O Ceilão – pérola à orelha da Ásia – torna-se independente em 4 de fevereiro de 1948. Rebatizado como Sri Lanka, a ilha não parou de sofrer do contencioso étnico legado pelo colonizador britânico.
Portugal, Holanda e Inglaterra tentaram sucessivamente apropriar-se das riquezas do Ceilão. Em 1505, os portugueses ali desembarcaram, nas pegadas de Marco Polo. Foram atraídos pelas especiarias, em especial a canela, mas se chocaram com a resistência do reino de Kandy, instalado nas terras altas. Por fim terminaram por abandonar o país para os holandeses.
No final do século 18, como a França revolucionária ocupou os Países Baixos, governantes holandeses refugiaram-se em Londres e autorizaram a Inglaterra a assumir o controle do Ceilão em 1796.
Colonização e independência de Sri Lanka
A partir de 1815, os britânicos passaram a dominar toda a ilha, derrocando com o decadente reino. Substituíram a cultura da canela pela do café e depois pelo chá. Saíram em busca de mão de obra para as novas culturas, enquanto o cultivo do arroz ocupava bom número de cingaleses.
Os trabalhadores tamouls criaram raiz no mundo fechado das plantações, conservaram sua língua, tradições e religião hinduísta – enquanto os cingaleses são budistas. Em 1946, às vésperas da independência, contava-se cerca de 800 mil tamouls, ou seja 12% da população.
Os britânicos logo criaram uma elite anglicizada, capaz de gerir os negócios públicos, num regime de relativa autonomia. Um partido nacionalista foi criado em 1918, tendo por modelo o partido Congresso indiano. A ilha se beneficiou de uma espécie de descolonização suave, ao contrário da Índia.
Após a independência, erigiu-se um regime democrático que fracassou em dar lugar à minoria tamoul. Em 1956, a celebração do 2500º aniversário do nirvana de Buda propiciou a ocasião para as minorias reivindicarem o renascimento e proteção à cultura cingalesa face às elites anglófonas e aos tamouls. No mesmo ano, o cingalês foi decretado língua oficial, o que provoca a ira da comunidade tamoul.
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Em 1972, o país adotou o nome sânscrito de Sri Lanka, a ilha resplandescente
Em 1959, o primeiro-ministro foi assassinado por um monge budista, gerando conflitos entre cingaleses e tamouls. Sirimavo Bandaranaike, viúva do premiê assassinado, ascende ao poder com o apoio de um partido trotsquista. Conduziu uma política de nacionalização de indústrias, de terras e de plantações de chá e borracha, pertencentes aos britânicos. Projetou igualmente, sem sucesso, repatriar 500 mil tamouls da Índia.
Em 1972, o país adotou o nome sânscrito de Sri Lanka, – a ilha resplandescente. Entrementes, as tensões étnicas degeneraram em guerra civil. Os tamouls formaram o “Movimento dos Tigres pela Libertação da Pátria Tamoul” (LTTE), sob a liderança de Villupilai Prabakaran. Diversos atentados foram realizados e uma guerra de guerrilha contra o exército srilankês foi travada. Em represália, ocorreram ‘pogroms’ anti-tamouls.
Em 1987, o primeiro-ministro indiano Rajiv Gandhi alcançou um acordo garantindo certa autonomia a uma província indiana tamoul mas conferiu ao exército a tarefa de manter a paz. O LTTE recusou-se a depor armas e se recolheu a uma floresta impenetrável. Em 1991, Gandhi foi assassinado por um independentista tamoul, que lhe passou em torno do pescoço um colar de flores com explosivos.
O assassinato do ministro do Exterior de Sri Lanka em 2005 emitiu o sinal de um novo endurecimento. O recém empossado presidente, Mahinda Rajapakse, nacionalista que recusava qualquer autonomia tamoul, lançou uma nova ofensiva contra o norte do país. Finalmente em 2008, Kilinnochchi, capital dos ‘Tigres’, caiu nas mãos do exército que vislumbrava um “assalto final” contra o LTTE, o que fez redobrar a violência : massacre de civis, violações e mutilações, pilhagens.
O conflito terminou em 17 de maio de 2009 com a queda do último reduto independentista. Os confrontos provocaram a morte de cerca de 70 mil pessoas. Como se este drama não fosse suficiente, o sul de Sri Lanka foi duramente atingido pelo tsunami de dezembro de 2004, causando cerca de 40 mil mortes.
(*) A série Hoje na História foi concebida e escrita pelo advogado e jornalista Max Altman, falecido em 2016.