As inundações de Florença de 5 de novembro de 1966 constituiram os acontecimentos mais marcantes sofridos pela cidade após o fim da II Guerra Mundial. O mar de lama trazido pela subida do rio Arno causou danos consideráveis em toda a cidade, destruindo bens materiais e, em particular, numerosas obras de arte conservadas desde a Renascença.
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Vista do rio Arno pela Ponte Vecchio, em Florença
Ao longo dos séculos Florença sofreu com certa regularidade enchentes do rio a que a atravessa. Todavia, a inundação de 5 de novembro foi provavelmente a pior em seus mais de dois mil anos de historia. Contam as crônicas de inundações incrivelmente violentas, como a de 1559, ou outras relativamente leves, como a de 1844, no entanto ambas tremendas. Na primeira, o rio arrasou todas as quatro pontes da cidade.
Após um mês de outubro já bastante chuvoso, uma chuva intensa e contínua se abate sobre Florença a partir de 2 de novembro. Duas barragens situadas a montante da cidade – Levane e La Penna – começam a transbordar. As comportas são então abertas em parte pelo receio de que as barragens se rompessem completamente.
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Biblioteca Nacional Central de Florença viu centenas de milhares de suas coleções destruídas ou danificadas
Na noite de 3 para 4 de novembro, o Arno abre seus diques e o nível da água sobe perigosamente. Os primeiros danos atingem diretamente a célebre Ponte Vecchio e as lojas ali instaladas. Depois de inundar o cais, o rio transborda em toda a cidade que comporta numerosas depressões topográficas e atinge rapidamente o primeiro andar dos edifícios.
As ruas de Florença tornam-se um imenso pântano de lama, mescla de entulho e de combustível depositados nas caves e aprovisionados para o inverno. O lodo e a água entram em toda parte, nas igrejas, museus, na biblioteca central, provocando danos consideráveis sobre o rico patrimônio artístico.
A inundação provocou 34 mortos na cidade e no restante da Província. A água só baixou dois dias mais tarde, deixando a cidade numa situação catastrófica: falta de víveres, pão, energia elétrica e água potável. A água ultrapassou os 4,92 m de altura atingindo um máximo de 6,70m.
Socorro aflui de toda a Itália bem como voluntários – a maioria estudantes – do mundo inteiro. Foram chamado de ‘Angeli del Fango’ (Anjos da Lama) e um marco seria erigido para lembrar de sua ação.
O balanço final mostrou 50 mil famílias sem abrigo, 15 mil viaturas destruídas jaziam nas ruas, 6 mil lojas devastadas. A ponte Anchetta, inaugurada em 1949, destruída.
A água penetrou no Batistério, no Palazzo Vecchio, na Catedral, provocando grandes danos em cerca de 8 mil obras de arte que estavam depositadas nos sub-solos e nos ateliês de restauração.
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A Biblioteca Nacional Central de Florença viu suas coleções destruídas ou danificadas, montando a centenas de milhares. Os arquivos fotográficos, únicos traços de obras destruídas ou roubadas durante a guerra, desapareceram. Segundo a Unesco, ‘‘mais de dois milhões de volumes raros e insubstituíveis e incontáveis manuscritos foram seriamente danificados’’.
O fundo etrusco do Museu Arqueológico Nacional foi inteiramente destruído. Na igreja de Santa Croce, invadida por cinco metros de água e lodo, o famoso quadro Crucifixo de Cimabue sofreu degradações irreversíveis. Esta obra só pôde ser parcialmente restaurada.
O mobiliário, os afrescos, a biblioteca e todos os 90 rolos da Torá da Grande Sinagoga de Florença foram atingidos. O acervo foi restaurado graças a contribuição de numerosas comunidades judaicas da Itália e do mundo inteiro.
As coleções do Gabinete Vieusseux, centro cultural de Florença, foram também amplamente danificadas. O fluxo das águas chegou ao Chiostro Verde de Santa Maria Novella destruindo a parte baixa dos afrescos.
Em seguida a uma campanha mundial de sensibilização em relação às obras danificadas, todos os laboratórios públicos florentinos de restauração se fundiram para formar o histórico ‘Opificio dei Medici’ (O trabalho dos artífices dos Medici) por iniciativa de Umberto Baldini, anteriormente diretor do Gabinetto di Restaurolocalizado no Palácio dei Uffizi. Tornou-se seu diretor de 1970 a 1983. O gabinete, conhecido pelo nome de ‘Opificio delle Pietre Dure’, tornou-se o Instituto Central de Restauro.
Quarenta anos mais tarde, ‘‘A Última Ceia’’, de Giorgio Vasari, tela gigante de 6 por 2,61 metros, chega enfim ao imenso ateliê do Opificio em novembro de 2006, depois de ter levado de um depósito provisório a outro.
Também nesta data:
1879 – Morre físico e matemático britânico James Maxwell
1922 – Descoberta a tumba de Tutancâmon
1940 – Roosevelt é reeleito para terceiro mandato como presidente dos EUA
1977 – Criador de Asterix, quadrinista francês Goscinny morre aos 51 anos