A polícia de Londres prendeu o editor francês Ernest Moret, gerente de direitos estrangeiros da Editora La Fabrique, sob a acusação de terrorismo.
A detenção gerou controvérsia, já que a denúncia se baseia no fato de que o empresário e sua editora apoiam abertamente as recentes manifestações contra a reforma da previdência que foi imposta pelo governo de Emmanuel Macron no dia 16 de março sem passar pelo parlamento, através de uma manobra constitucional.
Moret estava na capital britânica para participar de uma série de eventos do setor editorial, incluindo a Feira do Livro de Londres. Segundo o jornal inglês The Guardian, o editor se encontrava na estação de trens de St. Pancras na noite desta segunda-feira (17/04) quando foi abordado por policiais que o levaram para interrogatório em uma delegacia próxima.
Na sede da polícia londrina, Moret foi enquadrado em uma denúncia com base na Lei do Terrorismo, um instrumento que existe no Reino Unido desde o ano 2000 e permite manter a pessoa detida sem a presença de um advogado e o obriga a entregar seus telefones celulares e as senhas para acessar os mesmos.
Também segundo o The Guardian, o interrogatório de Moret durou seis horas, e após esse período ele foi levado a prisão preventiva sob a acusação de “obstrução à justiça”, por ter se negado a entregar as senhas dos seus aparelhos celulares.
A La Fabrique é conhecida como uma das editoras da França mais engajadas em causas sociais e na defesa dos direitos dos trabalhadores. Além de Moret, a empresa está sendo representada na Feira do Livro de Londres por Stella Magliani-Belkacem, que acompanhava o colega quando este foi abordado pela polícia na estação de St. Pancras.
Segundo ela, “quando estávamos na plataforma, duas pessoas, uma mulher e um homem, nos disseram que eram policiais antiterroristas. Eles mostraram um papel chamado seção 7 da Lei do Terrorismo de 2000 e disseram que tinham o direito de perguntar a ele sobre as manifestações na França. Ainda estou tremendo. Estamos em choque com o que aconteceu”.
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Ernest Moret foi preso em Londres sob a acusação de terrorismo, por ter apoiado protestos de trabalhadores na França
A Editora La Fabrique publicou um comunicado dizendo que “consideramos essas ações violações ultrajantes e injustificáveis dos princípios básicos da liberdade de expressão e um exemplo de abuso das leis antiterrorismo”.
“Esta agressão à liberdade de expressão de um editor é mais uma manifestação do deslize para medidas repressivas e autoritárias tomadas pelo atual governo francês diante do amplo descontentamento e protesto popular. É crucial que todos os defensores dos valores democráticos básicos expressem nos termos mais fortes que achamos isso intolerável e ultrajante”, acrescenta a nota.
A repercussão do caso resultou na convocação de um protesto em frente ao French Institute, em Londres, marcada para a noite desta terça-feira (18/04).
Também foi enviado um apelo à embaixadora francesa no Reino Unido, Helene Duchene, para que esta solicite a libertação imediata de Moret.
Libertação
Segundo a agência Associated Press, em nota publicada na manhã desta quarta-feira (19/04), Moret foi libertado ainda durante a noite de terça. A Polícia Metropolitana de Londres divulgou um comunicado esta manhã sem mencionar o nome do editor francês, mas afirmando que “um homem de 28 anos [a idade de Moret] foi detido por policiais na estação de trem de St. Pancras e preso sob suspeita de obstruir uma investigação. Ele foi libertado sob fiança na noite de terça-feira. Nenhuma acusação foi feita, mas a investigação continuou”.
O comunicado não entrega informações sobre porque Moret foi detido e interrogado, mas um porta-voz disse que o procedimento dedicado a ele se baseia na Lei Antiterrorista do Reino Unido, que permite às autoridades deter e interrogar uma pessoa caso considerem que ela é suspeita de estar envolvido em atos terroristas, mesmo sem contar com provas materiais para isso.
Por sua parte, os representantes da Editora La Fabrique divulgaram uma nota afirmando que, uma vez libertado, Moret confirmou que “os oficiais que o interrogaram alegavam que sua prisão foi baseada em sua participou nos turbulentos protestos contra a decisão do presidente francês Emmanuel Macron de impor sua reforma da previdência [que aumenta a idade de aposentadoria de 62 para 64 anos] sem passar por uma votação no Legislativo”.