Agência Efe
UE só enviaria tropas se houvesse unanimidade entre os países membros, o que não está perto de se concretizar
A solidão francesa em Mali demonstra a incapacidade de cooperação entre os países da União Europeia, que até agora prometeram apenas uma ajuda logística às tropas do presidente François Hollande. Nenhum país membro do bloco europeu pode afirmar que foi pego de surpresa em relação a essa ação. Desde 2011, o SEAE (Serviço Europeu de Ação Exterior), liderado pela Alta Representante Catherine Ashton, observa atentamente a situação na região.
O país africano se situa no Sahel, ao sul do deserto do Saara, uma área estrategicamente importante para a União Europeia porque por ela passa um fluxo importante de pessoas, armas e drogas, que têm como destino o continente europeu. A questão da segurança da região já era apontada com preocupação pelo presidente do Conselho Europeu, o belga Herman Van Rompuy, durante a Assembleia Geral das Nações Unidas de 2012.
Em 2011, o SEAE divulgou um documento intitulado Estratégia para Segurança e Desenvolvimento no Sahel, no qual aponta os problemas e os desafios dos países africanos da região, além de explicitar os âmbitos nos quais a UE poderia cooperar. Nesse documento podemos ver que os políticos europeus já tinham plena consciência do perigo da atuação de grupos extremistas na zona. Um mapa elaborado pelo mesmo serviço europeu mostra que o norte do Mali já era considerado uma área de domínio da Al Qaeda.
Agora a fica a pergunta: se os países membros já sabiam dessa ameaça e contavam com uma verba para ao menos amenizar o problema da região (segundo consta no documento, o total disponível é de 650 milhões de euros), porque a União Europeia não age em conjunto com a França?
Primeiro cabe explicar que, em questões militares e em todos os âmbitos que entram na chamada Política Externa e de Segurança Comum, a UE não possui autonomia. As resoluções e ações militares só podem ser tomadas por unanimidade, ou seja, todos os 27 países membros devem estar de acordo com as ações que serão tomadas.
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O fato de precisar do apoio formal de todos os países torna ações deste tipo quase inviáveis em um grupo que conta com a neutralidade da Irlanda ou com histórico posicionamento contra ações militares de outros membros.
Fora o problema de coordenação, as medidas que a duras penas são aprovadas pela UE demoram meses ou anos para serem postas em prática. No meio do ano passado foi aprovado o envio de 250 instrutores e 300 militares em apoio a um programa de treinamento do exército malinês. Entretanto, a missão começaria apenas em meados deste ano. Com a piora da crise, os ministros europeus de relações exteriores decidiram na última quinta-feira antecipar o envio das tropas para fevereiro, quando o panorama do conflito já será outro.
Em plena crise econômica, nenhum governo quer aumentar os gastos militares ao mesmo tempo em que diminui os privilégios sociais da população. Além do fator financeiro, a pessoa encarregada de buscar coordenação e rapidez na implementação deste tipo de decisões, a Alta Representante Catherine Ashton, demonstra que apesar de ter conseguido montar um bom serviço que a apoie, não possui as características necessárias para forjar acordos com os líderes europeus. Outra razão para o que vemos ocorrer é a falta da identidade europeia entre os chefes de Estado. Muitos presidentes e ministros julgam o problema como uma questão francesa e que, por isso, apenas a França deveria atuar.
Diante do imobilismo frente ao conflito em Mali, os líderes e cidadãos europeus devem decidir se apostam na integração total do bloco em assuntos militares e de defesa ou se desistem da ideia e assumem que segurança é um assunto importante demais para deixar nas mãos de Bruxelas, devolvendo todos os poderes e recursos aos Estados. Seguir com todo esse aparato burocrático que gasta dinheiro e gera expectativas difíceis de serem realizadas parece ser a pior opção para todas as partes.