Toda campanha eleitoral que se preze, pelo menos na Argentina, provoca acontecimentos às vezes contrários ao senso comum, mas também às normas legais. Por exemplo, Manuel Blanco, o juiz responsável por assuntos eleitorais da província de Buenos Aires, decidiu habilitar Luis Abelardo Patti como candidato a deputado federal nas eleições de junho. Patti está preso, alvo de um processo penal por delitos de lesa humanidade.
Este ex-policial está detido há mais de um ano, acusado pelo sequestro de Diego Muniz Barreto e Juan Fernández, pelo assassinato de Gastón Gonçalves, o desaparecimento de Carlos Souto e Luis e de Guillermo D'Amico e a detenção de Osvaldo Arriosti.
O juiz Blanco concluiu que Patti não pode ser impedido de se candidatar porque o Código Eleitoral Nacional só prevê a exclusão de uma pessoa se ela tiver sido “condenada por delitos dolosos a pena de privação da liberdade”. O juiz entendeu que, por não existir nenhuma condenação, não há motivo para aceitar as impugnações apresentadas contra Patti.
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A atitude de Blanco se ajusta ao direito, como costumam dizer os advogados. Mas o contexto político mudou. Até há pouco tempo, as leis de Obediência Devida e Ponto Final, que anistiaram torturadores do regime militar, davam proteção a pessoas como Patti. Isso mudou, os julgamentos foram retomados há quatro anos. É o que ocorreu com o caso deste ex-policial, que está prestes a ir a julgamento com uma série de provas irrefutáveis de sua responsabilidade nos crimes.
Nos anos da ditadura, Patti foi um oficial da polícia da província de Buenos Aires conhecido pela ferocidade e dedicação na perseguição de cidadãos considerados inimigos do governo militar. Continuou sendo um policial duro depois do retorno à democracia, em 1983, e nunca viu problema em reconhecer que era afeito à tortura e até mesmo que participou de algumas execuções de líderes sindicais, entre eles Osvaldo Cambiaso e Eduardo Pereira Rossi, sequestrados na cidade de Rosario, província de Santa Fé, e assassinados num confronto forjado em Zárate, província de Buenos Aires.
Este último caso ocorreu no final da ditadura e talvez por isso tenha sido excluído do processo, embora estivesse provada a participação de Patti, que havia fuzilado os sequestrados, demonstrando que o confronto nunca havia ocorrido.
Em 1993, o ex-policial deixou a polícia e rapidamente se aproximou do governo do então presidente Carlos Menem, que o apoiou e ajudou a se tornar prefeito do distrito de Escobar, em Buenos Aires. Tentou conquistar o governo da província, sem sucesso. Em 2007, candidatou-se a deputado federal e obteve a cadeira, mas a própria Câmara recusou sua incorporação e ele não pôde ocupar mais do que uma vez seu lugar na bancada, de onde lançou uma diatribe contra aqueles que o rechaçaram.
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