São muitas as conjecturas que são feitas sobre quando nossa civilização alcançará a capacidade total do petróleo, quer dizer, quanto tempo nos resta ate chegar ao ponto no qual a extração do petróleo alcança o máximo e começa seu declínio definitivo. Algumas opiniões afirmam que já alcançamos esta época, que já superamos este limite. Outros são mais otimistas e situam este momento próximo do ano de 2030.
A polêmica a este respeito aparece e reaparece esperando dispor de dados suficientemente claros, confiáveis e livre de interesses, que neste campo são muitos. Por exemplo, explica o jornal The Guardian, ao verificar-se que os ministros do governo britânico estiveram trocando pontos de vista com a indústria e a comunidade cientifica sobre o esgotamento do petróleo, surgiram especulações sobre uma possível crise de oferta. Em maio, o pesquisador Lionel Badal apresentou na Comissão Europeia suas dúvidas sobre a confiabilidade das previsões da disponibilidade mundial do petróleo realizadas pela Agência Internacional de Energia(AIE).
Mas como diz Manuel Casal Lodeiro, ativista e fundador da associação Véspera de Nada, neste tema “a data exata, na realidade, não tem muita relevância, a questão é que é um fato irreversível”. O petróleo não é infinito. A extração do petróleo, depois de superar o esgotamento, será cada vez menor, de pior qualidade e com custos energéticos cada vez maiores. Hoje em dia gastamos um barril de petróleo para extrair dez barris, mas – nisso os especialistas concordam – esta fase continuará diminuindo progressivamente.
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Então, mais importante do que discutir quando, seria conveniente concentrar nossas energias (é disso que estamos falando) em como enfrentar uma realidade após o petróleo. Teremos mais dificuldades em nossa mobilidade? Em que estágio de desenvolvimento se encontram as energias alternativas? E acima de tudo, teremos capacidade para alimentarmos o planeta? Porque, apesar de a maioria das pessoas não ver uma relação direta, uma das consequências mais graves do esgotamento do petróleo é que atingirá nosso modelo de agricultura e alimentação.
Existem dois fatores para fazer esta afirmação. Primeiro, nós adotamos um modelo de produção de alimentos dependente do petróleo. Em áreas de suposta fadiga, se instalaram sistemas de irrigação com bombeamento, com coberturas de plástico, que também é petróleo. Os alimentos de animais na Europa chegam de barco ou avião, vindos do sul na América Latina. Pratica-se uma agricultura torpedeada por pesticidas, herbicidas e fertilizantes, todos derivados de combustível fóssil. O uso de máquinas, bastante úteis para o trabalho no meio rural, foi ampliado, representando um alto custo de combustível. Somando estes e outros gastos energéticos, vemos que hoje em dia, para produzir uma caloria de alimento, gastamos dez calorias de energia fóssil.
O segundo fato tem a ver com o modelo de distribuição e comercialização que a globalização moldou: por um lado se incrementa a quilometragem da nossa comida, mas por outro, há centralização em cadeias de distribuição, de forma que a dependência do transporte, o congelamento, o empacotamento, a refrigeração (todos com gastos energéticos) se torna essencial.
Deveríamos interiorizar de alguma maneira a fragilidade do sistema alimentício. Nossa alimentação tem sido definida com base na suposição de disponibilidade energética ilimitada e barata, chegando ao ponto de os cortes energéticos (outra face da moeda dos custos ecológicos) nunca representarem uma porcentagem significativa no preço final ao consumidor. Como podemos comprar um abacaxi da Costa Rica por um euro? A energia, até agora, custou muito pouco, e até agora receberam pouco ou nada as pessoas que cultivaram e armazenaram estes alimentos.
Depois do esgotamento, com menos petróleo, poderemos reduzir nossas viagens de avião, mas precisaremos nos alimentar. Para isto, ou esperamos pacientemente um milagre tecnológico, ou exigimos que se adote medidas para concentrar a alimentação em torno da auto suficiência das fazendas, relacionadas com as comunidades mais próximas, para favorecer o consumo de proximidade. Alguns países estão apostando nesta volta da comida local, como a Escócia cujo parlamento aprovou em 2008 uma resolução de apoio às cadeias de abastecimento local, para assegurar a alimentação da população. No momento a Espanha anda para trás: desde o dia 24 de junho passado o governo tem que responder a uma pergunta apresentada pela Izquierda Unida sobre o esgotamento do petróleo e as possíveis manipulações da Agência Internacional de Energia(AIE).
Para os produtores, diz Manuel Casal, “uma mudança da produção pode ser vista como uma redução dos acessos, mas se a fizermos com bons critérios, esta redução dos custos compensará esta diminuição de acessos”. Como consumidores teremos que modificar alguns hábitos, mas o desejo é claro: manter a dispensa cheia e com bons alimentos.
*Gustavo Duch Guillot é formado em Veterinária, pos-graduado em Administração de Empresas e colaborador no El Periódico de Catalunya,Público, La Jornada de México, Galicia Hoxe e El Correo Vasco. Artigo originalmente publicado no site Tlaxcala.
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