Nesta semana a grande mídia dividiu seus espaços entre a avaliação do rescaldo, ainda quente, do golpe que seria, mas ainda não foi, embora já seja e a lembrança, já fria, do ataque às torres gêmeas de Nova York, exatas duas décadas atrás.
Neste quadro fica ainda mais curioso o pudor (que não é apenas da grande mídia) em lembrar que o nefasto personagem colocado e mantido, apesar dele mesmo, à frente do Poder Executivo brasileiro é um terrorista.
Antes que se suspeite de arroubo retórico, lembremos a acepção dicionarizada da palavra. Terrorista é a “pessoa partidária de terrorismo ou que participa de atos terroristas”, segundo o Houaiss. Até aí parece redundante.
Mas o mesmo dicionário indica cinco acepções para a palavra terrorismo. 1) Impor a vontade pelo uso sistemático do terror; 2) emprego sistemático da violência para fins políticos; 3) ameaça de uso da violência para intimidar uma população; 4) regime de violência instituído por um governo e 5) atitude de intolerância e de intimidação adotada pelos defensores de uma ideologia contra quem não a segue.
Todas, sem exceção, aplicáveis ao ex-tenente julgado, condenado e expulso do Exército por planejar a explosão de bomba de um aqueduto para exigir aumento salarial para o baixo oficialato em 1988 (acepção 1).
Logo depois de sua expulsão ele ingressa na vida política estabelecendo e estimulando uma longa e duradoura simbiose entre as ações violentas (extorsão, sequestros e assassinatos) das milícias cariocas e os interesses políticos e econômicos de sua família (acepção 2).
Do elogio de um torturador, notório pela prática de enfiar ratos vivos na vagina de mulheres prisioneiras à promessa eleitoral, reforçada gestualmente, de metralhar todos os esquerdistas, difícil discordar do enquadramento na acepção 3.
Planalto
Segundo o Houaiss, há cinco acepções para a palavra terrorismo: todas são aplicáveis ao ex-tenente julgado, condenado e expulso do Exército
Sobre atitude de intolerância ideológica (acepção 5), é quase desnecessário lembrar dos ataques às universidades, aos museus, às instituições de cultura, aos defensores dos direitos humanos e a inapelável caracterização comunista a tudo que se afaste da visão de mundo fundamentalista.
E se alguém acha que ainda não temos um regime de violência plenamente instituído pelo governo, podemos argumentar com as 600 mil mortes; o passe livre para o desmatamento e a queima do país; a venda do patrimônio nacional por “valorzinhos simbólicos” para os amigos e os patrões dos amigos; as ameaças morais e físicas que levam muitos ao exílio voluntário; a condenação à miséria absoluta de milhões de brasileiros que até poucos anos atrás eram pobres, mas ainda comiam todos os dias, e vários etc.
Mas há outro e mais eficiente terrorismo, a que somos submetidos cotidianamente, pelos verdadeiros donos do poder (os limpinhos e cheirosos): a chantagem de que é melhor aceitar o terrorista explícito com a focinheira que os prestidigitadores fingem que lhe impõem do que enfrentá-lo de dentes arreganhados.
Tudo isso enquanto decidem, segundo reportagem do Correio Brasiliense que ficou perdida no meio do turbilhão das notícias da semana, se encontrarão uma alternativa que não seja assassinar Lula.
*Carlos Ferreira Martin é professor titular do Instituto de Arquitetura e Urbanismo da USP São Carlos