Amelia Andersdotter tem apenas 21 anos mas, a partir do dia 1º de dezembro, fará parte de um dos espaços políticos de maior prestígio no mundo: o Parlamento Europeu. A jovem é uma das fundadoras do Partido Pirata na Suécia, que conseguiu 215 mil votos nas últimas eleições e terá direito a dois eurodeputados. Junto com Christian Engstrom, de 49 anos, ela será a representante direta de uma ideologia que tem feito a cabeça de jovens europeus: a livre troca de arquivos pela internet, a redução dos direitos autorais para cinco anos, quebra de patentes e a exigência de garantias de privacidade dos usuários.
“Vou defender uma política justa, honesta, de inovação e criatividade. E, na verdade, acredito que não vou encontrar resistência a tais ideias no Parlamento Europeu”, diz Andersdotter ao Opera Mundi.
O Partido Pirata surgiu em 2006, na Suécia, de olho em uma batalha digital: a disputa sobre o controle de direitos autorais na internet. Em três anos, tornou-se o terceiro maior partido político do país. “Alguns ainda reagem às nossas ideias com ceticismo. Outros já começaram a dar atenção. Talvez ainda não em um patamar de liderança, mas eles chegam lá”, espera Andersdotter.
Divulgação
A eurodeputada eleita Amelia Andersdotter
As conquistas suecas chamaram a atenção de outros jovens do mundo inteiro que começaram a disseminar a ideologia. Hoje, há versões nacionais do partido em mais 37 países.
A maior vitória até agora aconteceu na Alemanha. O Partido Pirata local elegeu dois representantes municipais, em Münster e em Aachen. Nas últimas eleições federais alemãs, os “piratas” alcançaram 845 mil votos (2% do total), quantia insuficiente para eleger um representante (a cláusula de barreira é de 5%). Mas o número de votos foi o maior recebido por um Partido Pirata em um país europeu até agora.
Para a futura eurodeputada, o sucesso vem das diferentes propostas do partido. “Os jovens não estão cansados da política e, sim, dos atuais debates políticos”, afirma.
O presidente da Associação Espanhola de Internautas, Víctor Domingo, concorda. “Não há nenhuma sintonia entre os políticos atuais e os internautas, com raras exceções. A classe política tem uma enorme desconfiança da internet”.
Caso Pirate Bay
O desinteresse dos jovens pelos atuais debates políticos ou o desinteresse dos políticos tradicionais pela rede podem até ter ajudado o crescimento do partido. Mas o que foi decisivo, de fato, foram as medidas tomadas pela oposição. Em abril, um tribunal sueco condenou a um ano de prisão os administradores do site thepiratebay.org, considerado o maior portal de downloads do mundo, com sede na Suécia. Resultado: o número de filiações ao partido quase triplicou. Hoje, já chegam a 50 mil membros.
A ideologia pirata ataca diretamente a indústria cultural. O setor cinematográfico já está pelo quarto ano consecutivo no vermelho. As gravadoras também reclamam dos prejuízos. Na Espanha, por exemplo, no ano 2000 foram vendidos 600 milhões de euros em discos. Oito anos depois, a quantia foi reduzida a menos da metade: 255 milhões.
“O que os jovens não percebem é que, se a indústria não tem dinheiro para produzir, cai sensivelmente a qualidade dos novos filmes, discos e livros”, diz um produtor espanhol que prefere não ser identificado.
Para evitar prejuízos, representantes das indústrias culturais têm procurado o governo e as operadoras de telecomunicações em busca de regulação. O grupo pede punições para os concentradores de conteúdo (como o Pirate Bay, Mininova e Demonoid) e até para o usuário comum – o que incluiria cortar o acesso à internet. As operadoras aprovam as medidas contra os sites, mas são terminantemente contra desconectar o usuário.
Enquanto a discussão não chega a um acordo, Reino Unido, França e Suécia endureceram suas leis para identificar e punir usuários que fizerem download de conteúdo sem respeitar direitos autorais.
NULL
NULL
NULL