O papa Bento XVI viaja entre esta quinta-feira (16/9) e o dia 19 ao Reino Unido, na primeira visita oficial de um pontífice quase 500 anos depois da ruptura de Enrique VIII com a Igreja Católica, em uma jornada com forte caráter ecumênico e que acontece após a abertura do Vaticano aos anglicanos que desejem voltar a Roma.
“Não vejo a hora de realizar a viagem e saudar de coração a todo o povo britânico”, disse recentemente o pontífice sobre a visita, durante a qual se reunirá em Edimburgo com a rainha Elizabeth II, chefe da Igreja Anglicana, e em Londres com o arcebispo de Canterbury e primaz dessa igreja, Rowan Williams.
Também se reunirá em Londres com o primeiro-ministro do Reino Unido, David Cameron, e pronunciará um discurso – dos 16 previstos durante a viagem – em Westminster Hall, o local onde foi julgado e condenado Tomás Moro em 1535.
Em Birmingham, última etapa da visita, beatificará no dia 19 o cardeal John Henry Newman (1801-1890), um anglicano convertido ao catolicismo, considerado um dos pais espirituais do Concílio Vaticano II.
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Bento XVI agradeceu às autoridades britânicas e à comunidade católica pelos esforços realizados para a realização da viagem, à qual se opõem alguns grupos laicos e religiosos, que lhe acusam de ultraconservador e de ocultar os casos de abusos sexuais de clérigos contra menores, muitos deles ocorridos no Reino Unido e, sobretudo, na vizinha Irlanda.
O porta-voz vaticano, Federico Lombardi, afirmou na apresentação da viagem que não se descarta que o pontífice se reúna com vítimas desses abusos, na mesma linha que já seguiu durante suas viagens aos EUA, Austrália e recentemente em Malta.
Em relação aos protestos, o reverendo protestante irlandês Ian Pasley anunciou que liderará uma junta de aproximadamente 50 pessoas para denunciar a atuação da Igreja nos casos de pedofilia, “um problema”, disse, no qual o papa “não quer entrar ou abordar”.
Outros manifestantes pedirão a detenção do pontífice por considerá-lo “culpado” dos casos de pedofilia, enquanto outros anunciaram manifestações contra o “conservadorismo” papal em temas como o aborto, a união homossexual, a ordenação de mulheres sacerdotes, a pesquisa com células-tronco e o uso do preservativo.
Lombardi minimizou e disse que o papa viaja ao Reino Unido para oferecer a face de uma “Igreja amiga”, que não quer impor nada a ninguém, e que por isso o Vaticano considera a hostilidade em direção a a Bento XVI como minoritária e não está excessivamente preocupado com essas manifestações, que considera legítimas.
O motivo central da visita a este país, no qual os católicos formam uma minoria de apenas 8,87%, é a beatificação do cardeal Newman, que na opinião do papa viveu uma vida de sacerdócio exemplar e através de seus escritos fez uma contribuição fundamental à Igreja e à sociedade.
A beatificação acontece quase um ano depois de o Vaticano anunciar sua disposição de acolher todos os anglicanos que desejarem voltar ao cotolicismo, e aprovar uma constituição apostólica que prevê, entre outras, a ordenação de clérigos anglicanos já casados como sacerdotes católicos.
Milhares de anglicanos tradicionalistas, contrários às medidas muitos aberturistas da Comunhão Anglicana, como a ordenação de mulheres e de homossexuais como bispos, já anunciaram seu retorno a Roma.
Muitos dos 70 milhões de anglicanos consideram a abertura do Vaticano uma espécie de anexação a Roma e a criticaram.
Lombardi disse que a Santa Sé espera que esta visita permita “apresentar o serviço da fé cristã e da Igreja Católica a uma sociedade muito desenvolvida mas também muito secularizada, como a do Reino Unido”.
As autoridades locais pediram aos fiéis uma contribuição econômica que vai de 6 a 30 euros para participar dos atos papais, o que levantou duras críticas e levou o Vaticano a precisar que a Santa Sé não tem nada a ver e que jamais cobra para alguém assistir a uma cerimônia.
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