados pelo então imperador de Constantinopla, Marciano. Foi o quarto — e o último — dos grandes concílios ecumênicos que puseram em pauta as estruturas da cristandade. O encontro iria tratar de querelas teológicas bastante sutis mas que teriam consequências importantes para os povos do Oriente.
Em primeiro lugar, o concílio ratificou em primeiro lugar a condenação da heresia ariana pronunciada no Concílio de Niceia em 325 e ainda praticada pelos povos bárbaros. Esta heresia fazia de Cristo um simples intermediário entre os homens e Deus.
Os bispos reunidos na Calcedônia reafirmaram o dogma da Santíssima Trindade. Assim agindo, condenavam com força as doutrinas opostas pelo patriarca de Constantinopla, Nestorius, e de um monge de Alexandria, sobre a natureza divina e humana de Cristo.
O nestorianismo ou doutrina de Nestorius, estabelecia uma estrita distinção entre as naturezas humana e divina de Cristo. Essa doutrina iria dar nascimento à Igreja síria oriental. Seria muito ativa no Oriente e até na Mongólia e na China. Comunidades nestorianas subsistem até hoje no Iraque e mesmo na Índia.
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Quarto e último dos grandes concílios ecumênicos marca ruptura do oriente com a cristandade
O monofisismo, doutrina inspirada pelo monge Eutiques só vê em Cristo sua natureza divina. Essa doutrina seduziu os cooptas do Egito bem como os cristãos da Armênia e certas comunidades do Oriente Próximo. Até hoje, ela tem curso na Igreja coopta da Etiópia e na Igreja síria da Índia.
No concílio da Calcedônia, os bispos orientais concluíram seus trabalhos pondo em pé de igualdade o patriarcado de Constantinopla e a sede papal de Roma:
Os padres, com efeito, concederam com razão à Sé da antiga Roma a preferência, porque esta cidade era a cidade imperial. Movidos pelo mesmo motivo, os 150 bispos concederam a mesma preferência à Santíssima Sé da nova Roma, pensando que a cidade, honrada com a presença do imperador e do senado e gozando dos mesmos privilégios civis que Roma, a antiga cidade imperial, deveria ter também o mesmo nível superior que aquela nos negócios da Igreja, mesmo sendo a segunda após ela, de sorte que os metropolitanos das dioceses de Ponte, da Ásia (proconsular) e da Trácia e somente eles, bem como os bispos das partes dessas dioceses ocupadas pelos bárbaros, serão consagrados pela Santa Sé da Igreja de Constantinopla.
O bispo de Roma, ou seja, o papa Leão I, não gostou nem um pouco de ver que o patriarca de Constantinopla fosse elevado ao seu nível e se apressa em rejeitar o 28º e último cânone das conclusões do concílio: “Voto pela primazia da sé de Constantinopla”. A ruptura entre o catolicismo e a ortodoxia já rondava os ares do clero cristão.
Mais grave ainda, de consequências mais imediatas, a condenação do monofisismo atinge os habitantes das regiões orientais Síria e Egito. Fieis à heresia, começam a tomar distância de Constantinopla.
Dois séculos mais tarde, quando os árabes muçulmanos atacaram essas regiões, defrontaram-se com comunidades pouco combativas, se não acolhedoras, pois pouco dispostas a defender o imperador grego.
(*) A série Hoje na História foi concebida e escrita pelo advogado e jornalista Max Altman, falecido em 2016.
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