No início da década de 1960, as atenções do mundo estavam voltadas para Cuba. Uma revolução armada, conduzida pelos guerrilheiros de Sierra Maestra, comandados por Fidel Castro, havia derrubado o ditador Fulgêncio Batista, que chefiava um governo repressor. A tomada do poder pelos guerrilheiros representava uma séria ameaça à hegemonia política dos Estados Unidos na América Latina.
A epopéia dos combatentes cubanos se havia tornado um enorme atrativo político e popular. Para os norte-americanos, a nova conjuntura representava uma visível ameaça aos seus interesses geoestratégicos e ideológicos.
O governo dos Estados Unidos tentou evitar a consolidação da revolução por meios persuasivos e pela pressão. Diante da reação e da radicalização do governo revolucionário cubano, o presidente John Kennedy decidiu, no início de 1961, romper as relações diplomáticas com Cuba.
Em 16 de abril de 1961, logo após o vôo do russo Yuri Gagarin, que havia levado Washington a um choque psicológico, o governo Kennedy tentou um fracassado desembarque na Playa Girón, na Baia dos Porcos A operação planejada pela CIA usou os refugiados da ditadura Batista como peões na fracassada tentativa de derrubar o regime cubano.
Apesar de ter repelido e esmagado a invasão, Fidel Castro estava convencido de que os Estados Unidos tentariam invadir Cuba mais uma vez, mas com suas próprias tropas, e arquitetou um plano. Persuadiu o premiê soviético Nikita Khrushchev a fornecer-lhe armamentos que pudessem dissuadir Washington de qualquer intento militar. O argumento de que se valeu, conhecendo as pressões dos linhas-duras do Kremlin, era o de que a União Soviética não faria nada diferente dos norte-americanos.
Os Estados Unidos mantinham estacionados na Turquia, por exemplo, perto do território soviético, mísseis nucleares de longo alcance. Com a proposta de Fidel, se reforçaria o equilíbrio militar atômico.
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Perigo de um conflito nuclear nunca esteve tão iminente como em outubro de 1962
Em 14 de outubro de 1962, os Estados Unidos divulgam fotos de um vôo secreto do avião espião U-2, voando a grande altura sobre Cuba, apontando uma rede de silos para abrigar mísseis nucleares. A União Soviética havia enviado 24 foguetes soviéticos secretamente para Cuba. Ademais, o número de assessores militares russos na ilha havia ascendido a mais de 20 mil.
Criou-se uma frenética tensão entre as duas superpotências, levando o mundo à beira da hecatombe atômica. Uma guerra nuclear parecia mais próxima do que nunca. Em toda a Guerra Fria, o perigo de um conflito nuclear nunca esteve tão iminente como em outubro de 1962.
O presidente norte-americano John Kennedy declarou tratar-se de uma ameaça inaceitável à segurança dos Estados Unidos e anunciou, como represália, o bloqueio a Cuba. O apoio unânime veio da OEA (Organização dos Estados Americanos), da América Latina e dos aliados da Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte). O governo de John F. Kennedy, apesar de suas ofensivas no ano anterior, encarou aquilo como um ato de guerra contra os Estados Unidos.
Após dramáticos 13 dias de ameaças e recuos, de frenéticas negociações, em 28 de outubro de 1962 foi anunciado finalmente um acordo entre Kennedy e Kruschev. Fidel, ao tomar conhecimento, reagiu asperamente por não ter sido consultado a respeito. Aparentemente, o pacto atendia a todas as exigências de Kennedy. O acordo entre os mandatários acabaria por romper a imensa tensão que tomou conta do mundo, acalmando os Estados Unidos e a União Soviética, que estavam à beira de um desastre nuclear.
Depois de uma semana de negociações diplomáticas complicadas, Kruschev cedeu. Concordou em parar as obras das bases de mísseis em Cuba e levar de volta para a União Soviética todas as armas. Em troca, Kennedy concordou em não invadir Cuba e pôr fim ao bloqueio norte-americano à ilha. Em verdade, meio século passado, o bloqueio ainda está em vigor.