Nos últimos tempos, uma nova onda de censura tem ameaçado silenciar vozes dissonantes e críticas a políticas internacionais, particularmente no que tange ao delicado e duradouro conflito entre Israel e Palestina. Recentemente, fui surpreendida por uma ação judicial movida por André Lajst, uma figura pública e presidente da organização StandWithUs Brasil, financiada pelo governo israelense. Este processo é emblemático não apenas pelo seu conteúdo, mas pelo que ele representa no cenário maior de debates públicos: uma tentativa preocupante de impor censura prévia e restringir o discurso crítico sob o manto de proteger a honra.
A queixa contra mim foi baseada em um vídeo que publiquei, no qual eu utilizava um ditado popular para criticar a postura de Lajst e sua organização no contexto do conflito israelo-palestino. Embora o vídeo tenha alcançado uma audiência modesta, com apenas 570 visualizações, a reação foi desproporcional e reveladora. O processo alega injúria e tenta enquadrar as críticas políticas — essenciais em qualquer democracia vibrante — como ataques pessoais, ignorando o papel de Lajst como uma figura pública sujeita a escrutínio público.
Esta situação levanta questões profundas sobre a liberdade de expressão e o direito ao debate aberto. Em um país com mais de 200 milhões de habitantes e uma ativa esfera pública online, é essencial questionar: por que as vozes críticas ao sionismo e às políticas do Estado de Israel são tão frequentemente alvo de tentativas de silenciamento? A resposta, embora complexa, toca na delicada interseção de política, poder e influência.
Racismo, injúria, terrorismo, misoginia. Essa é a coleção de crimes de que venho sendo acusada pelo “Tribunal” da Internet, por ter decidido expor em que consiste o projeto sionista de Israel, cuja essência é a colonização da Palestina pela ocupação vil em duas frentes bem definidas, a saber: a ocupação por assentamento de colonos estrangeiros armados por Israel, que expulsam violentamente palestinos nativos de suas propriedades; e a ocupação militar, que bloqueia o ir e vir dos nativos, mata por lazer, sequestra crianças, adolescentes, jovens, adultos e idosos palestinos, torturando-os de diversas formas, incluindo o estupro, em cárceres dos presídios da potência ocupante, invadindo residências de madrugada e expulsando seus moradores enquanto dormiam, entre outras atitudes repugnantes.
As duas primeiras acusações, as de racismo e injúria, porém, extrapolaram o “tribunal” da Internet e chegaram à Justiça brasileira. Sempre pautei-me pelo respeito aos direitos humanos e pela defesa da dignidade da pessoa humana. Ao longo da vida venho acumulando atributos como mulher, mãe, filantropa, professora e diplomata. Atualmente, ganhei mais um atributo: ré em varas criminais da Justiça do Estado brasileiro, em ações cuja parte autora estão sionistas, que sobrevivem da cumplicidade em defender o projeto sionista de Israel, no esforço concertado internacionalmente de contribuir com o processo de legitimação das atrocidades genocidas perpetradas por Israel perante a opinião pública.
As acusações no referido tribunal ou as que chegam à Justiça criminal estatal têm em comum o fato de serem feitas por sionistas contra alguém que está defendendo os direitos humanos dos palestinos, cujos territórios são ocupados e cuja vasta população vem sendo exterminada pelo projeto sionista que conduz a política colonialista de Israel, criado unilateralmente em 1948.
O projeto sionista, surgido bem antes da fundação do estado de Israel, remonta ao século XIX, na Europa, em meio à busca por uma solução para o sofrimento dos judeus, perseguidos naquele continente. Até que, ao final daquele século, um jornalista austro-húngaro chamado Theodor Herzl, integralmente identificado culturalmente com as comunidades de língua alemã da Europa Central, com pouco ou nenhum interesse na religião ou na cultura dos seus antepassados judeus, fundou o movimento sionista político.
Embora sem qualquer interesse pelo judaísmo, Herzl estava consciente do antissemitismo de seu tempo e acreditava que o preconceito contra os judeus decorria da competição econômica entre judeus e gentios, o que fez Herzl se comprometer a libertar os judeus dessa perseguição. Depois de contemplar algumas ideias, Herzl chegou à solução da autodeterminação nacional, isto é, a busca pela fundação de um estado que servisse de lar para os judeus. Não há consenso sobre como Herzl teria chegado a essa solução, se com o julgamento de Dreyfus, ou se gradativamente, ao longo da década de 1890. Definiu-se que esse Lar Nacional para os judeus seria na Palestina, pouco importando já haver lá nativos vivendo há séculos. A fundação do estado de Israel consagra, meio século depois, o projeto sugerido por Herzl, quando recrudesceram os massacres que já se faziam presente antes mesmo de 1948.
Os que pensam que tudo começou em 7 de outubro são vítimas das narrativas dos sionistas israelenses, que tentam omitir os massacres que buscavam, ao longo do século XX, concretizar o plano sionista político nascido no âmbito dos congressos sionistas mundiais, cuja primeira edição, de 1897, fora convocada por Herzl. O projeto sionista operacionaliza limpezas étnicas na Palestina. Se os palestinos atrapalharem, o projeto sionista prevê minimizar a existência desses “animais” – assim pensam os sionistas, que educam suas crianças, os futuros soldados israelenses, para verem o palestino animalizado.
Muitos na minha situação, e com razão, recuariam e não mais denunciariam a farsa sionista, que advoga o estabelecimento em uma terra sem povo [a Palaestina, como se vazia fosse], de um povo sem terra. Com efeito, não é nada prazeroso para alguém que sempre honrou suas responsabilidades perante o Estado e zelou pela sua própria reputação acordar repentinamente como ré nas instâncias criminais da Justiça de seu país e ser alvo de milhares de xingamentos dos mais repugnantes, nos perfis com centenas de milhares de seguidores de influenciadores pela rede social. Ambos os comportamentos equivalem à tentativa de calar quem se atreve a revelar a intenção de limpeza étnica da terra escolhida pelos sionistas no século XIX para criar um estado que só dá direito a quem se diz judeu, mesmo estrangeiro, nada importando a existência de nativos, sua cultura, sua identidade e suas crenças.
Por um lado, observa-se que até mesmo um número significativo de judeus é contra a formação de um estado só para os judeus, porquanto seria um estado racista. Mas, por outro lado, a censura sionista atua por meio de seu “exército” de apoiadores mundo afora, incluindo no Brasil. Defender os palestinos é saber que será perseguido até nos calarem, como é hoje o meu caso, o do jornalista Breno Altman, dos professores judeus Norman Finkelstein, Ilan Pappe, Avi Shlaim, entre tantos outros acadêmicos ou não, que são severamente hostilizados pelos sionistas.
Apesar desse terremoto em que repentinamente minha vida se tornou, recuar não é minha opção. Não desistirei de mostrar a que veio o projeto sionista, mesmo com forte ônus de natureza pessoal, financeira e profissional contra mim. Não desistirei por pelo menos três motivos.
Primeiro, porque é evidente que o lobby sionista joga para amedrontar os que ousam denunciar o projeto sionista, até que desistamos, o que não será o meu caso. Os “soldados” que atuam tacitamente em nome da estrutura lobista sionista mundial baseada fora do Brasil, como a estadunidenses AIPAC ou a StandWithUs, para não mencionar o próprio governo do Estado sionista de Israel e parlamentares da Knesset, a casa legislativa da Potência Ocupante, impõem ao mundo sua própria definição de antissemitismo (racismo contra judeus): equiparam o antissionismo (condenação do projeto sionista de criação de um estado supremacista racista, o que eu faço) ao antissemitismo (termo que se consagrou como ódio ao judeus, embora eu mesma tenha origem semita e incoerentemente seja acusada de antissemita pelos sionistas).
Essa equiparação leviana do antissionismo ao antissemitismo é que conduz a atuação das entidades sionistas no Brasil: primeiro, afirmam o óbvio; que não podemos aceitar o antissemitismo, com o que todos concordamos, o que já induz muitos a se deixarem levar pela sua explicação falaciosa – afinal, quem discordará do óbvio? O antissemitismo é, afinal, crime de racismo, e deve ser punido com todo o rigor da lei. O problema é a definição do que seja antissemitismo.
Para os sionistas, o antissionista, ao se posicionar contra Israel, deve ser automaticamente rotulado de antissemita: isto é, quem critica o sionismo estaria manifestando seu ódio aos judeus, uma das mais perigosas falácias circuladas pelo lobby sionista contra nós, porque nada mais é que uma censura velada aos que opinam contra as atrocidades da ocupação de Israel na Palestina.
O objetivo dessa pífia equivalência é uma só: silenciar os que, como eu, denunciam a violação do Direito Internacional perpetrada por Israel. Os sionistas vão além: dizem que, por causa dos antissionistas, o antissemitismo está crescendo no Brasil e no mundo, outra gravíssima falácia, que tampouco nada mais é que uma tentativa de censurar quem vem denunciando a carnificina que Israel pratica em Gaza especificamente nos últimos oito meses, e na Palestina de forma geral, há 76 anos.
Cabe ressaltar que o movimento sionista mundial busca criar mecanismos com capa de humanitarismo para camuflar a falácia dessa equiparação entre antissionismo e antissemitismo. É o caso do estabelecimento da Aliança Internacional da Memória do Holocausto (IHRA, na sigla em inglês). Quem se atreveria a criticar a IHRA? Trata-se, afinal, de uma iniciativa aparentemente bonita e solidária. A IHRA é voltada para a advocacia da memória das atrocidades sofridas pelos nossos irmãos judeus perpetradas pelo regime nazista, para jamais deixarmos cair no esquecimento, para que jamais se repita. Essa é a camuflagem da IHRA, cujo objetivo real é, por meio da apropriação do sofrimento dos nossos irmãos judeus durante o Holocausto nazista, impor a definição de antissionismo como sendo sinônimo de antissemitismo.
Onde houver a aderência à aliança, as pessoas dessa localidade que denunciarem o sionismo serão rotuladas automaticamente de racistas, por serem percebidas como antissemitas. No Brasil, São Paulo e Rio de Janeiro já aderiram à Aliança. O Congresso Nacional está sendo rondado por fortíssimas gestões por parte de sionistas para que o parlamento brasileiro eventualmente vote pelo ingresso do Brasil na Aliança. Ao se apropriar do sofrimento dos judeus durante o terrível Holocausto nazista, criando a Aliança, o lobby sionista mundial hodierno dá “xeque-mate” aos que, como eu, ousam defender os palestinos desarmados das atrocidades perpetradas pelo estado sionista de Israel.
O segundo motivo por que não desistirei de mostrar a que veio o projeto sionista está no fato de eu viver no mesmo planeta onde estamos testemunhando, em tempo real, a normalização da carnificina de um Estado soberano, membro pleno das Nações Unidas, contra civis desarmados, o que é inaceitável. No momento em que nos calamos diante de imagens de civis desarmados, muitos dos quais crianças, mulheres e idosos, sendo queimados, explodidos, decapitados, desmembrados, dilacerados por bombas bilionárias de última geração, lançadas propositalmente por um estado membro das Nações Unidas, enterrados vivos sob escombros, já há mais de meio ano, somos cúmplices.
O terceiro motivo por que não recuarei diante do assédio judicial de sionistas brasileiros contra mim está na minha inabalável confiança na Justiça do Estado brasileiro, democrático e de direito, cujo firme alicerce é a Constituição de 1988. O Poder Judiciário da República Federativa do Brasil sempre foi muito admirado por mim, em face de experiências por que passei ao longo da vida, quando, em momento de profundo sentimento de ter sido injustiçada em situações corriqueiras, a Justiça foi de uma correção admirável, o que contribuiu para essa percepção que tenho do Poder Judiciário do meu país.
E mais uma vez eu vivi a correção admirável desse Poder republicano. Refiro-me, de início, à primeira acusação de que fui alvo – de ser antissemita, portanto crime hediondo de racismo, acusação gravíssima, levianamente protocolada, em dezembro de 2023, no Ministério Público Federal (MPF) contra mim pela mais poderosa entidade sionista radicada em solo pátrio desde 1948, a Confederação Israelita do Brasil, a CONIB. Após estudar a queixa-crime, a decisão do MPF, rigorosamente embasada, foi pelo arquivamento da queixa. A decisão pelo arquivamento foi encaminhada para a análise da Justiça Federal, que acolheu a decisão, mas, inconformada com o arquivamento, a CONIB recorreu, levando o MPF a ter de reavaliar sua decisão por determinação da Justiça Federal. Novamente, o MPF decidiu pelo arquivamento, o que foi finalmente homologado pela Justiça Federal. Davi venceu Golias.
O time de advogados criminalistas da CONIB, incluindo o senhor Daniel Bialski, elaborou a petição inicial com leviana notícia-crime contra mim, com cerca de 130 páginas. Não é erro de digitação, você leu corretamente: cento e trinta páginas. Ao longo da extensa argumentação da CONIB, Bialski e seus colegas investiram seus respectivos tempos para vasculharam diversas postagens minhas nos meus perfis de ensino do idioma árabe (@ddd.arabe) e do novo canal criado especialmente para denunciar a ocupação da Palestina e o genocídio em Gaza perpetrado pelo projeto sionista de Israel (@desmanipulandose), e tentaram extrair “a fórceps” a interpretação esdrúxula de que eu pregava o ódio aos nossos irmãos judeus, afirmando cruelmente que tais denúncias que eu fazia dirigiam-se contra os judeus, seguindo a lógica macabra da equivalência automática do antissionismo ao antissemitismo, que nada mais é que uma espécie de censura para nos calar.
É tão bárbara e covarde a tentativa de me acuar que os advogados da CONIB nem disfarçaram. Até a equivocada definição de antissemita da IHRA eles tiveram a audácia de usar para tentar comprovar que eu expressava ódio a judeus, além de outras aberrações contra minha pessoa. Desta feita, a mentirosa assertiva típica dos sionistas, a de que criticar Israel equivaleria a odiar os judeus, não colou. Derrota da CONIB, inobstante o time de primeira linha da nata de advogados criminalistas brasileiros.
O Procurador do MPF a quem o processo foi distribuído não se deixou levar pela sofística argumentação repetida como verdade pelos sionistas há pelo menos 76 anos, de que os que denunciam os crimes da ocupação exterminadora cometidos por Israel estariam automaticamente se opondo aos nossos irmãos que praticam a fé judaica, e assim sendo, estariam cometendo racismo, ou o que a CONIB classifica de antissemitismo. Como se isso não bastasse, em uma ginástica hermenêutica ainda mais fantástica, os doutos advogados criminalistas da CONIB tentaram convencer o MPF de que uma diplomata não poderia expressar sua opinião, por ser diplomata da ativa, indo de encontro à legislação brasileira vigente de que servidor público federal, pode, sim, expressar suas opiniões, desde que ressalvado que não fala em nome da instituição onde trabalha.
Mesmo sendo público o referido processo a quem quiser lê-lo, destaco excertos da decisão do MPF pelo arquivamento, bem como a opinião do MPF sobre meu desimpedimento em divulgar minhas opiniões, sendo diplomata da ativa:
“Perceba-se, ainda, que em momento algum CLÁUDIA sequer tangencia ou minimiza eventos históricos como o Massacre de Lisboa (1506); o Decreto de 1938, no Brasil; o Holocausto e os seis milhões de judeus mortos; as barbáries desumanas perpetradas pelos Einsatzgruppen. Em momento algum ela nega as perseguições ao povo judeu, dirige-lhe ódio ou discriminação. Em momento algum ela enalteceu ou minimizou o ataque terrorista bestial do Hamas ao povo de Israel em 7 de outubro de 2023.
O que ela fez, clara e unicamente, foi tomar partido contrário a Israel na relação desse Estado com a Palestina ao longo da história, e, também, a respeito da guerra contra o Hamas deflagrada recentemente.
Dito tudo isso, com o imenso respeito à CONIB e aos seus doutos advogados, o estudo da notícia-crime e de toda argumentação nela contida sugere que seus autores pretendem calar CLÁUDIA ASSAF por meio do braço forte e excepcional do Direito Penal. Sugere, sim, que a noticiante não tolera a divulgação, sobre a atual guerra, de uma versão crítica que vilanize o Estado de Israel em relação ao povo palestino.
Não é conveniente, portanto – com todas as vênias –, que se pretenda blindar o Estado de Israel de críticas pela condução de suas relações externas com a invocação de tragédias passadas sofridas por seu povo. E o que é pior: tratar como criminoso (racista ou antissemitista) aquele que milita opiniões contrárias às da comunidade judaica, notadamente quando essas opiniões não atacam desenvolvimento do judaísmo, sua herança espiritual, cultural e social.
Finalmente, sobre a condição de diplomata da investigada, registre-se que seus posts foram produzidos alheios a essa condição, como, aliás, está em caixa alta nos dois perfis (“OPINIÕES NESTE CANAL NÃO REFLETEM OPINIÃO DO ITAMARATY”). Não se tratam, portanto, de ato administrativo, este sim submetido aos princípios da imparcialidade, interesse público, legalidade etc.
É bom lembrar também que, em 2020, a Controladoria-Geral da União emitiu a Nota Técnica no 1556/2020/CGUNE/CRG, que impôs à Administração Pública Federal a adoção de medidas disciplinares contra servidores que formularem em redes sociais e outros meios virtuais manifestações contrárias ao órgão ao qual está subordinado, com fundamento em suposto o ‘dever de lealdade’ do servidor.
Ocorre que, depois de questionada sua constitucionalidade junto ao STF (ADI n. 6.530) e de ter seus efeitos pretendidamente suspensos pelo Projeto de Decreto Legislativo n. 352/2020, a nota foi revogada pela CGU em 16 de janeiro de 2023.”
O leitor deve estar se perguntando como uma entidade tão poderosa como a CONIB estaria se preocupando com uma professorinha de curso on-line e servidora pública como eu, com baixíssimo alcance relativo? A resposta é simples: quando alguém com credibilidade acadêmica ou profissional decide revelar as falácias da narrativa sionista, mostrando-se disposta a enfrentar o furacão em que sua vida privada e até profissional se transformará, não se calando, isso incomoda bastante.
Enquanto o processo da CONIB contra mim transitou em julgado, com derrota para a CONIB, temos agora um segundo processo na Justiça em que sou ré, acusada de crime de injúria, ajuizado pelo ex-integrante das Forças de Defesa de Israel e atual presidente da filial brasileira da “ONG” sionista estadunidense StandWithUs, o senhor André Lajst, representado pelo advogado Daniel Bialski, o mesmo que representou a CONIB na queixa-crime anteriormente relatada.
Nesta quinta-feira, 16 de maio, está agendada audiência preliminar. Estou pronta para enfrentar mais esse episódio e acatarei o que a Justiça entender que eu mereço. É que no início deste ano eu mostrei que o pacifismo com que o Sr. Lajst se apresenta estaria incoerente com sua atuação no bastidor, quando, sem saber que estava sendo gravado, puxou violentamente a bandeira da Palestina da mão de um estudante da Universidade Federal do Amazonas (UFAM) que manifestava pacificamente pelo fim do genocídio do povo palestino.
No vídeo, eu o havia chamado de “lobo em pele de cordeiro”, uma expressão popular e metafórica que representa alguém que esconde sua verdadeira natureza por trás de uma aparência inocente, simples assim. O Sr. Lajst se considerou ofendido e busca reparação, mesmo tendo sido comprovado no vídeo que ao mesmo tempo em que se oferece para ser um mediador da paz entre Israel e Palestina, também arranca, sem saber que estava sendo gravado, de forma violenta, a bandeira da Palestina das mãos de um universitário que pacificamente manifestava sua opinião pró-Palestina e a rasga.
O vídeo, que eu havia retirado do ar logo depois de sua publicação naquela ocasião em face da perseguição rigorosa que os sionistas me faziam, porque me dei conta de que os sionistas poderiam descontextualizar a adjetivação de nossa expressão popular “lobo em pele de cordeiro” na tentativa de me prejudicar, o que, de fato, está acontecendo, mesmo sem haver mais objeto do que o magoou, não causou qualquer dano ao rapaz, bem como deixou de existir logo depois de sua publicação. Mas o Sr. Lajst me processa e isso é um direito dele, no Estado Democrático de Direito, ainda que suas motivações sejam questionáveis e não tenha havido qualquer dolo para injuriá-lo.
Em suma, este é o preço que estou pagando, ser vítima da censura dos sionistas, para fazer algo pelos oprimidos, por meio da revelação dos fatos que os sionistas escondem, e assim conscientizar os que nada conhecem sobre a Questão Palestina. Se observarmos mais atentamente, o modo como os sionistas atuam contra nós, que estamos revelando o que é o projeto sionista de fato, é o mesmo modo em que Israel opera contra os palestinos: acusam-os de crime e declaram-se vítimas. É a exata mesma lógica.
Quando conhecemos a história e temos a certeza do que se passa, conseguimos com facilidade identificar a falácia de cada argumento utilizado pelos sionistas e por seus apoiadores, remunerados ou não, quando defendem o opressor Israel. As falácias a respeito do Hamas e de sua inverídica aversão à solução de dois estados (Hamas aceita os dois estados na fronteira de 1967, basta ler seus documentos divulgados em 2017); da ajuda humanitária, cuja entrada em Gaza Israel finge não ter poder para decidir; de acordos de cessar-fogo que supostamente Hamas não aceitara, mas que foi Israel que não aceitou, colocando em risco a vida dos sequestrados israelenses, cujas mortes – que lamento muito – têm sido provocadas pelos ataques israelenses; de suposto aumento de antissemitismo como se antissionismo fosse, sem qualquer base confiável; entre tantas outras inverdades.
A “salada” das mentiras por parte das entidades sionistas é tão abjeta que serve de combustível para nós, independentes, que sabemos o que de fato se passa, continuarmos no nosso sacerdócio de denunciar os opressores e visibilizar os oprimidos, apesar da censura, materializada pelos xingamentos na rede social e pelo assédio judicial ajuizando ação criminal contra nós, vocais contra Israel e defensores dos oprimidos.
É ainda mais imperativo que não abandonemos os oprimidos, por um motivo bem simples: estamos incomodando porque fazemos parte de fenômeno cada vez mais forte nas redes sociais: os canais independentes no Brasil, que conseguem fazer colapsar a mentira repetida ao longo das últimas sete décadas pelos sionistas, que fazem dos algozes sionistas as vítimas, e as verdadeiras vítimas – o povo nativo palestino ora sendo exterminado –, de algozes.
A narrativa sionista de defesa de um estado racista supremacista de Israel está colapsando, e quem optar por continuar denunciando o criminoso projeto sionista vai pagar o preço alto por isso. Eu já estou pagando o meu, mas o faço conscientemente, sobretudo porque confio na lucidez da Justiça brasileira. Os alunos nas universidades americanas, os povos europeus, entre tantos outros, estão manifestando-se cada vez mais intensamente. A conscientização chegou às universidades brasileiras.
Roger Waters, o vocalista do Pink Floyd, revelou uma lição que sua mãe, Mary Waters, um dia lhe ensinou, narrada em vídeo por ele publicado recentemente, cuja fala reproduzo a seguir:
“Meu pai morreu na Itália em 18 de fevereiro de 1944, lutando contra os nazistas. Minha mãe, que sobreviveu a ele, me chamou um dia quando eu tinha 13 anos e me disse: ‘Roger, sente-se, vou lhe dar alguns conselhos para toda a sua vida. Você se deparará com questões difíceis e terá de pensar em meus conselhos quando isso acontecer, que é o seguinte: primeiro leia, leia e leia, leia tudo o que você puder encontrar sobre a questão difícil, leia a história, leia a história! Apenas leia. Quando você tiver feito isso, leia mais um pouco. E ela concluiu: quando você tiver lido à exaustão sobre a questão, você terá concluído o trabalho pesado, a pior parte, a parte mais dura, mas agora virá a parte mais fácil. E eu perguntei: ‘ah, sério, mãe, então qual é a próxima parte?’ E a mãe de Roger concluiu: ‘a próxima parte é fazer o que é o correto depois que você adquirir conhecimento do que realmente se passou.’”
O conhecimento entristece, mas nada do que eu venha a sofrer com esses ataques da censura sionista poderá se comparar ao sofrimento a que o projeto sionista do estado racista de Israel submete os palestinos nos últimos 76 anos e em especial agora, neste momento em que o leitor lê esta linha e Gaza está sendo brutalmente atacada com civis desarmados como alvo. Eu concluí a parte mais difícil do conselho da Sra. Waters e o conhecimento é a tristeza dos meus dias atuais. Oxalá eu não soubesse de nada. Mesmo com o “tribunal” da Internet me reduzindo ao pó, como faz, entre tantos perfis sionistas na plataforma X, como no caso do jornalista chamado Alexandre Schwartsman e seus seguidores, que me atacam em minha condição feminina, com xingamentos misóginos que fazem referências a sexo e aparência física, os quais eu prefiro não reproduzir aqui.
Os ataques e o lawfare não me intimidam. Pelo contrário, mostram-me que estou no caminho certo! A história no futuro julgará os coniventes e os omissos. Mesmo tendo me tornado ré na Justiça criminal brasileira, agora eu sei, cheguei à parte mais fácil ao lidar com a questão Palestina: a de não interromper meu compromisso com os oprimidos em denunciar Israel sionista genocida, simplesmente porque isso é o correto fazer.
(*) Cláudia Assaf é diplomata com 17 anos de experiência no Itamaraty. Este artigo não reflete a opinião do Itamaraty.