O futuro do Afeganistão começa a ser desenhado amanhã (20), quando os eleitores vão escolher o presidente e os membros dos conselhos das províncias. O que os afegãos esperam é que o próximo governo possa amenizar o problema da violência e ativar a economia, a fim de reduzir a alta taxa de desemprego no país.
Estão aptos a votar 15,6 milhões de eleitores, mas muitos podem ficar longe das urnas por causa de ameaças de atentados feitas por integrantes do Talibã, grupo extremista que governou o país de 1996 a 2001.
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A falta de emprego é uma das principais dificuldades do país. Do total de 33,6 milhões de habitantes, 60% estão sem trabalho, segundo a especialista em Afeganistão e pesquisadora da SOAS (Escola para Estudo Africanos e Orientais), da Universidade de Londres, Massoumeh Torfeh.
De acordo com dados da CIA, apenas 28% da população sabe ler e escrever e 76% mora no campo. A idade média é de 17,6 anos e a expectativa de vida é de 44,6 anos. Para efeito de comparação, o Brasil, com mais de 191 milhões de habitantes, tem 88,6% da população alfabetizada, 14% no campo, idade média de 28 anos e expectativa de vida de 72 anos, segundo dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).
Uma pesquisa realizada em julho pelo IRI (Instituto Republicano Internacional), organização sem fins lucrativos financiada principalmente pelo Departamento de Estado norte-americano, aponta que a prioridade nos planos de governo deve ser a segurança (30%), em seguida a economia (22%) e depois a reconstrução da infraestrutura (11%).
Os principais candidatos à presidência são o atual presidente Hamid Karzai, o ex-ministro das Relações Exteriores, Abdullah Abdullah, e o ex-ministro de Finanças Ashraf Ghani. Para reverter a insegurança do país, Karzai e Abdullah querem negociar com os integrantes do Talibã. Ghani, por sua vez, quer reverter os avanços dos insurgentes e expulsá-los do país.
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De acordo com a pesquisadora Torfeh, “os índices melhorariam se mais dinheiro tivesse sido gasto para tornar o governo mais forte e para criar mais liberdade de discurso e de imprensa, mais fábricas e mais empregos, e não só usado [a verba] em gastos militares. As pessoas estão sofrendo por causa disso”.
Os Estados Unidos, que ocupam militarmente o país desde 2001, injetaram 26 bilhões de dólares no país desde então.
Processo eleitoral
Apesar dos baixos índices econômicos e sociais e do medo devido às ameaças de atentados, a maioria da população confia no processo eleitoral. Segundo pesquisa do IRI, 77% dos 2,4 mil eleitores entrevistados disseram acreditar que o voto será secreto e 48% afirmaram estar extremamente confiantes de que a IEC (Comissão Eleitoral Independente) conseguirá promover eleições justas e livres. A pesquisa realizada em julho tem margem de erro de dois pontos percentuais.
O jornalista afegão Abdulhadi Hairan, residente na capital Cabul, diz que as pessoas querem reformas em todos os níveis da sociedade. “Elas querem os insurgentes eliminados ou incluídos no governo e que a corrupção e os negócios com drogas acabem”.
Até agora, o grande avanço afegão, na opinião do jornalista, foi o estabelecimento de um Estado democrático com instituições que “apesar de tudo” funcionam. O maior problema seria a dificuldade do governo e da ajuda internacional na identificação das necessidades das pessoas. “A comunidade internacional tem enfatizado apenas no aumento do número de tropas, e a população local odeia essas tropas tanto quanto odeia os insurgentes. Elas confiam no governo e querem trabalhar com o governo, mas o governo é tão fraco que a população fica desapontada e toma abrigo na estrutura tribal centenária ou busca ajuda com os insurgentes”.
Enquanto a propaganda eleitoral está nas ruas de Cabul, as tropas militares internacionais tentam fazer com que as 29 mil urnas que serão usadas na votação sejam instaladas a tempo, inclusive nas áreas controladas pelos talibãs.
Jalil Rezayee/EFE
Operários levam urna a um dos colégios eleitorais de Herat, na véspera da eleição
No entanto, é esperada uma apuração lenta. Os primeiros resultados devem ser apresentados em 3 de setembro. Já os definitivos serão anunciados no dia 17. Caso haja segundo turno, este acontecerá na primeira semana de outubro.
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