Os jornalistas colombianos Julieta Duque e Hollman Morris apresentaram em Bogotá uma série de documentos que, segundo os dois, comprovam ameaças feitas contra eles e suas famílias e apontaram o presidente da Colômbia, Álvaro Uribe, como um dos culpados, pela “ação e omissão” no caso. De acordo com os comunicadores, o serviço de inteligência civil do DAS (Departamento Administrativo de Segurança), que depende diretamente da presidência, é o responsável pelas ameaças e monitoramento ilegal.
Cecilia Puebla/EFE (09/02/2010)
Uribe em Quito, durante a cúpula na Unasul. De acordo com ex-diretor do DAS, o presidente recebia informes sobre
a atuação de sindicalistas, jornalistas e opositores
Morris, diretor do programa de TV Contravia, é um jornalista reconhecido no exterior, ganhador de diversos prêmios internacionais, incluindo o Defender da Human Rights Watch e o Premio Nuevo Periodismo (CEMEX-FNPI), o mais importante da América hispânica.
Em coletiva de imprensa, Morris afirmou que “o jornalismo na Colômbia está mortalmente ferido” e que, naquele momento, “havia muito a ser denunciado e pouco a ser celebrado”, se referindo ao dia do jornalista no país, celebrado na terça-feira (9). “As provas e os testemunhos em poder da Procuradoria (órgão que representa os cidadãos perante o estado) e da Corte Suprema de Justiça revelam responsabilidade direta do presidente, tanto pela ação no caso quanto pela omissão”, disse o jornalista.
Hollman mostrou ao Opera Mundi documentos oficiais apreendidos pela Procuradoria no DAS. De particular interesse havia um arquivo de powerpoint que explicava como atuar contra o jornalista. Na página intitulada: “cursos de ação” é possível ler: “iniciar campanha de desprestígio internacional através dos seguintes: comunicados; incluir o vídeo das Farc [Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia]; ações de sabotagem e gerenciar a suspensão de visto”.
Vídeo compila acusações de Uribe contra a imprensa:
“Desligar após 49 segundos”
Julieta Duque, colega de Morris, convive há 10 anos com ameaças e por três vezes precisou sair do país por causa das investigações que fazia sobre os crimes cometidos por paramilitares de direita. Ela mostrou ao Opera Mundi um guia de instruções usado para ameaçá-la. O documento foi encontrado nos escritórios do DAS, elaborado em gráficas da própria instituição.
“No início do documento, estão meus números de telefone e email. Logo abaixo, sob o título ‘aspectos de segurança’, pedem cuidado, pois eu teria identificador de chamadas e também gravaria as conversas e, por isso, recomendam fazer ligações a partir de telefones públicos, sem câmeras por perto e desligar após 49 segundos”, contou.
A jornalista revelou também um modelo textual de ameaça, assim estruturado:
Saudação: Bom dia (tarde). Por favor, a doutora Claudia Julieta Duque se encontra?
Mensagem: A senhora é a mãe de Maria (esperar a resposta)? Então lhe digo que não nos deixou outra opção, lhes dissemos de todas as formas e você não deu importância. Agora carros blindados não vão adiantar. Fomos obrigados a nos meter com o que é mais precioso para você, que é sua cadela, e por se meter com o que não lhe diz respeito, velha com gonorréia filha da puta.
Em 17 de novembro de 2004 Julieta recebeu essa chamada, além de uma ameaça de que sua filha, de 10 anos, seria violentada sexualmente e morta.
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Informes de Uribe
O ex-diretor do DAS, Jorge Noguera, de alguma forma respaldou as denúncias de Morris e Julieta, quando afirmou à Corte Suprema que o presidente Uribe recebia informes periódicos sobre as atividades dos sindicalistas no país.
Noguera, que está detido e é processado por lavagem de dinheiro e por ter permitido a infiltração paramilitar no DAS, declarou na semana passada à Corte que Uribe tinha conhecimento do monitoramento de jornalistas e opositores do governo. A presidência, por sua vez, sempre negou saber das ações ilegais do DAS.
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A fundação para a liberdade de imprensa colombiana (FLIP) declarou que as ligações ilegais do DAS são o maior obstáculo à liberdade de imprensa no país. Até o fechamento dessa reportagem o governo não havia respondido às acusações dos jornalistas.
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