Emil Zatopek, atleta tchecoslovaco, conhecido como a “Locomotiva Humana”, morreu em 22 de novembro de 2000, aos 78 anos. Ganhou três medalhas de ouro nos Jogos Olímpicos de Helsinque em 1952. Havia ganhado as provas de 5 mil e 10 mil metros, porém sua medalha final veio com uma decisão de último minuto de competir e ganhar a primeira maratona de sua vida.
Zatopek foi o primeiro atleta a quebrar a barreira dos 29 minutos nos 10 mil metros em 1954. Três anos antes, em 1951, havia corrido os 20 mil metros, correndo a distância pela primeira vez em menos de uma hora. É amplamente considerado como um dos maiores, se não o maior, corredor de longa distância da história do atletismo e conhecido também pelos seus brutais métodos de treinamento.
“A Locomotiva” dominou a corrida de longa distância de 1948 até 1954, quando conquistou a notável marca de 38 vitórias consecutivas nos 10 mil metros. Estabeleceu 18 recordes mundiais dos 5 mil e 10 mil metros e ganhou 5 medalhas olímpicas, 4 de ouro e uma de prata.
Quem foi Zatopek, a Locomotiva Humana?
Zatopek nasceu em Koprivnice, em 19 de setembro de 1922, sexto filho de uma modesta família. Aos 16 anos começou a trabalhar na fábrica de calçados Bata. Em 1940 a Bata patrocinou uma corrida de 1500 metros e ele foi persuadido a disputá-la embora não tivesse treinado. Terminou em segundo e passou a interessar-se seriamente pelo esporte.
Meros quatro anos depois, em 1944, quebrou os recordes nacionais dos 2 mil, 3 mil e 5 mil metros. Selecionado para a equipe nacional no campeonato europeu de atletismo de 1946 terminou em 5º nos 5 mil metros, quebrando seu próprio recorde, baixando-o de 14min50s2 para 14min25s8.
Fez sua estreia olímpica nos Jogos de Londres em 1948. Tinha 26 anos e pouca experiência internacional, no entanto ganhou os 10 mil metros e foi segundo nos 5 mil.
Em 1952 em Helsinque, Zatopek atingiu o impossível. A despeito da advertência do médico de que não deveria competir em virtude de uma infecção nos gânglios dois meses antes, ganhou os cinco mil, os dez mil e a maratona num lapso de oito dias. Estabeleceu um novo recorde olímpico nos três eventos.
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Zatopek foi o primeiro atleta a quebrar a barreira dos 29 minutos nos 10 mil metros em 1954
O livro “Fast Tracks – The History of Distance Running” (“Pistas Rápidas – A História das Corridas de Distância”) de autoria de Raymond Krise e Bill Squires descreve a histórica final dos cinco mil metros dos Jogos de Helsinque, 1952: A última volta: Schade, Chataway, Mimoun ao lado de Zatopek que parecia estar desesperado de dor. Um deles iria ganhar, os demais estavam distantes.
Ao som das badaladas do sino, Zatopek resolve avançar loucamente, saltando à frente do grupo de corredores com uma única arrancada. Seus olhos quase invisíveis debaixo dos cenhos cerrados. Não consegue impressionar seus contendores que seguem assediando de perto. A estratégia nada lhe rendeu e podia fazê-lo perder tudo.
Faltando 300 metros, Chataway o ultrapassa e Schade vai na cola deste. Faltando 200 metros, Chataway, Schade e Mimoun correm colados nessa ordem. Zatopek está dois metros atrás deles, em velocidade pouco menor, suas forças parecem se esgotar. Schade impõe-se na dianteira tentando escapar pela direita. Chataway resiste e retoma a dianteira.
Faltam pouco mais de 100 metros. O público se manifesta, gritando freneticamente. O alarido então se unifica. Passam a gritar: Za-to-pek, Za-to-pek. A Locomotiva reúne com coragem as últimas reservas, não se sabe donde, e resolve dar o ‘sprint’ final.
Chataway, que dois anos antes puxou Bannister para suplantar a barreira dos 4 minutos para a milha, inclina o corpo nos metros finais da curva e resolve ele mesmo dar um devastador ‘sprint’ final. Não consegue, tropeça na borda e se estatela no chão. Zatopek avança como um tigre nas pradarias, as mandíbulas espumando, as pernas golpeando a pista de carvão. Embora, assustados com a fúria de Zatopek, Schade e Mimoun o acompanham.
Tarde demais. Zatopek assume a dianteira, seu corpo, pernas e troncos, parece balançar em diferentes direções, avançando mais célere que os outros rumo à linha de chegada. O rosto de Zatopek está crispado pelo esforço, os olhos cerrados, a boca aberta. Mimoun vibra com os braços no ar parecendo querer tirar a camiseta de Zatopek e o abraça. Schade em terceiro, fita com raiva, por meio de seus óculos, pois seu esforço final deu em nada diante da coragem de Zatopek.
Zatopek quebrou o recorde olímpico com 14min06s6. Mimoun chegou em segundo com 14min07s4. Schade, terceiro com 14min08s6. A volta final levou incríveis 57s9 e muitos anos de dor e determinação.
Em 1956 A Locomotiva retira-se das competições após chegar em sexto na maratona dos Jogos Olímpicos de Melbourne de 1956. Havia operado da hérnia seis semanas antes dos Jogos.
No reveillon de 1953, Zatopek competiu na famosa Corrida de São Silvestre, vencendo com facilidade sob aplausos vibrantes de milhares de espectadores.
(*) A série Hoje na História foi concebida e escrita pelo advogado e jornalista Max Altman, falecido em 2016.