A escolha do Brasil de se abster na votação que adotou uma zona de exclusão aérea na Líbia gerou polêmica entre especialistas consultados pelo Opera Mundi.
Nesta quinta-feira (17/03), o Conselho e Segurança da ONU (Organização das Nações Unidas) aprovou a medida por dez votos a favor e nenhum contra. Os outros cinco integrantes do órgão se abstiveram (Brasil, Rússia, China, Índia e Alemanha).Além disso, possibilita que a comunidade internacional adote “todas as medidas necessárias para proteger a população civil”.
Apesar da embaixadora do Brasil na ONU, Maria Luiza Viotti, ter garantido que a posição do Brasil “não significa uma aceitação do comportamento do governo líbio”, o professor de História das Relações Internacionais da UERJ (Universidade Estadual do Rio de Janeiro) Williams Gonçalves acredita que essa atitude vai contra o regime de Muamar Kadafi, porque inevitavelmente favorece um lado, o dos rebeldes.
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“É lamentável que o Brasil tenha se abstido dessa decisão. Ela contraria as diretrizes do país, que sempre se pautou pela defesa da autodeterminação dos povos”, disse Gonçalves.
Para ele, o Brasil deveria ter votado contra a zona de exclusão. A abstenção significa uma “aceitação pacífica à ideia de intervenção e fere a soberania do Estado líbio”.
“A zona e exclusão aérea é uma declaração de guerra à Líbia que, de agora em diante, está proibida por terceiros de utilizar seu próprio espaço aéreo”, argumentou.
O professor de Relações Internacionais da UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul), Paulo Fagundes Vizentini, por sua vez, acredita que o Brasil acertou em não se posicionar em relação a aprovar a zona de exclusão aérea.
“O posicionamento do Brasil é totalmente esperado. Desde 1961 votamos assim por defendermos a não intervenção externa em questões internas”, justificou.
Vizentini discorda de Gonçalves e acredita que o estabelecimento da zona de exclusão aérea dá “equilíbrio militar para que os rebeldes possam estar em uma situação menos desfavorável em relação às tropas pró-governo”.
Já Gonçalves encara a determinação como uma “tentativa de derrubar o governo da Líbia”.
“Cada vez fica mais claro que a revolta no país, ao contrário do que aconteceu no Egito, não é uma manifestação popular, mas sim uma manifestação estimulada por aqueles que têm interesse na queda do governo de Kadafi. Coincidentemente, são os mesmos que se colocam a favor dessa zona de exclusão aérea”, argumentou.
Para ele, a aprovação da resolução é um “sinal verde” para uma invasão ou intervenção de grande porte na Líbia por parte das forças internacionais, que têm o petróleo como principal interesse na região. “O objetivo é fazer da Líbia o novo Iraque”, acrescenta.
Durante a sessão do Conselho de Segurança da ONU nesta quinta-feira (17/03, Viotti garantiu que “o Brasil não acredita que o uso da força seja o caminho para resolver os problemas da Líbia”.
A representante permanente do Brasil na ONU acredita que “as medidas adotadas podem gerar mais danos do que benefícios” e que os problemas estão no texto aprovado.
“Os movimentos no mundo árabe têm crescido internamente, e uma intervenção externa alteraria esta narrativa, tendo repercussões na Líbia e em outros países”, concluiu.
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