Morre, em 12 de agosto de 1988, em Nova York, aos 27 anos, o pintor neo-expressionista e grafiteiro norte-americano Jean-Michel Basquiat, em decorrência de implicações pela ingestão de um coquetel de drogas.
Com um estilo original, espontâneo, humilde e visceral, foi um dos artistas plásticos mais conhecidos nos anos 1980 e pioneiro do movimento underground.
Através da poesia, do desenho, da pintura e, em menor escala, da música, atacava estruturas de poder e o racismo e o colonialismo e a exploração dos negros e pobres através da luta de classes. Seus desenhos costumavam deixar bem claras as dicotomias sociais contemporâneas, como “riqueza x pobreza”, “integração x segregação”.
Trajetória
Nasceu em 1960, no bairro nova-iorquino do Brooklyn, de uma família de imigrantes: a mãe porto-riquenha e pai haitiano. Desde cedo, demonstrou aptidão e talento para artes plásticas, e fez seus primeiros rabiscos nos papeis de rascunho que seu pai trazia de casa do escritório de contabilidade em que trabalhava. Na época, os desenhos animados eram sua principal fonte de inspiração. Foi muito incentivado pela mãe, que tinha interesse em moda, e costumava desenhar ao seu lado. Com ela, aprendeu a tomar gosto pelas artes – frequentavam o Museu do Brooklyn, o Metropolitan e o Museu de Arte Moderna. “Eu diria que minha mãe me deu toda a noção primária. A arte veio dela”, dizia. Com o tempo, Alfred Hitchcok, carros e a revista MAD também se tornaram referências.
Aos oito, é atropelado por um carro, quebra o braço, sofre uma série de lesões e tem seu baço removido. Durante a internação, ganha uma cópia da revista Gray’s Anatomy da mãe. Foi dessa experiência que nasceram seus primeiros desenhos com noções de anatomia e que, anos depois, contribuiu também para sua carreira musical.
Em 1976, após viver alguns anos com o pai, já separado, e os irmãos em Porto Rico, volta a Nova York e completa seus estudos na City-as-School, uma escola de fundamento pedagógico progressivo – de linha alternativa, moldada para jovens prodígios com dificuldades de adaptação ao ensino tradicional. É lá onde começa a fazer amizades no meio artístico e tendo contato com várias disciplinas.
É onde conhece Al Diaz, que o introduz ao grafite. Em 1977, os dois começam a desenhar, em prédios abandonados. Eles costumavam assinar suas frases e desenhos com a sigla “SAMO” ou “SAMO shit” (“same old shit”, ou “a mesma merda de sempre”) e que acabou se tornando um personagem fictício que vendia uma falsa religião. Em 1979, decreta a morte do personagem.
Desde aquela época, já sonhava em se tornar uma “estrela”. Dizia ter “sentimentos românticos por pessoas que se tornaram famosas” e tinha nas figuras de Jimmy Hendrix e Janis Joplin fontes de admiração.
Em 1978, Basquiat abandonou a escola um ano antes de se graduar e saiu de casa. Passou a morar com amigos e trabalhava como ambulante de camisetas e postais na rua. No sul do Bronx, convivia em um meio cultural em efervescência – o rap, o break e o grafite acompanhavam o pleno crescimento da cultura do hip hop. No ano seguinte, começou a ganhar status de celebridade dentro da cena de arte de East Village, em Manhattan, por suas aparições regulares em um programa televisivo, o TV Party. Também criou a banda de noise rock Test Pattern, depois rebatizada de … “Gray”.
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Sua obra passou a ganhar mais exposição em 1980, quando participava com frequência do The Times Square Show, uma exposição artística, chamando a atenção de críticos e provocadores culturais. A partir de então, começou a fazer exposições e colaborações por todo o país e no exterior com frequência.
Era visto ao lado de artistas como o pintor e diretor de cinema Julian Schnabel, ou o figuracionista David Salle, além de outros curadores, em um cenário que posteriormente passou a ser reconhecido como o berço do neoexpressionismo nos EUA. Começou um breve romance com uma cantora desconhecida na época, que se apresentava sob o nome artístico de “Madonna” e passou a cultivar grande amizade com Andy Warhol, ícone da pop art.
Seus problemas com drogas, em especial a heroína, começaram em 1984, razão pela qual muitos de seus amigos atribuíam-lhe excessos e um comportamento paranoico.
Em fevereiro de 1985, já reconhecido como um grande artista, foi capa da revista do The New York Times, com uma reportagem intitulada “New Art, New Money” (Arte nova, Dinheiro Novo) o que lhe rendeu uma longa turnê exposição internacional pela Europa. Estava no ápice da carreira, mas seu vício em heroína já atrapalhava e muito suas relações pessoais. A morte de Warhol, em 1987, o deixou deprimido e isolado
Basquiat morreu em seu estúdio, em 1988, após ingerir um coquetel de drogas conhecido como “speedball” (heroína e cocaína). Foi homenageado com um filme que levava seu nome dirigido por Schnabel e estrelado pelo ator Jeffrey Wright.
Estilo
Sua obra se divide em quatro fases importantes: o grafite nas ruas, até 1979; a pintura sobre tela entre 1980 a 1982, com personagens de corpo esquelético e rostos agigantados lembrando máscaras, usando com frequência a temática da mortalidade; uma fase intermediária, entre 1982 e 1985, com painéis das mais variadas formas e materiais, utilizando-se de textos, colagens. Essa fase mostrava forte interesse do artista pelas culturas negra e hispânica; no último, de 1986 até sua morte, começou a desenvolver um novo estilo para pinturas figurativas, que não chegou a ser plenamente concluído.
Para a historiadora de Arte Kellie Jones, da Universidade de Yale, “a obra de Basquiat gira em torno de figuras heroicas individuais: atletas, profetas, guerreiros, músicos, reis e o próprio artista. Nessas imagens, a cabeça está geralmente ocupando a posição central, decorada por coroas, chapéus e auréolas. Dessa maneira, o intelecto é sempre mais enfatizado em relação ao corpo e o físico, ao contrário do que essas figuras (de homens negros) representam no mundo”.
Também nesta data:
1827 – Morre o pintor e ilustrador inglês William Blake
1851 – É inventada a máquina de costura
1913 – Harry Brearley inventa o aço inoxidável
2000 – Submarino nuclear russo Kursk, acidentado, vai ao fundo do mar de Barents com 118 tripulantes