José “Pepe” Mujica, o presidente eleito no Uruguai pela coalizão governista de esquerda Frente Ampla, tem boas relações com os governos mais progressistas da América do Sul, o que pode ajudá-lo a colocar em prática uma das prioridades de seu programa de governo: o aprofundamento da integração regional.
Um dos primeiros telefonemas de saudação, recebido no domingo à noite, foi do presidente venezuelano Hugo Chávez. Hoje, por meio de um comunicado da chancelaria, Caracas destacou que Mujica é um exemplo de “dignidade e perseverança para quem desde sempre teve em sua trajetória uma referência moral para nossas lutas” e que sua vitória “consolida a grande onda de transformação, dignidade e soberania, atravessada pela nossa América Latina”.
Mas a simpatia sempre expressada por Chávez não é totalmente correspondida por Mujica. O presidente eleito destaca os avanços conquistados pela Venezuela em âmbito social, mas questiona o estilo “excessivamente verborrágico” e confrontador do venezuelano. Seu modelo é o presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva, de quem destaca a qualidade de negociador e a humildade.
Na campanha para o primeiro turno, Mujica viajou a Brasília para reunir-se com Lula. Juntos, tocaram tambor, falaram de futebol, de interconexão elétrica e da necessidade de estabelecer projetos de cooperação universitária entre os dois países. Poucos dias antes do segundo turno, Mujica recebeu a visita de Olívio Dutra, dirigente do PT (Partido dos Trabalhadores) e ex-ministro de Lula, que levou o apoio de Lula.
Leia mais:
Candidato diz se espelhar em Lula
Mujica: alma de guerrilheiro e discurso conciliador
“Lula tem a segurança de que em um segundo governo comandado por Mujica será mais produtiva e mais rica a relação para nossos povos, e em especial na área do Mercosul”, manifestou Dutra, destacando que o ex-guerrilheiro, assim como Lula, é “uma figura com uma capacidade enorme de dialogar”.
Nesta segunda-feira, de Estoril (Portugal), onde participa da 19ª Cúpula Ibero-Americana, Marco Aurélio Garcia, assessor para Assuntos Internacionais de Lula, afirmou que Mujica é um grande “amigo do Brasil” e de Lula. Ele assegurou que, com Mujica na presidência uruguaia, será levado adiante o caminho do “fortalecimento da Unasul e do Mercosul”.
Argentina
A Frente para a Vitória, coalizão governista da Argentina, também vê em Mujica “um amigo e um companheiro”, segundo as declarações feitas nesta segunda pela presidente Cristina Kirchner, em Portugal. Mesmo Mujica tendo chamado os kirchneristas de “patoteros” (prepotentes) em uma entrevista.
Sua presença no governo desperta esperanças de que seja solucionado o conflito com a Argentina pela instalação da fábrica de celulose da empresa finlandesa Botnia, às margens do rio Uruguai. Uma das pontes que unem os países está bloqueada por ambientalistas argentinos há mais de três anos. Mujica disse várias vezes que tem uma solução para o desentendimento, que colocará em prática quando assumir. “Compraremos muita erva e nos sentaremos para tomar mate o tempo que for necessário [até encontrar uma solução]”, assegurou no sábado.
Neste domingo, o embaixador argentino no Uruguai, Hernán Patiño Mayer, disse ao Opera Mundi que em seu país há muita vontade de solucionar esse conflito e destacou a importância da vitória de Mujica “para os movimentos populares na região”.
Mujica e Astori estarão presentes na próxima reunião de cúpula do Mercosul, que será realizada no dia 8 de dezembro, em Montevidéu.
NULL
NULL
NULL