Os três grandes líderes das forças aliadas, Winston Churchill, Franklin Roosevelt e Josef Stalin, reuniram-se entre 4 e 11 de fevereiro de 1945 no Palácio Livadia, na estação balneária de Ialta, às margens do mar Negro na Criméia, que a história consagrou como a crucial Conferência de Ialta. Ali, eles iriam decidir o fim da Segunda Guerra Mundial e o mundo que surgiria após a derrota do nazi-fascismo, a repartição das zonas de influência entre o Ocidente e o Oriente e, em especial, o que fariam com a Alemanha.
Encarniçadas batalhas prosseguiram até a rendição incondicional da Alemanha em 8 de maio de 1945. Berlim havia sido conquistada em 30 de abril e em 2 de maio. Soldados do Exército Vermelho hastearam a bandeira da URSS no topo do Reichstag, selando a conquista da capital do Reich nazista. No entanto, tropas do Exército Vermelho já haviam avançado 176 quilômetros a oeste de Berlim, quando em 25 de abril, às margens do rio Elba, deu-se o histórico encontro com as tropas norte-americanas. Interrompia-se aí o avanço de ambos os exércitos.
As disposições pactadas em Ialta eram basicamente as seguintes: o território alemão seria dividido em três zonas de ocupação, cada qual destinada à administração de um dos aliados acordantes. Berlim deveria ser dividida em setores sob influência direta de uma das potências, e sua administração seria levada a efeito conjuntamente no seio da Autoridade Governamental Interaliada ou Kommandatura. Os norte-americanos, britânicos e soviéticos ocupariam, respectivamente, as regiões sudoeste, noroeste e leste da Alemanha. Berlim teria um tratamento especial e independente e não poderia ser considerada parte da zona de ocupação de qualquer das potências.
O pacto acertado em Ialta estabelecia que, independente de quem colocasse as botas da infantaria ou as lagartas dos blindados primeiro na capital do III Reich, este se comprometia a dividi-la com os demais aliados.
Stalin ansiava chegar a Berlim antes dos aliados ocidentais e avançar o mais que pudesse no território alemão. Corria à época uma anedota russa contando que Stalin foi caçar com Churchill e Roosevelt. Stalin teve a sorte de matar com tiro certeiro um urso que por lá rondava. Prostrado o animal, Churchill logo propôs que ele ficaria com a pele, deixando a carne para Roosevelt e Stalin. Roosevelt redarguiu: “Não, fico eu com a pele, Churchill e Stalin dividem a carne”. Como Stalin permanecesse calado, os outros dois perguntaram o que ele sugeria, tendo Stalin exclamado: “O urso todo é meu, afinal fui eu que o matei”.
Contudo, apesar dos soviéticos tomarem antes a cidade, e também um expressivo território ao seu redor, tiveram que ceder o lado ocidental dela para os três outros membros da Grande Aliança. Assim, Berlim se viu administrada, a partir de 8 de maio de 1945, em quatro setores: o russo, o americano, o inglês e o francês (incluído posteriormente). A relação entre os vencedores logo acusou um estremecimento e, em 1948, as quatro zonas reduziram-se a duas: a soviética e a ocidental.
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Muro de Berlim em 1986
Por que o Muro de Berlim foi construído?
Desde o estabelecimento da República Democrática Alemã (DDR – Deutsche Demokratische Republik), em outubro de 1949, grande número de cidadãos emigrava para a Alemanha Ocidental (República Federal Alemã) em busca de oportunidades. O fluxo de refugiados passava por Berlim, portanto a fronteira oeste com a RFA já vinha sendo rigidamente controlada a fim de conter os contrabandistas e os desertores. O comércio de produtos alimentícios adquiridos na Alemanha Oriental e vendidos na Ocidental propiciava enormes lucros às pessoas que viviam ou trabalhavam em Berlim Ocidental, porém causava estragos no sistema de economia planificada do Leste.
Os planos da construção do muro eram um segredo do governo da RDA. Os governos ocidentais tinham recebido informações confidenciais sobre as intenções. Sabia-se que Walter Ulbricht havia pedido a Nikita Kruchev, numa conferência dos Estados do Pacto de Varsóvia, a permissão de bloquear as fronteiras de Berlim Ocidental, incluindo a interrupção de todas as linhas de transporte público. Em 7 de agosto de 1961, o partido comunista da Alemanha Oriental (SED – Partido do Socialismo Unitário) aprovou o cerco de Berlim Ocidental. Em 11 de agosto de 1961, a Volkskammer (Câmara de Deputados da RDA) autorizou o Conselho de Ministros a tomar as medidas necessárias. Na madrugada de 13 de agosto, as forças armadas bloquearam as conexões de trânsito a Berlim Ocidental. Eram apoiadas por forças soviéticas, estacionadas nos pontos de fronteira com o Ocidente.
Ainda nesta madrugada, trabalhadores arrancaram camadas de asfalto e paralelepípedos das ruas, empilhando-os para formar barricadas. Os transeuntes não podiam acreditam no que viam: postes de concreto e cercas de arame farpado sendo erguidos. Mais tarde, tais cercas provisórias seriam substituídas por blocos de concreto armado e todas as instalações que fizeram da fronteira entre as duas Berlins. Do muro faziam parte 66,5 quilômetros de gradeamento metálico, 302 torres de observação, 127 redes metálicas eletrificadas com alarme e 255 pistas de corrida para cães de guarda. Este muro provocou a morte a 80 pessoas identificadas, deixou 112 feridas e milhares aprisionadas nas diversas tentativas de o atravessar.
Além de dividir a cidade de Berlim ao meio, o muro simbolizava a divisão do mundo em dois blocos: República Federal Alemã, apoiada pelos países capitalistas encabeçados pelos Estados Unidos, e República Democrática Alemã, respaldada pelos países do bloco socialista comandado pela União Soviética.
O muro de Berlim caiu no dia 9 de novembro de 1989, ato inicial da reunificação das duas Alemanhas, que acabaram por formar a República Federal da Alemanha, terminando também a divisão do mundo em dois blocos.
Grande parte dos historiadores aponta a queda do muro como o momento crucial do fim da Guerra Fria. Menos de dois anos depois, ruia a União Soviética e com ela todo o bloco socialista.
(*) O jornalista e advogado Max Altman foi colunista de Opera Mundi até sua morte, em 2016.