O presidente da Argentina, Alberto Fernández, anunciou nesta terça-feira (04/01) que ordenou uma investigação contra a gestão de Mauricio Macri, que governou o país entre 2015 e 2019, por espionagem ilegal e perseguição judicial contra sindicalistas e opositores.
“A Justiça Federal está investigando uma denúncia de que ordenei à Agência Federal de Inteligência [AFI] em relação às ações do governo anterior que promoveram a espionagem ilegal e vários processos judiciais contra sindicalistas e opositores”, disse Fernández em sua conta no Twitter.
La Justicia Federal investiga una denuncia que he ordenado hacer a la Agencia Federal de Inteligencia para que se investiguen acciones del anterior gobierno que promovieron el espionaje ilegal y diversas persecuciones judiciales contra sindicalistas y opositores. pic.twitter.com/QOgrtPxICS
— Alberto Fernández (@alferdez) January 4, 2022
A ação de Fernández ocorre após a denúncia da inspetora da AFI, Cristina Caamaño, contra funcionários da gestão anterior após encontrar um disco com a gravação de uma reunião feita em 15 de junho de 2017. Na gravação, funcionários do governo municipal de Buenos Aires comandado por María Eugenia Vidal, entre eles o secretário do Trabalho Marcelo Villegas e agentes de inteligência, orquestraram uma perseguição contra organizações sindicais.
No vídeo vazado, Villegas, assim como Vidal que é alinhado a Macri, aparece falando que “se pudesse”, ele teria uma” Gestapo, uma força de ataque para acabar com todos os sindicatos”. A citação faz referência à Gestapo, abreviação para Geheime Staatspolizei, que foi a polícia secreta oficial da Alemanha Nazista que desempenhou um papel no extermínio dos “inimigos” do governo, sobretudo judeus.
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Na filmagem, uma das autoridades expressa desejo por uma ‘Gestapo’ contra sindicatos
Fernández também destacou que quando assumiu o poder denunciou a existência de mais de 100 celulares criptografados fornecidos pela AFI envolvendo autoridades nacionais, pessoas do sistema judiciário e parceiros políticos e comerciais do partido no poder na época, o Cambiemos.
O atual mandatário garantiu que os aparelhos foram designados à ex-governadora da província de Buenos Aires Maria Eugenia Vidal, ao procurador da província Julio Conte Grand, ao ex-presidente do clube de futebol Boca Juniors Daniel Angelici, ao ex-ministro da Justiça de Buenos Aires Gustavo Ferrari, ao empresário Nicolás Caputo e ao ex-procurador-geral Martín Ocampo.
Segundo o peronista, ele se perguntou qual era o propósito da existência desses telefones criptografados e quais segredos eram mantidos por funcionários e empresários.
Para o chefe de Estado da Argentina, essas questões exigem uma resposta, uma vez que “o uso do serviço de inteligência do Estado de Direito para realizar espionagem interna e promover processos criminais é definitivamente repugnante e, portanto, inadmissível”.
Diante dos fatos de um suposto método ilegal de perseguição, o presidente indicou que a Justiça deve investigar a gestão anterior sem demora.
O governo Macri também aguarda outro processo sobre a espionagem ilegal de familiares dos marinheiros da ARA San Juan, submarino que naufragou em 2017. Neste caso, a denúncia aponta que as famílias dos soldados mortos eram alvos de escutas telefônicas e de outras interceptações durante o período que as autoridades investigavam o caso.
(*) Com Telesur.